Celma quebrou o silêncio, a voz quase inaudível sobre o som da chuva intensa.
— Hugo, já estás aqui há muito tempo. Essa chuva vai te fazer mal, você pode pegar um resfriado.
Hugo permaneceu calado, olhando para o horizonte, as gotas de chuva misturando-se às lágrimas invisíveis em seu rosto. A chuva caía pesadamente, e trovões começavam a soar ao longe, aumentando a tensão do momento. Celma se assustou com uma trovoada, um raio iluminando a rua toda com um clarão enorme.
— Por favor, Hugo, vamos entrar — suplicava Celma, desesperada.
Ele olhou para ela com um olhar frio, seu coração endurecido pelo ressentimento.
— Então entre você — disse ele, seco.
Celma tentou segurar a mão dele, mas Hugo a puxou bruscamente, afastando-se dela.
— Eu quero que você entre comigo — disse ela, enquanto suas lágrimas se misturavam com as gotas de chuva.
Hugo permaneceu em silêncio por um momento, a dor visível em seu rosto. Finalmente, ele cedeu, a voz baixa e resignada.
— Vai na frente. Estou indo — murmurou.
Celma continuava tentando a todo custo convencer Hugo a entrar, e não demorou até que outra trovoada soasse, fazendo-a pular de susto. Finalmente, ela conseguiu convencê-lo a se levantar. Os dois caminharam juntos, atravessando a estrada até a casa deles. A chuva parecia mais forte agora, cada gota um lembrete da tempestade emocional que enfrentavam.
Ao entrarem, Celma foi diretamente ao banheiro e regressou rapidamente com toalhas secas, entregando uma a Hugo. Ele pegou a toalha em silêncio, sua expressão impenetrável. Celma foi até a cozinha, pegou uma chaleira e encheu-a com água, colocando-a na cafeteira elétrica. Ela sabia que Hugo gostava de chá com gengibre e decidiu preparar uma xícara para ele.
Enquanto a água esquentava, Celma olhava para a sala onde Hugo estava deitado no sofá, coberto até a cabeça. O silêncio entre eles era pesado, carregado de emoções não ditas e mágoas profundas. Finalmente, a água atingiu a fervura, e Celma serviu o chá, adicionando gengibre como ele gostava.
— Tens aqui o chá — disse ela, a voz trêmula e abafada.
Hugo levantou-se, pegou a xícara sem nem mesmo agradecer, e voltou a se deitar, enrolando-se novamente na coberta. Celma ficou ali, parada, observando-o, sentindo-se impotente e devastada.
Com um suspiro profundo, ela caminhou até o quarto, tirou a roupa molhada e vestiu-se com algo seco. Sentou-se na cama e pegou o celular, decidida a ligar o alarme para o dia seguinte. Foi quando viu uma mensagem de Ana. O relógio marcava uma da manhã.
Celma abriu a mensagem, e o texto preocupado de Ana a fez suspirar.
— "Celma, você está bem? Estou preocupada. Me liga quando puder."
Ela começou a digitar uma resposta, mas parou. O que poderia dizer? Que sua vida estava desmoronando e que o homem que amava não conseguia mais olhar para ela sem ressentimento? Celma suspirou profundamente, deixando o celular de lado e fechando os olhos por um momento. Ela se sentia exausta, tanto física quanto emocionalmente.
Depois de alguns minutos, ela se levantou e foi até a janela. A chuva continuava a cair pesadamente, e o som era quase hipnótico. O silêncio na casa era perturbador, apenas interrompido pelo ocasional gotejar da água das roupas molhadas de Hugo no chão.
Celma voltou para a sala, encontrando Hugo ainda deitado no sofá. A expressão dele era de puro desespero, um homem quebrado pelas circunstâncias. Ela sentou-se na poltrona oposta, observando-o em silêncio. O que havia acontecido com o amor deles? Como haviam chegado a esse ponto?
A mente de Celma vagava, lembrando-se dos dias felizes que compartilharam, das risadas e dos sonhos. Tudo parecia tão distante agora, quase como se tivesse sido parte de outra vida. A culpa corroía seu coração, mas ela sabia que não era a única culpada. Ambos haviam contribuído para a queda do relacionamento, e agora estavam presos em um ciclo de dor e arrependimento.
Depois de um tempo, Hugo finalmente quebrou o silêncio.
— Celma... — começou ele, a voz rouca.
Ela olhou para ele, esperançosa.
— O que houve conosco? — perguntou, o olhar perdido.
Celma não tinha uma resposta. Tudo o que podia fazer era chorar silenciosamente, sentindo o peso da realidade esmagar suas esperanças.
Hugo suspirou, fechando os olhos por um momento.
— Não sei se podemos consertar isso — murmurou ele, mais para si mesmo do que para ela.
Celma sentiu uma pontada de dor em seu peito. As palavras de Hugo ecoavam em sua mente, cada uma como um golpe. Ela sabia que ele estava certo, mas ainda assim, não conseguia desistir.
— Eu sei que não será fácil, Hugo. Mas estou disposta a tentar. Por favor, me dê uma chance — disse ela, a voz carregada de emoção.
Hugo ficou em silêncio, e Celma percebeu que talvez essa fosse a resposta dele. A falta de resposta era uma resposta em si. Ela se levantou, pegou o celular novamente e caminhou de volta para o quarto, sentindo-se mais sozinha do que nunca.
Sentada na cama, ela finalmente respondeu à mensagem de Ana.
— "Não estou bem, Ana. As coisas estão complicadas aqui. Preciso de um tempo para pensar. Obrigada por se preocupar."
Celma enviou a mensagem e deitou-se, olhando para o teto. A chuva continuava a bater na janela, um som constante que refletia a tempestade dentro dela. Ela fechou os olhos, tentando encontrar algum alívio na escuridão, mas o sono parecia impossível.
O relógio continuava a marcar o tempo, implacável. Era uma da manhã, e a noite parecia interminável.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Celia Regina
adorando o enredo da história
2024-07-30
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