•Capítulo 1

...Para quem acredita que a diferença de idade é só um detalhe — principalmente quando o detalhe é o Adrian....

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ALGUNS MESES ATRÁS…

Eu volto pra casa mais cedo, o coração leve do expediente que acabou mais cedo que o previsto. Subo as escadas com a bolsa batendo no quadril e, ao abrir a porta do quarto, a luz da tarde entra como lâmina pela janela. A visão atravessa a minha pele.

Daniel e a Samantha estão no quarto dela. Parados perto da sacada aberta, envolvidos num beijo que não tem pressa, como se o mundo inteiro tivesse sido desligado só para eles. Ele sem camisa; ela, apenas de roupão; e o tecido aberto revela a lingerie por baixo, como uma mentira entregue à janela. Eles se agarram com mãos que já decoraram esse corpo; Daniel quase a engole com a boca.

Fico parada na penumbra do meu próprio quarto, a imagem gravando-se inteira: o perfil do Daniel, a curva do pescoço da Samantha, a luz recortando os contornos. Não sei piscar. Não sei gritar. O mundo vira areia sob meus pés e minhas lágrimas começam a escorrer, uma a uma, quentes, traçando mapas no meu rosto. É como assistir a um pesadelo na primeira fila.

Eles param. O beijo desvanece; trocam palavras baixas; risos que eu não consigo ouvir. Samantha sorri para ele; Daniel a beija na testa. Quando movem os olhos, me encontram. A expressão nos dois é exatamente a minha: congelamento, choque, a boca procurando uma justificativa que não existe.

Sinto um ódio que me invade pelo osso. Limpo o rosto com a lateral da mão, como quem tenta apagar a fumaça. Saio do quarto sem raciocinar e vou até a porta da Samantha. Bato com os nós dos dedos até doer.

— Abre!! Abre essa porta! — grito, dando socos na porta de madeira.

A porta se abre e eles estão ali, em silêncio, as roupas desalinhadas, a respiração ainda ofegante. Não tenho palco para a surpresa: vi tudo com meus olhos. Não há como negar.

Daniel dá um passo à minha frente, as mãos abertas, o rosto pálido.

— Madison…

Antes que termine; dou um tapa na cara dele, seco, com toda a força que o meu corpo ainda encontra.

—Como pôde fazer isso comigo, Daniel?! — As palavras saem em estilhaços. — Não quero ouvir nem uma palavra. Quero que suma da minha vida. Pra já!

Ele permanece mudo, a mandíbula tensa. Samantha está atrás dele, imóvel, o rosto corado, sem resposta.

—E você, Samantha? — eu lanço a pergunta como uma pedra. — Sério? Como você pôde?? Que palhaçada é essa?!

Samantha abre a boca, fecha. Fico olhando para ela, a raiva querendo transformar-se em ação, mas não sou do tipo que parte para a agressão. Não hoje. Não aqui.

—Fica com ele, então — eu digo, e o tom é mais cortante do que qualquer soco. — Ele é seu agora. Comigo ele não fica mais.

Viro de costas e volto para casa. Ouço passos longos atrás de mim; sinto o fôlego dele. Acelero e entro, fecho a porta com força e subo as escadas. Meu corpo treme. Subo dois degraus por vez.

—Madison! — ele chama do fim do corredor. — Madison, espera!

Entro no quarto, giro a chave com mãos trêmulas, tento trancar a porta; mas ele empurra e entra antes que eu consiga fechar. Sinto o ar se tornar vidro entre nós.

—Madison — ele sussurra, as palmas coladas ao corpo, pedindo perdão já em forma de frase pronta. — Olha eu... me desculpe.

Me viro lentamente. Encaro aquele homem que eu escolhi. “Me desculpe?”

—Me desculpe? — repito, e cada sílaba é pedra. — É isso que você me diz, Daniel?

Ele recua meio passo, os olhos procurando um ponto de fuga.

—Há quanto tempo? — eu pergunto, controlando a voz para que não quebre.

—Há quanto tempo o quê? — ele pergunta, ignorância ensaiada.

—Há quanto tempo você fica com ela? Foi a primeira vez?

O silêncio responde antes que ele abra a boca. O olhar dele diz tudo: não. E eu preciso que a boca dele confirme.

—Fala, Daniel! — meu tom corta.

—Não... não foi a primeira vez — ele admite, a voz baixa, derrotada.

Uma lâmina percorre meu peito. Eu queria que fosse mentira. Queria que fosse um deslize isolado. A verdade, porém, é maior e mais traiçoeira: três meses, ele diz depois, e a frase pesa como chumbo.

Três meses. Três meses em que fui cúmplice involuntária da própria humilhação.

As lágrimas voltam. Daniel estende a mão como se pudesse tocar-me e consertar o que foi quebrado.

—Não chega perto — eu falo. — Não chega perto de mim, Daniel!

—Madison, não significou nada, tá? Eu... eu amo você!

A voz dele é um pedido infantil. Sinto um riso amargo na garganta que se transforma em ódio.

— Amor? — cuspo a palavra. — Me ama é o caramba!

—Madison — ele tenta, e o nome sai como súplica.

—Chega! — eu corto. — Você tem meia hora pra pegar o que precisa e sumir da minha casa. Depois eu levo o restante.

—Você não pode fazer isso! — ele protesta.

—Posso e estou fazendo — respondo. — Meia hora. Nem um minuto a mais.

Saio do quarto correndo pelas escadas, sem destino claro, apenas carregada pela urgência de expulsar o ar viciado daquela casa. Ele vem atrás, insistente.

—Madison, por favor, vamos conversar!

—Se você não sair em meia hora, eu chamo a polícia — eu aviso, a voz firme, sem hesitar.

A discussão se arrasta até o som de uma voz adolescente que nos corta como uma lâmina.

—O que está acontecendo aqui?!

Olho para a cozinha. Alice está sentada no balcão ao lado da Bárbara, a cara confusa de quem não deveria presenciar tanto estrondo. Seus olhos, enormes, se enchem de água num segundo.

—Mãe? Pai? — Ela pergunta, já tremendo.

Daniel abre a boca, fecha. Eu respiro, puxo o ar com força, e decido dizer toda a verdade.

—Alice — digo, um pouco hesitante — seu pai me traiu. Ele me trai há três meses com a Samantha, a vizinha.

Os olhos da minha filha estalam em líquido. Bárbara fica boquiaberta, a mão cobrindo a boca. Alice recua; as pernas não aguentam e ela corre para o quarto, seguida pela amiga.

Daniel coloca as mãos na cabeça, o constrangimento físico de quem perdeu qualquer argumento.

—Madison, não precisava disso — ele murmura. — Olha como ela ficou!

—Uma hora ela ia saber — respondo, e sinto a voz falhar. — Antes que ela descubra de outra forma, prefiro que saiba por mim.

Ele respira fundo, dá um passo para trás.

—Tudo bem. Se quer que eu saia, eu vou. — A arrogância dele é agora uma bagagem vazia.

—Anda — eu digo. — E leva suas tralhas.

Ele sobe, silencioso. Fecho os olhos e deixo as lágrimas rolarem de novo, desta vez sem controle. Por que ele fez isso? Por quê?

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Comments

!!Nakysun!!

!!Nakysun!!

É pq tem homens que são gigolo amiga.Que tá com a gente,só por causa do que temos.(💲💵)Bufunfa.É disso que eles gosta.De vida fácil,vida boa.

2025-10-15

0

Elaine Leite

Elaine Leite

já tô gostando muito da história , todas q li até agora são maravilhosas

2025-02-21

2

!!Nakysun!!

!!Nakysun!!

Barbara:valha minha nossa senhoooooraaa.🤣🤣🤣🤣🤣🤣

2025-10-15

0

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Atualizado até capítulo 68

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