•Capítulo 4

...MADISON:...

No fim da minha aula, um aluno engraçadinho vem até mim e me solta uma cantada. Era só o que me faltava. Sempre tem um desses; um que mais parece um pré-adolescente do que um adulto. Tô vendo que, dessa vez, será ele o engraçadinho da turma. Saio da sala e o deixo lá, ainda de pé, com aquele ar convencido. Apesar de já ter visto muita coisa em sala de aula, é a primeira vez que alguém me lança uma cantada desse tipo. É cada coisa…

No fim do dia, volto pra casa. Na maioria das vezes, não tenho tempo de buscar a Alice na escola, então ela vem com o ônibus. Quando chego, ela já está jogada no sofá, assistindo TV, os pés sobre a almofada, o cabelo solto em volta do rosto.

—Olá, filhota! — chamo, com o tom carinhoso de sempre.

—Oii,mamy! — responde, sorrindo sem tirar os olhos da tela.

Vou até ela por trás do sofá, abraço e beijo sua bochecha.

—Como foi na escola?

—Foi ótimo, mãe! Gostei bastante. Só que a gente estuda muito mais do que no ensino fundamental.

—Isso é verdade. O ensino médio é bem mais puxado. Mas você se acostuma. Tá com fome?

—Um pouco!

—Vou fazer um lanche, me acompanha?

—Claro!

Ela se levanta e me segue pra cozinha. Faço dois sanduíches, e nos sentamos frente a frente na bancada.

—E você, mãe? Como foi na universidade?

—Ah, normal, filha. É sempre a mesma coisa, nada de novo como o seu primeiro dia de aula.

—Não aconteceu nada de legal?

—Não. Só dei aulas e mais aulas, como sempre.

—Não sei como você aguenta. Deve ser um saco isso.

—Eu gosto. Por incrível que pareça, não me vejo fazendo outra coisa.

—Se você diz… — ela murmura, rindo e mordendo o sanduíche.

A rotina é simples, mas me conforta. Ver Alice assim, tranquila, faz o dia valer.

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...ADRIAN:...

Quando saio da universidade, vou direto pra casa. O trânsito é pesado, mas minha cabeça tá mais cheia que a avenida. Penso nela: a professora. Madison. O jeito como fala, como anda, o perfume que senti quando passou por mim. Quando chego, meu pai já está em casa; Juliana só volta à noite.

—E aí, cara, como foi? — pergunta meu pai, debruçado na bancada.

—Tranquilo, normal. Gostei bastante de uma das professoras.

—Só de uma?

—É.

—Por quê?

—Ela explica bem.

—E as outras não?

—Essa explica melhor.

Ele ri, balança a cabeça. “Entendi.” Mas se ele soubesse o que “explica bem” quer dizer pra mim…

Subo pro meu quarto e vou direto pro banho. Quando saio, deito na cama com o celular na mão. Pesquiso o nome dela nas redes sociais. Quero saber mais; se é casada, solteira, se posta algo, qualquer coisa. Nunca fiz isso antes, mas essa mulher mexeu comigo.

Procuro e não acho nada. Só lembro do nome que ela escreveu no quadro. Madison... alguma coisa com M. Entro no Google e começo a testar sobrenomes, um por um, me sentindo um idiota adolescente. No quinto, finalmente aparece: Madison Moore. É ela.

Clico. O perfil está aberto. Tem várias fotos; e lá está a confirmação que eu não queria: ela é casada. Nas fotos mais recentes, está ao lado do marido e de uma garota sorridente: a filha. Deve ter uns dezesseis anos agora. A legenda antiga confirma.

Desço mais um pouco. Encontro uma publicação de aniversário, dois anos atrás: “37 anos”. Então hoje deve ter uns 39. Nem parece. Parece mais nova. E linda. Demais.

Fecho o celular, frustrado. Que azar o meu. Justo quando encontro alguém que realmente me chama atenção, ela é casada. Mesmo assim, sei que vai ser difícil não desejá-la. Amanhã, quando entrar naquela sala, vai ser impossível fingir indiferença.

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