Débora...
Mais um dia acordo assustada com os gritos dela, pareço reviver aquele dia novamente e isso é assombroso.
Desde que tudo aconteceu, minhas noites são atormentadas com aquela noite espantosa, que levou a única razão da minha felicidade, a única pessoa que me trazia alegria nessa vida.
Me pergunto, como a vida pode ser tão cruel…
Moro num país desconhecido, onde não tenho amigos, apenas inimigos.
Tenho que ir naquela faculdade, onde só tem filhos de papai, que acreditam que a vida é apenas dinheiro, balada e sexo.
Ainda tem uma garota que vive pegando no pé, porque o idiota do seu namorado, quis dar em cima de mim. Ela nem sabe da história e fica me perseguindo, planejando coisas para me expulsarem da faculdade.
Não sou idiota e consigo me livrar de todos os seus planos.
Se fosse há algum tempo, eu retribuiria com uns belos tapas, mas a minha vida não tem mais nenhum sentido, desde que ela se foi.
Meu celular toca e na tela, consto ser Gabriel, meu melhor amigo.
Eu e ele nos conhecemos desde a infância, sempre fomos inseparáveis, mesmo com a distância, não deixamos de nos comunicar. Seu apoio tem sido muito importante para mim nos últimos meses.
— Bom dia, gata!
— Bom dia, Biel! Como está gatinho?
— Levando e você, minha deusa?
— Tentando!
— Pesadelos novamente?
— Sempre! Desde aquele dia, sou assombrada por eles!
— Por que não pede ajuda ao seu pai?
— Eu não tenho pai, Biel! Ele nos abandonou, acredita mesmo que ele faria algo por nós?
— Sabe bem, que eu sempre gosto de ouvir as duas versões da história, para chegar a uma conclusão! Te conheço muito bem e sei que não o odeia de verdade, diz isso da boca para fora!
Solto o ar pela boca, reconhecendo que tem razão.
— Mas e você, como anda as coisas por aí?
— Cada dia pior! Acredita que o ogro do meu pai, quer me obrigar a casar com uma garota que mal conheço?
— Talvez seja bom para você! — digo divertida.
— Aff, eu não curto mulheres, Déby!
— Na verdade, você não curte nada, Biel! — digo divertida.
— Porque estou bem só, eu me amo, eu sou o meu próprio companheiro e sou feliz desse jeito! Não preciso de ninguém para me fazer feliz, me olho no espelho todos os dias e vejo o quanto eu sou especial, não preciso da opinião alheia ou dessa sociedade preconceituosa de merda, para me sentir bem, para me sentir feliz! A única coisa que eu queria, era que meus pais me aceitassem do jeito que eu sou!
— Sabe que sempre estarei aqui por você, meu amigo?
— Eu sei, por isso que eu te amo!
— Também te amo! Mas o que pretende fazer agora?
— Vou fugir de casa, do país e nunca mais volto para esse lugar!
— Ficou maluco? Para onde vai e como vai se sustentar?
— Vou para o mais longe possível, sei que não vai ser fácil, mas vou arrumar um emprego, e vou me virando até me estabilizar!
— Vem para cá, ficar comigo!
— Perdeu o juízo? Esse é o primeiro lugar que vão me procurar!
— E então?
— Ainda não sei, estou pensando!
— Mais tarde conversamos, tenho que me arrumar para ir à faculdade!
Nos despedimos, encerro a chamada e vou até o banheiro.
Faço a minha higiene matinal, tomo um banho demorado, me seco e coloco um vestido básico e sapatilha.
Pego a minha bolsa e desço até a sala de estar.
— Bom dia! — digo a minha mãe e meu padrasto.
— Bom dia, filha! — diz mamãe.
— Como pode continuar vivendo, sabendo que, por sua culpa, a sua…
— Por favor, Ernesto, vamos tomar café em paz! — mamãe o repreende.
— Não sei por que me culpam pelo que aconteceu! Eu não tive culpa e, se os incompetentes dos seus seguranças estivessem conosco, não teria acontecido nada!
Ele desfere um soco na mesa, me assustando.
— Tinha que ter defendido a sua irmã, com a sua vida!
— Ernesto! — diz minha mãe, se colocando de pé.
— Acredita que eu não fiz isso? — pergunto, com algumas lágrimas rolando por meu rosto. — Não tem uma noite sequer, em que eu durma tranquilamente, sou assombrada por aquele dia, penso na minha irmã todas as noites, todas as manhãs, quando acordo, a cada segundo do meu dia!
— Não é o que parece!
— Vai se ferrar Ernesto! — digo me colocando de pé.
Irritado, o homem se levanta de uma vez, minha mãe se coloca na minha frente, para que ele não venha me agredir.
— Vai deixar essa menina falar desse jeito comigo?
— Foi você quem começou! — diz o enfrentando.
— Por passar a mão na cabeça dela é que faz o que quer da vida! Sabia que o diretor da faculdade me ligou e disse que sua filhinha não está cursando administração, trocou pelo curso de artes visuais!
— Ela é maior de idade e sabe o que quer de sua vida! Não é justo privá-la de seus sonhos!
Pela primeira vez, minha mãe está me defendendo como uma mãe de verdade. Todas as outras vezes, aceitava as punições do meu padrasto, acreditando que seria o melhor para mim. Não a julgo por tudo o que passei, pois sempre foi cega de amor por esse homem.
— Mas eu não vou pagar uma faculdade, para ser uma desocupada!
— É um ignorante mesmo, só tem dinheiro, não tem a mínima educação ou sensibilidade de reconhecer um talento, ou uma obra de arte!
— Já chega, Débora! Vá para a faculdade, deixe que eu me resolva com Ernesto!
Pego a minha mochila, pouso um beijo no rosto da minha mãe e a olho em agradecimento, ela sorri fraco e pousa um beijo em minha testa.
Vou para a faculdade com o motorista, mas ao passar por uma praia, peço para que me deixe ali.
— Tem certeza, senhorita? É perigoso ficar aqui sozinha!
— Está tudo bem, os pescadores da região me conhecem, não se preocupe!
Me despeço dele e caminho pela beira do mar, pensando na minha vida. Todos os pescadores que passam por mim me cumprimentam.
Desde que cheguei aqui, fiz amizade com todos, faço desenhos deles e da arte da pesca. Já cheguei a acompanhá-los numa de suas pescarias e me contaram vários contos de suas pescarias.
Fiz vários desenhos, eu consigo enxergar além de suas palavras, é como se fosse uma escritora, mas transmito nos desenhos a emoção deles e as minhas.
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Atualizado até capítulo 92
Comments
Josigg Gomes Galdino
Enesto não é do bem,e deve ter feito alguma coisa com a irmã dela, já que os seguranças dele, não estavam com elas
2025-03-30
1
Raila Nogueira
aqui mais dói assistir é ser excluída e ser culpada de tudo
2025-02-26
1
Heloisa Guerrera
Coitada! Imsgino sua dor eser culpada sem ter a culpa😔
2024-12-03
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