O relógio na parede marcava dez da noite. O som da chuva caindo lá fora ecoava pela sala, misturando-se ao tique-taque constante. Hugo estava sentado no sofá, com a cabeça apoiada nas mãos, o olhar perdido no vazio. Celma estava em pé, próxima à janela, observando as gotas de água deslizando pelo vidro. O silêncio entre eles era cortante, quase palpável.
— Hugo, precisamos conversar — disse Celma, com a voz trêmula.
Ele levantou a cabeça lentamente, seus olhos cheios de mágoa encontrando os dela.
— Conversar sobre o quê, Celma? Sobre como você destruiu nosso casamento? — respondeu, com a voz carregada de ressentimento.
Celma desviou o olhar, sentindo o peso das palavras dele. Ela sabia que o que havia feito era imperdoável, mas também sabia que Hugo não estava livre de culpas.
— Eu sei que errei, mas você também não é inocente — murmurou, tentando manter a calma.
Hugo levantou-se abruptamente, a raiva fervendo dentro dele. O movimento brusco fez a mesa de centro tremer, os objetos sobre ela balançando.
— Inocente? Você está brincando comigo, Celma? — gritou, gesticulando violentamente. — Eu te traí, sim, mas você... você se entregou a outro homem! Como pode dizer isso?
Celma deu um passo para trás, assustada com a intensidade da raiva dele. O coração batia acelerado, a respiração rápida e superficial.
— Não foi assim tão simples, Hugo! Eu me sentia sozinha, abandonada! Você estava sempre fora, sempre com outras mulheres! — rebateu, as lágrimas começando a rolar pelo rosto.
Hugo riu amargamente, a expressão no rosto dele se tornando sombria.
— E isso justifica? Justifica trair o próprio marido? — perguntou, aproximando-se dela.
Celma sentiu o cheiro do álcool no hálito dele. Ele tinha bebido, como sempre fazia quando a situação ficava insuportável. O cheiro forte e amargo a enojava.
— Não, não justifica. Mas eu estava desesperada, Hugo. Eu só queria que você me notasse de novo, que me amasse como antes — confessou, a voz quebrando de emoção.
Hugo ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nos dela. Ele podia ver a dor e a sinceridade no olhar de Celma, mas a raiva dentro dele era maior.
— Isso não muda nada. Nada do que você diga vai apagar o fato de que você esteve com outro homem — disse finalmente, a voz baixa e perigosa.
Celma sentiu o frio na espinha. O ar na sala parecia mais pesado, carregado de tensão e ressentimento. O som da chuva lá fora era agora um ruído distante, quase irrelevante.
— Eu sei, Hugo. Eu sei que nada vai mudar o que aconteceu. Mas, por favor, vamos tentar consertar isso. Vamos dar uma chance ao nosso casamento — implorou, com os olhos cheios de esperança.
Hugo olhou para ela por um longo tempo, os pensamentos conflitantes refletidos em seu rosto. Finalmente, ele soltou um suspiro profundo, mas a raiva não havia desaparecido por completo.
— Não, Celma. Eu não posso fazer isso agora. Preciso de tempo. Preciso pensar — disse, com a voz trêmula de emoção e exaustão.
Depois de um tempo em silêncio, Hugo levantou-se, dirigindo-se até a porta de saída. Fechando a porta atrás de si, Hugo caminhou até o outro lado da estrada, onde ficou sentado por horas, não se importando com a chuva que encharcava suas roupas e corpo.
Celma caminhou até a janela, olhando para ele ao fundo. A visão de Hugo sob a chuva, solitário e perdido, fez seu coração doer ainda mais. Com um suspiro profundo, Celma caminhou até o quarto, trocando de roupa E deitando-se na cama. Os pensamentos sobre a noite e suas palavras rodopiavam em sua mente, impedindo-a de encontrar qualquer descanso.
Não tardou e seu celular tocou. Era Ana, sua prima e amiga de longa data.
— Alô! — Atendeu Celma, sua voz evidentemente embargada pelo choro.
— Oi! Você está chorando. O que houve? — perguntou Ana, preocupada.
Celma contou a Ana que havia confessado tudo a Hugo, mas Ana a repreendeu rapidamente.
— Por que você contou isso a ele, Celma? Você está maluca! Foi um deslize que você teve. Não precisava contar! — exclamou Ana.
— Ana, você não entende. As coisas aqui em casa estão insuportáveis. Eu não conseguia olhar para ele depois daquela noite. Ele foi meu primeiro namorado, meu marido. Nunca escondi nada dele — explicou Celma, a voz carregada de angústia.
— Eu entendo, mas ainda acho que não foi uma boa ideia. Como ele reagiu? — perguntou Ana, mais calma.
— Ele ficou devastado, Ana. Eu nunca vi Hugo tão furioso e magoado ao mesmo tempo. — Celma respondeu, sua voz tremendo.
— Celma, eu ainda acho que você deveria ter deixado isso de lado. Às vezes, guardar segredos é a melhor forma de proteger quem amamos. — disse Ana, tentando consolar a prima.
As duas ficaram horas conversando. Celma levantou-se e caminhou até a janela, olhando para fora. Hugo ainda estava ali, no outro lado da estrada, sentado sob a chuva, imóvel.
— Te ligo depois, Ana — disse Celma, sua voz carregada de preocupação.
— Ei, o que está acontecendo? Não desligue ainda... — disse Ana, mas Celma já havia desligado o celular.
Celma caminhou até a sala, pegou um guarda-chuva e abriu a porta, caminhando até o outro lado da estrada. A chuva caía pesadamente, mas ela não se importava. Chegando ao lado de Hugo, ela se sentou sem dizer uma palavra. Os dois ficaram ali em silêncio, apenas ouvindo o som da chuva.
O relógio continuava a marcar o tempo, implacável, enquanto Hugo e Celma permaneciam ali, dois estranhos tentando encontrar um caminho de volta um para o outro.
Eram dez da noite, e a noite parecia interminável.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 21
Comments
Sousa
Porque ele tá com raiva, chifre trocado não dói 🤭🤭
2024-12-02
1
Maria Maura
Engraçado o chifre só dói nele? Ele quando a traíra pensou como ela se sentia ? traição não tem justificativa.So ressaltei como o ego dele ficou ferido.
2024-07-31
4