Um olhar marcante... 4

Aslan...

Faz uma semana que a Ava está hospitalizada, o corpo dela está em coma, fiz alguns exames nela e não há nada que possa explicar o motivo dela ter entrado nesse estado.

Todos os dias o irmão dela vem aqui, conversa com ela, traz uma margarida e deixa em cima da mesa do quarto, pela tarde, uma das amigas dela vem, traz as meninas que contam como foi o dia na escola, e fazem algumas trancinhas no cabelo dela.

O outro homem que estava com as amigas e o irmão, não veio mais aqui, sei que é o namorado dela, descobri isso no dia do acidente, e confesso que fiquei um pouco ressentido, mas... O infeliz não pisou mais os pés aqui.

Não tem nenhuma das amigas dela dormindo aqui, ou o irmão, por isso... Eu sempre venho ficar no quarto dela, no intervalo de plantão, principalmente nos horários mais tardes da noite, quando não tem muito movimento no hospital.

Hoje é mais um desses dias, entro e depois de verificar os aparelhos dela, me sento ao seu lado, seguro a sua mão e começo me lembrar da noite que nos conhecemos...

Ela estava tão linda naquela roupa... Mas o que mais me chamou a atenção, foi o olhar. Tão marcante... Os lábios tão definidos. Meus olhos ficaram presos nos dela, eu até tentei desviar, mas não consegui.

Ainda bem que os meninos me fizeram aquela aposta... Lembro bem das palavras deles...

Flashback...

— Qual foi Asl? Vai ficar comendo ela com os olhos a noite toda? Chega na gata, pow.

— Não dá... Ela tá com as amigas, e dá pra ver que ela quer curtir só com elas, não quer um homem lá.

— Mas é um maricas mesmo... Vamos fazer uma aposta então.

Olho para os meus três amigos idiotas, Luige, Aidan e Guto, nego com a cabeça e peço um whisky ao barman, quando ele traz para mim, vejo a moça do olhar misterioso na pista, dançando pra caralho...

O seu corpo se movimenta do jeito certo, de forma sincronizada com as batidas da música que está tocando na boate, as suas amigas começam a dançar junto dela, ambas sorridentes... E poxa... Que sorriso lindo!

Ouço a risada dos meus amigos, desvio o olhar da pista e olho para eles já fumaçando de ódio. Nunca gostei de apostas, muito menos das brincadeirinhas que eles sempre ficavam me tentando a participar.

Essa é a primeira festa, em muito tempo, que me permito participar, porque estou focado em finalizar a minha residência como cirurgião, faltam apenas algumas semanas, e só para aliviar o estresse e a tensão que o hospital e todas as provas estão colocando em mim... Aceitei beber com esses três patetas.

— O que os três patetas estão pensando, hein?

— Eu estou pensando que vou ganhar um carrinho novo... — Guto, apaixonado por carros, fala.

— Vai sonhando, quem vai ganhar sou eu — Aidan já começa se engrandecer.

— Nem vem. Sou eu, porquê... Pelo que eu tô vendo, nosso garanhão aqui vai correr até a garota em três, dois...

Nem espero ele terminar a contagem, avanço até a mesa onde a moça dos olhos penetrantes está sentada, percebo o efeito que causo nela a cada passo que dou, a cada centímetro que diminui entre eu e ela, e quando a chamo para dançar...

Piii Piii

Flashback off...

Sou tirado das minhas memórias com o bipe do monitor, o aperto firme da Ava... E a esperança que ela acorde. Nem acredito que ela está acordando, justo quando eu estava pensando na noite que nos conhecemos.

Depois de bastante luta, ela consegue abrir os olhos, fico de coração partido quando não lembra de nada, nem mesmo o próprio nome. Depois que aviso ao Asher que ela acordou, volto para o quarto e conto parte de quem ela é, não falei ao Ash que ela não está lembrando de nada, prefiro falar pessoalmente.

Assim que contei tudo a ela, ela apagou, reação completamente normal quando recebe alguma notícia forte depois de um trauma. Aplico um medicamento nela, deixo um beijo em seus cabelos, e saio do quarto.

Vou até a recepção e logo vejo o Ash chegar com o cabelo desgrenhado, de chinelos, certeza que trocou só de roupa, porque a cara é de quem estava dormindo.

— Cadê ela?

— Ela dormiu.

— Como assim?

— Vamos a minha sala...

Ele me acompanha e assim que entramos no meu escritório, peço que ele sente.

— Olha, a sua irmã... Infelizmente acordou com uma perca grave de memória... Não sabemos o motivo ainda, e não tivemos tempo de fazer nenhum exame que esclareça isso, mas amanhã cedo iremos fazer uma ressonância o mais rápido que conseguirmos, para verificar se o cérebro dela está com algum dano.

— Como assim perca grave? Ela não lembra do acidente?

— Ela não lembra de nada, Asher... Nem mesmo do próprio nome.

Ele levanta num pulo, completamente afetado com o que eu falei, caminha de um lado a outro da sala, puxando os cabelos, põe as mãos na nuca e para por uns segundos.

— O que eu posso fazer para ajudar? Ela é tudo que eu tenho... Ela e as meninas...

— Vocês são irmãos. Então... Você deve conhecer ela melhor do que ninguém, você é uma das pessoas mais indicadas a ajudar ela a lembrar de tudo, se assim ela quiser... Mas... É importante saber de uma coisa, não podemos forçar ela a lembrar de nada enquanto não soubermos o que causou tudo isso, ok?

— Entendo, entendo... Meu Deus... Ela não lembra das filhas...

— Quer ir ver ela?

— Cazzo! É claro que quero.

Levo ele até o quarto da irmã, e assim que entramos, o Ash corre até a irmã, pega em sua mão, ela abre os olhos, mas a sua expressão revela que não lembra de nada, nem mesmo do irmão.

— Lembra que eu falei sobre o seu irmão?

Ela olha em minha direção, e imediatamente a sua expressão relaxa, ver ela assim, tão vulnerável... Está me matando.

— Ele?

— Sou sim, Ava... Sou eu... Deus... Que susto você me deu...

Ela sorri para ele, e ouço sussurrar um "desculpe". Saio de fininho do quarto, e me encosto na parede. Essa situação toda está muito difícil de relevar... Tanto que sonhei em reencontrar a Ava, e justo quando consigo... Tudo isso acontece.

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