O relógio marcava 14h30. Celma havia saído mais cedo do trabalho devido à situação difícil que estava vivendo em casa. Nos últimos dias, ela tem deixado o escritório mais cedo, preocupada com Hugo, que já estava há três dias sem ir ao trabalho. Isso a inquietava, pois eles tinham metas estabelecidas e estavam juntando dinheiro para que Hugo montasse seu próprio restaurante.
Celma desceu do ônibus e começou a caminhar de volta para casa. Pelo caminho, encontrou a vizinha Marcela e trocou algumas palavras breves.
— Boa tarde, tia Marcela — disse Celma, tentando parecer animada.
— Boa tarde, Celma! Como vai, querida? — respondeu Marcela, com um sorriso caloroso.
— Está tudo bem, e com a senhora? — Celma forçou um sorriso.
— Vou bem, obrigada. Qualquer coisa, estou por aqui, viu? — disse Marcela, com um olhar de preocupação que Celma tentou ignorar.
Celma continuou seu caminho, acenando para alguns amigos da vizinhança. Entrou em uma loja e comprou alguns legumes.
— Boa tarde, senhorita. Como vai? — perguntou o atendente, um jovem simpático.
— Boa tarde. Vou bem, obrigada. E você? — respondeu Celma, tentando ser cortês.
— Tudo certo. É só isso hoje? — perguntou ele, enquanto registrava a compra.
— Sim, só esses legumes mesmo — disse Celma, pegando as sacolas.
— Tenha um bom dia — desejou o atendente, com um sorriso.
— Obrigada, igualmente — respondeu Celma, saindo da loja.
Ao sentir o cheiro de pão fresco, Celma se lembrou de que Hugo gostava de comer pão quente com margarina ou queijo. Entrou na padaria e comprou pão.
— Olá, Celma! — saudou o padeiro, um homem de meia-idade com um bigode grosso.
— Olá, senhor João. Hoje o pão está com um cheiro maravilhoso — disse ela, tentando mostrar entusiasmo.
— Sempre fazemos com muito carinho. Vai querer quantos? — perguntou ele.
— Dois, por favor — respondeu Celma, enquanto ele embalava os pães.
— Aqui está. Aproveite — disse o padeiro, entregando os pães.
— Obrigada — disse Celma, sorrindo.
Na rua, carregando as sacolas, Celma caminhava com a cabeça cheia de pensamentos. Quem olhava para ela não imaginava a luta interior que travava em seu casamento. Quando chegou à varanda de casa, ouviu o som da televisão. Abrindo a porta, entrou e a fechou atrás de si.
Hugo estava na sala de estar, sentado no sofá com uma garrafa de uísque quase vazia ao lado. A televisão estava ligada, mas ele não prestava atenção. Seus pensamentos estavam distantes, presos no turbilhão de emoções que sentia.
— Boa tarde, Hugo! — saudou Celma, tentando ser amável.
Hugo respondeu baixo, sem entusiasmo.
— Boa tarde, Celma.
Celma dirigiu-se até a cozinha, colocou os legumes no freezer e pendurou o pão. Retirou dois pães da sacola e preparou-os, aproveitando que ainda estavam quentes. Passou margarina em um e queijo no outro, colocando-os em um prato. Levou até a sala.
— Hugo, trouxe pão — disse ela, entregando o prato.
Hugo recebeu o prato e colocou na mesa sem ao menos agradecer.
— Aproveita, está quente do jeito que você gosta — disse Celma, pegando a sua pasta e caminhando para o quarto. Enquanto trocava de roupa, murmurava: — Aja paciência, Jesus. Dá-me paciência, Senhor!
Celma voltou para a sala, hesitante. O olhar dela era cheio de preocupação e medo.
— Hugo, podemos conversar? — perguntou, a voz baixa.
Ele olhou para ela, os olhos vermelhos de tanto beber e chorar.
— O que você quer, Celma? — respondeu, a voz arrastada pelo álcool.
— Quero entender o que está acontecendo com vocÊ. Com a gente — disse ela, aproximando-se lentamente.
Hugo riu amargamente, um som que fez Celma tremer.
— O que está acontecendo? Você realmente quer saber? — perguntou, levantando-se do sofá com um movimento brusco. — Eu me sinto traído, humilhado! Como você acha que eu deveria me sentir?
Celma deu um passo para trás, o medo crescendo dentro dela.
— Eu sei que você está magoado, mas precisamos encontrar uma maneira de superar isso — disse ela, tentando manter a calma.
Hugo avançou para ela, os olhos cheios de fúria.
— Superar? Como podemos superar isso, Celma? — gritou, agarrando-a pelos ombros. — Você me traiu! Se entregou a outro homem!
Celma tentou se soltar, mas a força dele era esmagadora.
— Hugo, por favor, me solta! — implorou, a voz tremendo de medo.
Ele a soltou abruptamente, fazendo-a cambalear para trás.
— Não sei se consigo fazer isso, Celma. Não sei se consigo perdoar você — disse ele, a voz baixa e carregada de dor.
Celma olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas.
— Eu também não sei se consigo me perdoar, Hugo. Mas quero tentar, por nós — respondeu, a voz quebrando de emoção.
Hugo ficou em silêncio por um momento, a raiva e a dor travando uma batalha dentro dele. Finalmente, ele soltou um suspiro profundo, sentando-se novamente no sofá.
— Tá bom. Vamos tentar. Mas saiba que vai ser difícil. Muito difícil — disse ele, relutantemente.
Celma assentiu, sabendo que a batalha estava apenas começando. Os dias que se seguiriam seriam uma prova de fogo para ambos, um teste de sua capacidade de perdoar e de se curar.
— Hugo, você sabe que te amo, né? — disse Celma, tentando se aproximar dele novamente.
— Não sei, Celma. Depois de tudo isso, eu não sei mais nada — respondeu ele, com a voz embargada.
Celma sentiu o peso das palavras dele. A casa, que antes era um lar acolhedor, agora parecia um campo de batalha.
— Eu vou preparar o jantar. Você quer algo especial? — perguntou ela, tentando quebrar o gelo.
— Faça o que quiser — respondeu Hugo, desligando a televisão e se levantando.
Celma foi para a cozinha, tentando se concentrar no preparo do jantar. O som do corte dos legumes era o único que preenchia o silêncio pesado da casa. Enquanto isso, Hugo se dirigiu para o quarto e deitou-se na cama, encarando o teto.
Celma sentiu o celular vibrar no bolso. Era uma mensagem de Ana, sua prima e confidente.
📱Ana: Oi, prima! Como você está? Sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, né? Quer vir aqui em casa hoje à noite?"
Celma olhou para o celular, hesitando. A ideia de sair de casa e escapar daquela atmosfera pesada era tentadora, mas sabia que deixar Hugo sozinho poderia piorar a situação.
📲 Celma: "Oi, Ana. Estou tentando segurar as pontas aqui em casa. Talvez outro dia. Obrigada por se preocupar."
📱Ana: "Entendo, Celma. Força aí. Qualquer coisa, me chama. Amo você!"
📲 Celma: "Amo você também."
Ela guardou o celular, sentindo-se um pouco mais forte após a mensagem de apoio de Ana. Terminou de preparar o frango e colocou a mesa para o jantar. Foi até o quarto chamar Hugo.
— Hugo, o jantar está pronto. Vamos comer? — disse ela, da porta.
Hugo se levantou lentamente, sem dizer uma palavra, e seguiu Celma até a cozinha. Sentaram-se à mesa, o silêncio entre eles mais uma vez reinando.
— Eu fiz peixe com legumes. Espero que goste — disse Celma, tentando iniciar uma conversa.
Hugo apenas assentiu, começando a comer em silêncio. Celma observava cada movimento dele, tentando decifrar o que se passava em sua mente.
— Hugo, eu sei que nada do que eu disser vai mudar o que aconteceu, mas eu realmente quero tentar consertar as coisas — disse ela, a voz embargada.
— Consertar, Celma? Você acha que isso é uma máquina quebrada que pode ser consertada? — respondeu ele, com um olhar vazio.
— Não é isso que eu quis dizer. Só... só quero que tentemos. Por nós dois — insistiu ela.
— Por nós dois? Ou por você, para aliviar sua culpa? — perguntou Hugo, os olhos perfurando os de Celma.
— Eu sei que errei, mas eu te amo, Hugo. E quero consertar isso, juntos — disse ela, com lágrimas nos olhos.
Hugo empurrou o prato para longe e se levantou.
— Não sei se consigo, Celma. Não sei se consigo olhar para você sem lembrar do que você fez — disse ele, antes de sair da cozinha e ir para a varanda.
Celma ficou ali, sozinha, as lágrimas finalmente escorrendo pelo rosto. Sabia que o caminho para a reconciliação seria longo e árduo, mas estava disposta a tentar, mesmo que Hugo ainda estivesse cheio de dúvidas e dor.
O relógio na parede continuava a marcar o tempo, implacável, enquanto Hugo e Celma permaneciam ali, dois estranhos tentando encontrar um caminho de volta um para o outro.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 21
Comments
Anonymous
Ele não traia ela também??? Não entendi.
2024-07-30
2