capítulo 1 A história da Paloma

Quando a Paloma completou quinze anos, o seu pai faleceu, e a sua mãe que já possuía uma saúde frágil entrou em depressão e nunca mais se recuperou. Seus dois irmãos menores passaram a ser sua responsabilidade desde então. A pensão deixada pelo pai não supria as despesas da família, então, Paloma foi trabalhar a noite numa casa de show que a aceitou apesar de ser menor de idade para trabalhar a como ajudante na cozinha e ao completar a maioridade passou a ser garçonete.

O dono da casa de show viu chegar uma menina tímida, trabalhadora que aos poucos foi se transformando numa bela mulher, inacessível para os homens que buscavam uma aventura, sem amanhã. Servia as mesas sempre com um sorriso gentil para os clientes mas não permitia que a tocassem, sequer para um aperto de mão.

Na convivência com os colegas de trabalho era sempre generosa, amiga, sempre disposta a ajudar.

- Paloma, tem um cara na mesa sete que não tira os olhos de você! - comentou a amiga Laura.

- obrigado pelo aviso, passarei bem longe daquela mesa! - Respondeu sorrindo. Era sempre assim, quando percebia algum cliente interessado evitava atender aquela mesa para evitar conversas desnecessárias.

Quando terminava seu turno, pegava sua mochila, e saia pelos fundos caminhando rapidamente até o bicicletario onde pegava sua bicicleta e corria para casa afim de cuidar da mãe e dos irmãos.

Como sempre ao chegar em casa corria para o quarto da mãe para ver se ela estava bem e conversar um pouco tentando animá-la contando sobre o seu trabalho. As vezes a mãe interagia e a conversa fluía agradável até mesmo com sorrisos.

Então ela preparava um lanche para as duas e apesar do adiantado da hora conversavam até o sono chegar. No quarto que ela dividia com os irmãos, observava o sono tranquilo deles e fazia uma oração antes de dormir.

As vezes sentia falta de alguém a quem amar como todas as moças da sua idade, mas, se recriminava pelo que pensava ser egoísmo, afinal, precisava manter o foco na família e no seu sonho. Estudava durante a tarde quando os irmãos estavam na escola e a mãe descansava em frente a TV, absorta em pensamentos que só ela sabia.

Aquela tarde enquanto estudava, seu pensamento voou e ela se viu formada, advogada, oferecendo tudo de bom para sua família. A vida difícil ficando apenas na Lembrança para nunca esquecer as suas raízes. Como seria esse futuro tão sonhado? sorriu, espreguicou-se, e foi preparar a mochila com seu uniforme de trabalho, depois preparou o lanche da tarde e aguardou a chegada dos irmãos. Todos lancharam juntos e ela pediu a mãe para verificar os cadernos dos irmãos antes de sair.

- Mãe, esses dois vivem tentando passar a perna na gente. Verifica se não tem cartinha da escola e depois me fala.

A caminho do trabalho, pedalando tranquila pela ciclovia teve a sua atenção despertada para um carro que parecia segui-la. Ora ultrapassava a sua byke, ora deixava ela se aproximar e seguia lado a lado. Paloma sentiu o coração saltar pela boca. Pela primeira vez sentiu medo de ser atacada por um desconhecido. Quando o carro adiantou para não atrapalhar o trânsito ela aproveitou e entrou numa rua e seguiu por um caminho mais longo até o trabalho.

- Quem seria aquele sujeito? Porquê a estava seguindo? - perguntou-se.

Enquanto colocava o uniforme confidenciou seu temor com a Laura, inclusive o receio de voltar para casa na madrugada só.

- Paloma, hoje se não tiver cliente para depois do expediente te acompanho até sua casa com o meu xicote pronto para entrar em ação! - brincou a amiga.

Laura era uma garota de programa que também trabalhava como garçonete, mas, protegia a Paloma desde que a viu chegar muito menina e cobiçada pelos marmanjos. Sentia que precisava cuidar dessa menina sonhadora para que não tivesse o mesmo destino que ela.

- Obrigado amiga, tomara que hoje seja seu dia de folga após o nosso expediente! - devolveu a brincadeira.

Então durante o expediente a amiga chamou novamente a sua atenção para o mesmo cliente da noite anterior que a devorava com os olhos. Imediatamente Paloma pensou se não seria esse sujeito que a perseguira no seu trajeto aquela tarde. Tentaria ignorar os olhares dele e faria o seu trabalho como sempre até o último cliente sair.

- Laura vai mesmo me acompanhar? - indagou já pronta para voltar para casa.

- Amiga, tenho um cliente fixo para essa noite, mas vou chamar um taxi para te deixar em casa. Não se preocupe, eu pago. - Disse a outra apontando um homem bem interessante que aguardava a amiga. Esse homem vinha sempre em duas alternados e a Laura o aguardava ansiosa. Segundo ela esse era um gostoso que sabia levar qualquer mulher as estrelas!

Paloma ficou no interior da casa de show até o táxi chegar, então entrou rapidamente e passou o endereço.

Entrou em casa ofegante, teve a sensação de que o táxi havia sido seguido pelo tal sujeito.

- Que houve filha? Está nervosa, aconteceu alguma coisa?- indagou a mãe.

- Não sei explicar, mas tive a sensação de estar sendo seguida e me apavorei.

Uma semana depois, ela continuava voltando de táxi para casa e na ida pegava um ônibus, mas, esse custo não fazia parte do seu orçamento.

Então ela passou a buscar aqueles olhos que a seguiam durante todo o seu expediente e uma noite percebeu que ele não apareceu, estranhamente sentiu falta e alívio a um só tempo.

Durante vários dias ela o buscou entre os clientes sem êxito. Entendeu que ele desistira dela e da frequência a casa de show.

Então percebeu que sentia falta do tal sujeito sem nunca ter trocado nenhuma palavra com ele.

- Laura, lembra daquele homem que me seguia com os olhos e sentava sempre a mesma mesa? Ele sumiu, nunca mais voltou!

- Sabe que eu nem havia percebido? - Debochou a amiga. - Você fugiu tanto dele que coitado desistiu! Ah! Era um homem muito interessante, bonito, beleza máscula, corpo definido, alto, elegante, hum, agora alguém já pegou!

- Que bom, assim conseguiu uma ocupação e me deixou em paz! - disse séria.

- Meninas a casa já está funcionando e o salão está cheio! - Reclamou o dono da casa.

- Estamos saindo agora! - responderam e saíram sorridentes.

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