Ávila Menezes

O Sr. Rodrigo acabará de acordar,

Entro no quarto, verifico os sinais vitais, informo o paciente que parecia meio atordoado ainda, que faria alguns exames clínicos, e umas perguntas para ele responder.

Ele acena que sim com a cabeça.

Começo o procedimento, aproximo-me do seu rosto, pois precisava verificar como estava o hematoma na cabeça dele, podia jurar que os seus olhos estavam me observando, não sei o que ele estava a pensar, será estar incomodado com o meu toque?

Pelo que dizem dele não era um homem fácil de lidar.

Problema dele estava apenas fazendo o meu trabalho como médica.

Explico como ele chegou aqui , como ocorreu a cirurgia e tudo sobre o seu quadro clínico até o momento.

Termino os procedimentos e informo que vamos pedir mais alguns exames , após olhar-meado vamos saber se ele já pode receber visitas.

Estava a começar estranhar, ele não parava de olhar-me como se estivesse me analisando.

Era como se ele estivesse confuso.

Será que ficou alguma dúvida?

Resolvo deixar para lá, como falei se algo tivesse o incomodando era só ele falar.

Passo a enfermeira chefe os exames que precisam ser feitos e oriento os próximos passos a ser tomando em relação ao paciente.

Peço para servirem um lanche leve para ele. Informo ao enfermeiro Adriano que estava na equipe para ajudá-lo a levantar, e andar um pouco, pois precisávamos evitar trombose.

Me retiro do quarto, e posso sentir que os olhos do paciente estão sob mim , na verdade ele não desviou o olhar em nenhum momento.

Estava na hora do almoço, como eu só tomei um café expresso, a minha barriga ronca, avisando-me que eu precisava me alimentar.

Ligo para Cristina perguntando se ela já almoçou, ela diz que não. Estava finalizando seu último atendimento.

Combinamos de nos encontrar no refeitório.

Tivemos um almoço agradável, tirando a parte que a Cristina não parava de falar no Bonitão como ela o chamava,

Ela ficou eufórica quando eu falei sobre ele não parar de olhar-me.

Ela disse que com certeza ele estava com segundas intenções.

Eu disse que ela estava louca, pois o homem acabara de acordar de uma cirurgia, estava tonto, confuso tentando entender o que estava a acontecer.

Arrependi-me na hora de ter falado com ela sobre isso, esqueci o quanto ela é doida, agora ela não vai me deixar em paz.

Estava a terminar de escovar os dentes quando o Diretor me liga, avisando que os exames de imagem ficaram prontos e que os pais do paciente aguardavam ansiosos na sala de espera para ver o filho.

Sigo em direção a sala de exames, analiso os exames juntamente com o Diretor.

Os resultados eram bons.

Vamos informar a família.

"Com licença Sr. E Sra. Gustaman "

O diretor chama atenção deles que vem de imediato na nossa direção.

" O seu filho acordou faz algumas horas, foi feito mais exames e os resultados graças a Deus estão excelentes."

Ele informa aos pais e pede que eles nos acompanhe até o quarto onde está o Sr. Rodrigo.

Era nítido a preocupação no rosto dos senhores Gustaman, a mulher estava com a aparência de que não dormia a noite e chorou bastante.

Imagino o susto que eles passaram, afinal segundo as notícias eles só tinham ele de filho.

Lembro-me dos meus pais, Deus me livre de acontecer algo parecido comigo ou com um dos meus irmãos, os pais não deveriam passar por esse tipo de sofrimento.

Entramos no quarto e ela vão em direção ao filho, eu e o Dr. Heitor ficamos na entrada da porta, dando um pouco de espaço para eles.

Após alguns minutos, chamo a atenção deles e explico sobre os exames, aviso que ele precisará continuar aqui por mais alguns dias e que a partir de agora ele já pode ficar com acompanhante.

Sinto novamente os seus olhos frio sob mim, desvio o olhar várias vezes com medo de alguém perceber. Juro que eu já estou sem graça.

Nos despedimos deles e saímos da sala.

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