Sentei-me no balanço e tentei relaxar fechando os olhos. Automaticamente lembranças do dia do meu aniversário me inundaram. Eu estava com Clary neste mesmo balanço. Nossa relação era tão confusa. Eu sempre soube que ela gostava de mim, mas nunca imaginei que fosse amor de mulher. Pensei que era apenas uma paixonite, ou até mesmo gratidão por eu tê-la ajudado. Nunca sequer cogitei que ela me amasse. Por isso senti-me tão perdido quando ouvi as palavras. Foi um choque para mim, eu realmente não esperava.
– Está pensando na Clarysse? – Meu pai questionou, fazendo-me abrir os olhos.
– Eu não consigo parar de pensar nela! – Respondi. – Não sei o que está acontecendo a ela agora. E o pior é saber que a culpa é minha! – Falei com a voz baixa, quase um sussurro.
– Você não tem culpa filho! – Tentou consolar-me. – Ela fez uma escolha!
– Vincent! – Ouvi uma voz grossa me chamando. Mark estava entrando na varanda. – Como está meu melhor agente? – Perguntou sorridente.
– Me recuperando! – Levantei-me devagar. – Mas o que o traz aqui? – Perguntei sem rodeios. – Espero que boas notícias! – Ele se aproximou cumprimentando meu pai, e parando ao nosso lado.
– Ótimas notícias eu diria! – Mark respondeu-me sério. – Katherine conseguiu nos contatar esta tarde! – Sorri olhando para o meu pai que parecia incrédulo. – Ela está voltando, Vincent! – Senti-me avivar por dentro, finalmente uma boa notícia.
– O que mais ela disse? – Sentia-me curioso.
– Aceita algo para beber? – Meu pai perguntou parecendo aliviado.
– Não! Obrigado Andrew! – Mark sorriu.
– Vou deixá-los conversar! – Meu pai saiu deixando-nos a sós.
– Ela estava na Europa, Vincent! Conseguiu se infiltrar entre eles, e hoje é o braço direito de John! – Arregalei os olhos. – Ela disse que houve um problema com alguém da equipe dele, aqui de Nova Iorque. – Continuou Mark.
– Qual o problema? Ela falou? – Perguntei interessado, poderia ser algo sobre Clary. Matthew deve ter informado sobre a investigação.
– John comentou com ela sobre uma mercadoria, que tinha dado problema, e o FBI estava envolvido. – Sorri fechando os olhos ainda sem acreditar. Era Clary, tenho certeza. – Sabe algo sobre isso? – Assenti.
– Provavelmente ele estava se referindo a Clarysse! – Falei sério.
– A moça que conseguiu tirá-lo de lá? – Confirmei com a cabeça. – Diga-me, Vincent! Ela era uma das garotas de programa que moravam no prédio?
– Não, Mark! – Ele ficou sério. – Lembra aquela papelada que solicitei a respeito de Thomas e Lisa Parker? – Ele assentiu. – Eram os pais dela. Ela é só uma garota, inocente demais para estar no meio de tudo isso!
– E porque ela se sacrificou no seu lugar? Eu não entendo! – Mark estava curioso.
– Ela estava morando no meu apartamento! – Confessei. – Estávamos namorando! – Ele sorriu.
– Depois de tanto tempo! – Falou animado. – É bom vê-lo finalmente esquecer o passado, e recomeçar! – Fiquei sério.
– Agora me diga! Quando Katherine chega? – Perguntei voltando a sentar no balanço. Meu corpo ainda reclamando de dor.
– Ela não falou o dia. – Baixei a cabeça sentindo-me derrotado. – Mas ficou de entrar em contato novamente. – Assenti. – Espero que amanhã esteja melhor agente Jones! – Mark falou sério. – Precisarei de você no escritório.
– Eu não posso ir, Mark! – Retruquei rapidamente, fazendo-o me encarar.
– Porque não? – Ele questionou.
– Preciso encontrar Clarysse! – Eu estava determinado.
– Deixarei essa tarefa com os demais. Os agentes, Anderson e Williams, podem fazer isso! – Arregalei os olhos.
– Vai me tirar dessa investigação? – Levantei-me, e mesmo com o corpo inteiro queixando-se de dor, esqueci-a por alguns instantes, e vociferei. – É isso?
– Ainda não, Vincent! Mas se achar que seu emocional está atrapalhando irei mudá-lo de caso. Estamos entendidos? – Assenti. – Esteja no escritório amanhã às dez. Katherine ficou de ligar por volta desse horário. Quem sabe dá sorte e consegue falar com ela! – Voltei a concordar. – Talvez consiga mais informações sobre Clarysse com ela, do que se estivesse na rua procurando-a, coletando informações.
– Ok! – Falei deixando-me ser convencido. – Estarei lá às dez.
– Então! Até amanhã agente Jones! – Ele estendeu-me a mão.
– Até Sr. White. – Falei apertando sua mão.
Mark saiu rapidamente e deixou-me mais animado ao saber notícias de Katherine, e talvez conseguir o paradeiro de Clary! Andei com dificuldade até a porta de casa, e entrei encontrando meu pai ainda na sala. Minha mãe e Rachel não estavam lá, deveriam estar na cozinha. Fui até o sofá e sentei-me fazendo companhia a ele.
– Vincent! – Olhei-o. – Faça o que for preciso para encontra-las, mas, por favor, não se coloque em risco novamente! – Assenti.
– Irei fazer o possível e o impossível para sairmos todos bem dessa! – Falei sério.
– Clarysse merece mais que isso! – Ele falou parecendo preocupado. – Ela merece ser amada, filho! – Encarei-o. – E se você não puder dar isso a ela, acho que, depois que resgatá-la, seria melhor deixa-la ir. – Assenti surpreso. – Quanto a Katherine! Traga-a de volta para nossas vidas! Eu confio em você para isso! – Senti-me mais vivo, com as palavras de meu pai. Ele se levantou e caminhou até perto da mesa. – Sua mãe está terminando a janta! É melhor esperar, sabe que ela não gosta que fique sem se alimentar! – Concordei. – E precisará de forças para encontrar Clarysse! – Sorri fraco.
– Obrigado, pai! – Falei encostando-me completamente no encosto do sofá.
– Agradeça-me não magoando-a mais! – Ele falou triste e respirei fundo.
– Porque está tão preocupado com que eu a magoe? – Perguntei sentindo-me frustrado com seu repertório sobre eu deixar Clarysse.
– É o que tem feito ha cinco anos. Magoa cada uma das mulheres com quem se envolve. Você a desonrou sem sequer namorá-la, Vincent! – Arregalei os olhos. – Pode ser meu filho, mas o que fez foi errado!
– Ela também quis! – Retruquei.
– Claro que quis! – Ele falou encarando-me. – Ela te ama! Faria qualquer coisa por você! Como fez hoje! Sacrificando-se no seu lugar! – Levantei-me. – Quem mais terá que se sacrificar ou morrer para que você pare de se martirizar e volte a confiar em alguém? – Perguntou-me furioso.
– Preferia que ela não tivesse ido? – Perguntei num sussurro, mas ele não respondeu. – Eu também não queria que ela fosse, pai! – Confessei. – Mas não pude fazer nada. Estava de mãos e pés atados diante de sua escolha! – Respirei fundo. – Se acha que não sofri com isso, está enganado! Não teve um só minuto desde que acordei, que não tenha pensado nela, e como deve estar agora! – Meus olhos encheram-se de água. – Se acha que não mereço todo carinho que me dão, desculpe! Mas já estou de saída! – Comecei a caminhar para a porta.
– Por Deus, Vincent! Pare! – Pediu meu pai, fazendo-me parar diante da porta. – Eu não quis dizer isso! Só acho que agiu errado com Clarysse! – Virei-me olhando-o. – Ela merecia ter tido sua primeira vez com alguém que a amasse! – Assenti.
– Acho que ela escolheu amar, ao invés de ser amada, pai! – Ele me encarou.
– Percebe o quão frio está sendo? – Perguntou-me sério.
– Sou frio por ter dado a ela o que me pediu? – Perguntei agoniado. – O que mais fiz de errado agora? – Alterei-me. – Ela queria um relacionamento sério, e estávamos namorando. Queria que eu desse um fora nas garotas que me perseguiam, e também fiz isso! – Encarei-o. – Ela se entregou pra mim, pai! Eu não pedi! Não nego que a quis, mas quando sai daqui, no dia do meu aniversário, estava decidido a não fazer isso com ela! – Minha mãe e Rachel apareceram ao lado de meu pai, mas minha raiva estava tão grande que continuei falando sem me preocupar. Fechei os olhos. – Ela me procurou. Eu sou ruim por isso também?
– Se acalme, Vincent! – Rachel falou aproximando-se.
– Preciso ir para casa! – Falei virando-me.
– Você não vai a lugar algum! – Minha mãe falou alto e determinada. – Rachel! – Ela chamou e logo minha irmã virou olhando-a. – Faça o prato de Vincent! – Rachel assentiu e minha mãe caminhou até estar ao meu lado. – Irei ajuda-lo a subir as escadas. – Falou abraçando-me, mas continuei parado. – Não deixarei que saia daqui assim.
Olhei para meu pai e ele concordou brandamente com a cabeça. Minha mãe ainda me abraçando, então deixei-a me guiar até as escadas. Subi lentamente, sentindo minhas costelas protestando de dor a cada degrau que eu pisava. Quando finalmente cheguei ao topo da escada, arrastei-me até o meu quarto, minha mãe ainda me auxiliando. Entrei sentando-me na ponta da cama.
– Vincent! – Minha mãe chamou. – Eu entendi bem? – Baixei o rosto respirando fundo. Não queria brigar com minha mãe também.
– Não sei o que a senhora entendeu mãe! – Respondi sentindo-me esgotado.
– Você e Clarysse! Vocês...? – Assenti antes de ela terminar a frase. Fazendo-a sentar ao meu lado. – Foi uma decisão dela? – Minha mãe quis saber. Olhei-a e sorri fraco.
– Foi! – Respondi e ela assentiu. – Juro que tentei me segurar mãe! – Falei com a voz embargada. – Mas Clary sabe como me seduzir! – Ela sorriu.
– Eu sei! – Então abraçou-me. – Seu pai também entende, filho! – Afastei-me encarando-a. – Ele só não quer vê-la sofrendo! Ela não tem mais ninguém!
Voltei a abraçar minha mãe e acabei deitando-me. Guardei a arma e o vidro com os comprimidos para dor no criado mudo ao meu lado, e coloquei a cabeça em seu colo. Suas mãos afagando meu cabelo, deixando-me sonolento. Assustei-me quando a porta do quarto voltou a abrir, e Rachel entrou trazendo um prato em suas mãos.
– Coma! – Ela falou e minha mãe ajudou-me a sentar.
Peguei o prato de Rachel e, comi um pouco, mas não consegui comer tudo. A comida não entrava. Devolvi o prato para Rachel, fazendo-a olhar-me feio.
– Não consigo mais comer! – Falei sério. – Não desce, Rachel!
– Tudo bem! – Minha mãe falou.
Voltei a deitar. Minha irmã saiu do quarto e, novamente fiquei sozinho com minha mãe. Ela foi até o banheiro e voltou com a caixinha de primeiros socorros. Sorri lembrando novamente de Clary! No dia que cortei minha mão, ela fez a mesma coisa. Minha mãe limpou os ferimentos de meu rosto e alguns no meu tórax com água oxigenada, fazendo-me contorcer-se de dor. Depois passou uma pomada, e cobriu com gases e esparadrapos. Abracei-a com carinho.
Ela guardou a caixa de primeiros socorros, e voltou a sentar ao meu lado na cama, suas mãos acariciando meus cabelos. Senti-me um garotinho de sete anos depois de ter um pesadelo de madrugada. Ela sempre fazia isso, quando eu acordava assustado com meus sonhos. Meus olhos foram pesando com o carinho, até que adormeci.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Manoela Oliveira
eu acho irmã dele
2024-07-24
0
Adelaide Bandeira
não acredito que ele ainda não assumiu que ama a Clarisse
2024-05-22
1
Lucia Silva
que ironia que destino amiga não demora postar mais capítulo minha ansiedade está a mil tá muito boa a história parabéns se ele não fosse tão incivel kkk
2024-04-22
3