Não pretendo entrar numa delegacia, jamais. Aquele lugar estranhamente não me convém e tenho os meus motivos para pensar dessa forma. Aliás, ninguém gostaria de entrar numa delegacia. É um dos lugares que poucos se arriscam, até mesmo para relatar crimes as pessoas hesitam de ir para lá, então imagine: um fugitivo da polícia que acabou de aparecer na televisão por mais um crime comparece espontaneamente na delegacia, sabendo os riscos do que pode acontecer. É irônico!
Entrar naquele lugar para encontrar especificamente um policial e provocá-lo um pouco é um risco bom! Ao menos para mim, penso assim. Zyan terá que me aguentar, pois, agora que sei sobre ele, não o deixarei em paz tão cedo quanto pensa.
Quando sai da delegacia, acabei dando de cara com Kasem, ele estava numa ligação, mas logo desligou e veio falar comigo. Aquele momento foi inesperado, porque ele estava lá? Admito, o meu corpo congelou ao vê-lo.
— O que veio fazer aqui na delegacia, Lian? Houve algum problema?
Sim, e o problema sou eu. Cometi tantos crimes e ainda me atrevo a provocar as autoridades dessa forma, zombando deles quando apareço na delegacia e diligentemente em câmeras de segurança.
— Vim encontrar um "amigo"
Espero que Zyan me perdoe, mas usarei o seu nome agora e talvez outras vezes.
— Ah é? Quem?
Kasem me perguntou. A sua expressão me transmitia a sensação que ele não estava acreditando nas minhas palavras.
— Zyan Ackermin.
Forcei um sorriso, me esforçando para não transparecer o que eu realmente sentia naquela hora.
— Ah, Zyan! Não sabia que eram amigos.
Um sorriso cruzou os lábios do Kasem. Essa reação acabou me deixando confuso, como e onde ele conhecia o Zyan? Desde quando e porque Kasem não me falou sobre algo assim? Bom, ele não é de falar sobre trabalho, não seria sobre isso que falaria.
— Por acaso… não, espera, de onde você conhece o Zyan?
Aquelas palavras saíram da minha boca com uma certa dificuldade. Eu tentava raciocinar ainda, não esperava que eles se conhecessem.
— Como você já sabe, sou um detetive. E Zyan é um investigador criminal, então claro que o conheço. Na maioria das vezes nos vemos na delegacia ou em cenas de crime.
Nessa hora eu repensei sobre tudo. Talvez não tenha sido uma boa ideia sair da minha cidade e ir para Nova York. Os problemas que arranjei ao longo do caminho só vão piorando. Kasem trabalha na mesma delegacia que Zyan, consequentemente com o mesmo departamento.
É literalmente suicídio se envolver nessa história! Kasem é detetive e Zyan é investigador, a facilidade que teriam para descobrir que sou um criminoso é mais da metade de cem.
— Eu não sabia. Há quanto tempo você começou a trabalhar nessa delegacia?
Mudei discretamente o assunto.
— Alguns meses. Quando a Mihian viajou para seu país, mudei junto dela, então só consegui retornar há alguns meses.
Melhor manter o inimigo por perto do que longe. Kasem é um cara legal, mas por se envolver com a polícia, dificulta as coisas para o meu lado.
— Entendi. Se envolver com isso não é perigoso? Não pode arriscar de deixar o seu filho sem um pai, né.
Admito, foi uma indireta para ele. Mas sei que não posso fazer nada contra, pois, com certeza eu me ferraria mais tarde. E as coisas não seriam nada boas para mim caso algo acontecesse com o Kasem. Zyan com certeza iria atrás da verdade e, consequentemente, me descobriria.
— Eu sei o que faço, nada vai acontecer.
As suas palavras são tão convictas e sempre com uma resposta na ponta da língua, caso a situação exija. Aquele era o meu limite, já não sabia se poderia me manter em postura sabendo o que houve na madrugada de ontem.
— Bom, melhor eu ir. Tenho que resolver algumas coisas.
Kasem disse antes de mim. Ele olhou a hora no celular e franziu o cenho, estranhei a sua reação, mas também não me atrevi a perguntei o porquê disso.
— Tudo bem. Já vou também.
Forjei um sorriso ao falar.
E ali se encerrou a nossa conversa, talvez outra hora eu pudesse saber mais sobre o que houve ou até mesmo a Mihian poderia me dizer o que aconteceu.
Me pergunto se Zyan falaria para alguém que foi salvo por mim, mas a maneira que age parece dizer demais sobre ele. São coisas que simplesmente posso lidar ao lado dele, é só a sua maneira de agir, nada mais.
Depois de ver Zyan, fui ao encontro com Max. Outra vez, mas há tempos que não conversamos e esse encontro seria uma boa forma de fazer o que não fizemos durante esses dois anos longe. Não digo isso como se fosse dar em cima dele, como o pequeno Alli disse, ele já tem namorado.
Quando conversei com Max, no dia que ele voltou de viagem, ele parecia um pouco abatido. Não sei explicar o que passava com ele, mas coisa boa não era. Dessa vez, seria eu, Max e Juan, o namorado dele. Mal o conheço, mas pelo fato desse cara ter sido o namorado do Kiyoki, me pergunto como acabou entrando no coração do Max. Ah, talvez, mas só talvez, Max não o ame de verdade e se envolva com Juan apenas para tentar esquecer do Alisson. Há tantas possibilidades, mas prefiro esquecer essas teorias idiotas que acabei criando.
Numa sorveteira, nos encontramos. Max estava sentado ao lado do Juan e pareciam estar flertando um com o outro, típico de casal. Pelo visto, eu seria a vela nesse encontro.
— Quando o Alli me disse que você estava namorando, eu não estava acreditando. Na verdade, até agora não estou.
Fui até os dois e me sentei em frente a eles.
— Mesmo que me veja com ele?
Max olhou brevemente para Juan e voltou o seu olhar para mim.
— Ainda não acredita?
Ele concluiu. Surgiu um sorriso de canto no seu rosto, mas não via a graça nisso.
— O que posso dizer, não é? Ao menos vejo que esqueceu o seu ex.
Digo ex, mas só pelo fato que o Alisson está morto agora. Mas se estivesse ao menos vivo, talvez ainda seria namorado do Max ou eles se separariam? É uma pergunta sem resposta.
— Não sei bem que foi esse tal de Alisson, mas tudo que Max me falou, parece que tinham um ótimo relacionamento antes dele morrer.
Juan prosseguiu com um sorriso no rosto. Pela sua expressão, não parecia estar fingindo não se importar com o Alisson. Mesmo que eu não perceba, eu falo tanto sobre ele.
— Se ele estivesse vivo, talvez vocês seriam bons amigos. Não acha, Max?
Essa pergunta foi como uma provocação, ainda o testo sobre como reage ao falar sobre seu ex. Max franziu o cenho, obviamente se incomodou quando fiz essa pergunta a ele. Mas as suas reações não me assustam nem um pouco.
— Por que não pergunta direto para o Alisson, hum?
Max forçou um sorriso ao falar. Mesmo que tentasse disfarçar, o seu desconforto estava tão visível para mim e para o Juan.
— Talvez. Mas o destino não nos permitiu que nos conhecêssemos.
Juan tentou quebrar o clima tenso, causado justo por Max. É tão perceptível que não esqueceu do Alisson, mas mesmo assim ele tenta seguir a sua vida normalmente. E, realmente espero que consiga esquecer esse garoto, não pode deixar que algumas memórias atrapalhem a sua vida.
— Para compensar, Alli se parece com ele. Mesmo que ainda esteja crescendo, eu consigo ver o Alisson através dele.
Max prosseguiu. A sua linha de raciocínio é tão perdida como a minha. Mas, certo, por um lado isso faz um certo sentido. Apenas vi Alisson por foto, e de fato, Alli parece se assemelhar a ele. Talvez fosse uma mera coincidência.
— Pela maneira que fala dele, não o esqueceu. E não espero que isso um dia aconteça. Esse garoto foi muito especial na sua vida, foi por ele que conseguiu enfrentar o seu ex novamente e matá-lo.
Juan concluiu. Eu apenas os ouvia falar, sem me intrometer por enquanto. Queria ver até onde essa conversa fiada poderia continuar! É sempre a mesma coisa, Alisson e Alisson, entendo perfeitamente bem quem foi esse garoto na vida do Max, mas é passado. Juan parece não se importar em falar sobre ele, mas duvido que não fique enciumado por Max falar dele tão casualmente e um sorriso bobo cruzar os seus lábios sem que percebesse.
— Bom. É passado! Ele morreu, precisamos seguir as nossas vidas em frentes.
Tomei a frente antes de Max, quase lhe cortando a vez.
— Mudando de assunto, soube que fez um assalto ao banco ontem de madrugada com o namorado do Zen. Deu tudo certo ou acabou deixando uma brecha para polícia?
Max me perguntou. O seu semblante instantaneamente mudou ao tocar nesse assunto, finalmente sem pensar naquele garoto.
— Se estou aqui, na sua frente, já diz tudo.
Respondi a ele com um enorme sorriso de satisfação. Indo de orelha a orelha, a minha felicidade.
— Kasem é detetive. Deve tomar cuidado com o que acaba fazendo durante a noite ou madrugada, é arriscado.
Juan avisou, senti a sua preocupação ao falar, mas não me importei com o aviso. Não era a primeira vez que eu cometia um crime como esse, um assalto ao banco. Kasem é só um detalhe, ele ainda não descobriu sobre a minha identidade e espero que isso continue assim.
— É a adrenalina que me move.
Dei uma pausa antes de prosseguir.
— Aliás, cuidado com o que você faz, Juan.
Conclui. Os meus olhos percorreram o seu corpo de baixo para cima, até encontrar os seus olhos fixados nos meus. Um sorriso cruzando sutilmente os seus lábios.
— É uma ameaça?
Juan ergueu uma sobrancelha. Em nenhum momento ele desviou os seus olhos dos meus, me encarando fixamente.
— Claro que não!
Eu ri da sua pergunta, mas o seu tom de voz parecia ser de uma ameaça, não era nenhuma brincadeira dessa vez.
— Mas sei que age da mesma forma que eu. Furtivamente, já cometeu crimes assim como eu já cometi. Então, digamos que a sua ficha não é tão limpa assim.
Me encostei novamente na cadeira, brevemente desviando o olhar dos olhos do Juan. Mas novamente, mantive os olhos fixos nos dele.
Ter vínculos com alguém que conhece pessoas com influência, não é nada entediante! Não é só sobre Zyan que acabei descobrindo algumas informações. Juan é outro que descobri algumas coisas.
— Eu sei sobre o que se refere. Mas eu já sabia.
Max se intrometeu.
— Nem me surpreendo! Afinal, você é assim também. Tem a ficha suja igual a mim, não há porque negar que o seu namorado também tem.
Aquela revelação boba não mudava nada. Que utilidade isso teria sabendo que Juan é um assassino de elite? Nada que realmente me interessa e me prenda atenção de verdade. Bom para Max! Foi capaz de encontrar alguém ao seu nível, mas arriscado, nunca se sabe se Juan pode tentar matá-lo e persegui-lo assim como Thian fez.
— Somos todos da mesma laia. Talvez menos ou mais perigoso que outros, mas não muda o que fazemos.
Eu disse com um sorriso cínico estampado no meu rosto. Os seus olhares totalmente direcionados a mim, o clima também pesou. Não entendo o porque, só foi uma reposta a altura. Afinal, isso realmente faria diferença? O simplesmente fato de que nós envolvemos no mundo crime ou coisas parecidas, muda algo? Nem faz sentido discutir algo bobo assim.
— Diga isso quando Zyan descobrir a sua identidade. Tenta ferrar comigo e verá que você vai cair primeiro.
Juan falou num tom sarcástico. Um sorriso surgiu entre os seus lábios e inclinou ligeiramente a cabeça para o lado ao falar. Realmente começariamos uma rixa por algo bobo? É estressante.
— Até isso você sabe. Nada mal, temperamento parecido com o Max. Semelhantes se atraem, não é?
O provoquei um pouco mais. O sorriso ainda cruzava seus lábios e não se desfazeria tão fácil. Max devia estar pensando o que fez para estar no meio dessa bagunça, mas a resposta é fácil de se obter.
— Já chega! Parecem duas crianças fazendo birra.
Max bateu contra a mesa, mas não causou espanto em mim ou em Juan. Mas, consequentemente, nos calamos.
— Paramos.
Revirei os olhos e cruzei os braços, me encostando novamente na cadeira.
— Chato.
Juan cruzou os braços sob o peito e resmungou. Os seus olhos voltaram-se para o lado. Não era aquele clima que queria criar, mas esse encontro até que rendeu bem mais do que eu realmente esperava. Juan, apesar de saber pouco sobre ele, com certeza ele é um pau-mandado do Max e age da maneira que outro pedir e nem me admiro com isso. O cachorro segue o seu dono, não é?Só seria como pôr lenha na fogueira se eu me atrevesse a dizer tais palavras para Juan. Max seria capaz de meter uma bala na minha cabeça sem nem pensar duas vezes. Mesmo preso ao passado, ele consegue entender o que se passa no presente e tenta seguir normalmente a sua vida, é como se tentasse aos poucos fingir que aquele relacionamento com Alisson nunca tivesse acontecido e fosse apenas um belo sonho com um final de um pesadelo.
— Corpo de adulto e mente de criança. Assim são vocês dois.
Max revirou os olhos ao falar. Entre-olhando para mim e para Juan da mesma maneira: visivelmente irritado conosco. Com razão, talvez?
— Lian, não tentei agir como se fosse "puro".
Essa frase tinha um duplo sentido, mas entendi o ponto do Max. Era irritante, sério, vim para conversamos e agora, a que ponto acabamos de chegar? Não era para tanto.
— A sua ficha criminal não é tão suja. Há uma pessoa pior que você e eu.
Juan intrometeu-se, quase cortando a vez do Max. Um sorriso, então, surgiu no seu rosto quando disse isso, mas eu realmente não entendia o que ele quis dizer com isso.
— Quem?
Perguntei de forma ingênua. Mas, sério, eu não sabia e não tinha a menor ideia de quem poderia ser.
— Takashi tem uma ficha suja, obviamente. Mas, há alguém que o ultrapassou, mas não sei quem é.
Juan respondeu-me com clareza, explicando um pouco mais. Mas, percebi que não conhecia aquela pessoa. A minha curiosidade poderia ultrapassar os limites e a minha ansiedade aumentar, fiquei curioso com essa revelação.
— É óbvio que Takashi teria uma ficha suja, o estranho seria se ele não tivesse. Afinal, o que se esperar de um ex-membro da máfia japonesa, hum?
Max complementou, contendo-se para não rir. Pouco sabia sobre Takashi, mas com certeza melhor que eu, isso é uma absoluta certeza.
— Alguém pior que Takashi... que interessante...
Murmurei para mim mesmo. Por um instante, me desligando da realidade. Sabendo disso, talvez me fizesse ir atrás para saber quem é essa tal pessoa que ultrapassou metade do código penal.
Aquele encontro acabou sendo mais para falarmos de coisas que fosse de total interesse de nós três, eu, Max e Juan. Afinal, era para isso que seria essa conversa né. Algo que pensei que não daria muito certo pelo jeito meio irritante do Juan, acabou sendo mais interessante do que eu realmente esperava que fosse.
Por tudo que Juan acabou dizendo sobre a pessoa com uma ficha criminal extensa, fiquei curioso para saber quem era a tal pessoa. E, afinal, como é possível que havia uma ficha criminal dessa pessoa mesmo que ela esteja oculta? Não faz tanto sentido se for para pensar com cuidado nisso. Como acabaram formando uma ficha sem ter conhecimento de quem é o autor desses crimes citados? Talvez fosse um rascunho de crimes já cometidos ou que pudera ser cometido por essa pessoa desconhecida. É ainda mais intrigante sabendo que essa pessoa pode ter passado da ficha criminal do Takashi, um ex-membro da máfia japonesa. Deveria ser ele com uma ficha mais suja no momento, por todo o Japão ou exterior! Seja como for, isso chamou a minha atenção. Tratei de saber mais, achar essa tal ficha criminal sem autor indiciado. Procurei saber mais e com a ajuda do Juan e Max, consegui achar a tal ficha, e como haviam dito, não tinha nome ou qualquer coisa que pudesse ser direcionado ao autor daquela maldita ficha criminal. Claro, só pude encontrar depois de hackear algumas coisas.
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Atualizado até capítulo 34
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