Levantei-me de um pulo, a curiosidade corroendo em minhas pernas fez-me ir até a porta e entreabri-la. Fiquei espiando pela pequena fresta que abri.
A primeira coisa que vi foi uma mulher com cabelos castanhos claros, e olhos de mesma tonalidade. Ela aparentava ter a minha altura, talvez alguns centímetros mais alta. Percebi um braço masculino rodeando sua cintura, e só então estiquei-me mais para ver seu acompanhante.
Congelei no lugar, sentindo todo meu corpo sacudir com tremores. Pânico tomou-me, e levei a mão à boca tentando conter um grito de pavor. Tudo porque ali, abraçado aquela mulher, estava o assassino de meus pais.
Eu podia ser pequena, mas se tinha uma coisa que marcou minha infância, e da qual eu jamais esqueceria, seria a noite em que esse desgraçado tirou toda minha família, e a chance de um futuro melhor.
Mas o que ele estava fazendo aqui? Como Matt o conhecia? Eu tentava ouvir o que eles falavam, mas só pegava palavras soltas que no final não faziam nenhum sentido. Até que ouvi Matt falando sobre a mercadoria, o que me fez entender, que aquele deveria ser o tal chefe do tráfico. Engoli em seco, quando a total compreensão do que aquilo representava para mim num futuro não muito distante, me atingiu.
Senti algo molhar minha mão, e só então percebi que chorava. Quem diria que essa seria a minha sina. Escapei das mãos deste assassino anos atrás, e agora o destino colocava-me novamente em suas mãos. Senti um ódio crescendo em meu peito, e ao ouvir a risada do desgraçado, um nojo irradiou por todo meu corpo.
Tudo que eu queria, era que nada disso estivesse acontecendo e que eu ainda estivesse no apartamento de Vincent, sentindo seus braços me envolverem, e guardar-me como num casulo, onde me sentia realmente segura.
Num ímpeto abri a porta e caminhei decidida até a sala, ficando cara a cara com o crápula. Minha vista totalmente vermelha de ódio, o coração acelerado e enlouquecido, buscando satisfação, que alcançou por meio de um grito estrangulado.
– Assassino! – Minha voz saindo a plenos pulmões, e deixando a todos surpresos e boquiabertos.
Avancei para o lado do covarde que matou meus pais, sendo parada pelos braços de Matt.
– Me solte! – Eu pedia debatendo-me.
Olhei para o homem ao lado de Matthew. Ele sorriu, um sorriso tão gélido, que parecia congelar meus ossos.
– Solte-a Matthew! – Ele falou, fazendo Matt encará-lo, e soltar-me segundos depois.
Assim que me vi livre, levantei o braço na intenção de golpear-lhe, mas fui surpreendida por um braço mais ágil, que socou minha face, fazendo-me gritar de dor, e cair sentada no sofá. Toda minha bochecha esquerda ardia e formigava. Eu podia sentir o gosto amargo do sangue em minha boca.
– É bom ensiná-la a ter modos! – Ele falou para Matt, que parecia congelado me olhando.
Minhas lágrimas agora vinham em torrentes. O ódio e a humilhação rasgavam em meu peito, deixando-me cada vez mais revoltada. Ajeitei-me encarando aquele ser repugnante a minha frente. A mulher que antes estava ao seu lado, agora estava sentada a minha direita, e olhava-me séria.
– Covarde! – Gritei voltando a encará-lo. – Assassino covarde!
– Se eu escutar mais uma palavra... – Ele começou a falar, mas parou quando Matt tapou a minha boca. – Kathie! – Ele falou e logo a mulher o olhou. – Leve-a daqui!
– Eu não vou com você! – Gritei, mas Matt olhou-me tão suplicante que acabei me rendendo e deixe-me ser levada por aquela mulher, que pegou em meu braço com um aperto de aço.
Segui-a até o quarto em que eu estava antes e, quando ela me soltou, atirei-me na cama deixando o choro me tomar. A dor de toda perda que passei durante minha vida tomando meus pensamentos. Meus pais, minhas amigas, Vincent. E só então lembrei. Eu tinha que me acalmar, afinal eu estava grávida, e faria desse filho meu motivo para sobreviver a tudo isso.
– Deixe-me ver isso? – A mulher pediu tentando segurar meu rosto. Afastei-me. – Ei! Eu não vou te machucar! Estou aqui para ajudar, mas garanto que se continuar agindo assim, só irá piorar sua situação. – Respirei fundo acalmando-me. – John é frio e odeia ser contrariado. E o que você fez não o deixou nada feliz. – Ela se aproximou e segurou meu rosto sem que eu esperasse, e nem entendesse de onde ela conseguiu aquilo, ela passou um algodão úmido por cima do ferimento, causando uma leve ardência. – Vamos começar de novo! – Ela falou enquanto descartava o algodão. – Me chamo Kathie, e você? – Seu rosto denunciava um leve sorriso.
– Clarysse, mas pode me chamar de Clary. – Falei fazendo seu sorriso se ampliar.
– Tentarei ajuda-la, mas para isso preciso que confie em mim! – Ela falou fazendo-me arregalar os olhos de incredulidade.
Como eu poderia confiar numa pessoa que trabalhava para aquele assassino, e aparentemente o ajudava em seus negócios no tráfico? Kathie logo percebeu minha descrença.
– Pelo menos tente! E garanto que farei todo o possível para lhe ajudar. Mas você também precisa se ajudar! – Fiquei séria. – Nada de acessos de raiva, ou surtos violentos. – Ela riu alto. – Mesmo eu tendo adorado vê-la enfrenta-lo. Isso só lhe trará mais problemas. – Assenti com um leve sorriso causado por seu riso.
– Tudo bem! – Falei mais calma. – Irei tentar confiar em você! – Meus sentidos gritando que ela era uma boa pessoa, mas meu juízo, recriminando-me, insistia em lembrar-me que ela trabalhava para um assassino, o que a tornava cúmplice de seus atos. – Mas terá que conquistar essa confiança. – Kathie sorriu.
– Ok! Sei que logo seremos amigas e você irá confiar em mim! – Falou de modo sincero e convicto. – Agora descanse! Daqui a pouco vou trazer-lhe um jantar. – Assenti.
Kathie saiu deixando-me novamente sozinha. Fechei os olhos tentando acalmar ainda mais meus nervos. A imagem de Vincent formando-se por trás de minhas pálpebras. Seu sorriso torto me encantava mesmo em pensamentos. Sorri, lembrando o que esse sorriso me causava, e logo levei minhas mãos ao meu ventre. Acariciei-o de leve lembrando que carregava um filho seu ali. Abri os olhos e pela primeira vez falei com meu bebê.
– Oi, filho! – Sussurrei com receio que me ouvissem. – A mamãe está aqui! E fará todo possível pra nos tirar dessa! – Uma lágrima desceu por meus olhos, quando senti-me impotente, sem saber o que fazer para livrar-me daquele cretino. – Somos só nós dois agora! Mas iremos sobreviver! – Meus olhos agora vertiam lágrimas demasiadamente. – Eu já te amo tanto! – Encolhi-me em posição fetal, dando uma proteção maior ao meu ventre.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Manoela Oliveira
ela Katarina
2024-07-24
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Adelaide Bandeira
nossa que história eu espero que kathie não fique entre Vincent que ele perceba que quem ela ama seja Clarisse
2024-05-22
0
🌹
Coitada
2024-05-19
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