09

Vendo o rosto branco de Anthony ficar vermelho de repente, Sara sentiu que aquele homem não gosta de brincadeiras e por isso engoliu o líquido ainda quente, a garganta dela doeu, mas ela disfarçou a dor e logo guardou a xícara vazia e pôs-se a ler os relatórios, mas dessa vez ela não ousou dar nenhuma opinião, ela não gostou nada de ter sido ignorada.

Sara leu cerca de 20 relatórios e projetos ia separando aqueles que Anthony aprovava e também aqueles que precisam apenas de concerto, havia também alguns que foram direto para o lixo, o trabalho ali era relativamente simples, mas é bem enjoativo.

Por volta das 19:00h enfim Anthony deu o trabalho por encerrado e disse que Sara ainda precisava limpar o escritório antes de sair, ouvindo aquilo e lembrando do quanto o caminho de volta pode parecer assustador, a jovem sorriu levemente e disse:

—Senhor Anthony, eu posso limpar o escritório amanhã? Já está tarde e eu...

Anthony interrompeu as palavras dela dizendo:

—Se não quer o emprego apenas peça pra sair—Disse ele e logo tocou uma sineta e daí o surgiu o senhor com cara de desgosto que recebeu Sara mais cedo.

—Elias, leve-me para o meu quarto, estou com dor de cabeça, hoje não precisa se preocupar com jantar, só quero paz—disse Anthony e sem se despedir de Sara, ele mandou Elias empurrar a sua cadeira para fora do escritório e logo sumiu do campo de visão de Sara.

—A educação dessas pessoas me comovem, aff—Sara resmungou enquanto se esforçava para não chorar.

Ela também saiu do escritório e ficou esperando Elias voltar, quando isso aconteceu, Sara pegou o balde, um pano, a vassoura e o esfregão e pôs-se a limpar em toda parte.

Diferentemente de muitas riquinhas que já passaram por ali, Sara sabe muito bem como fazer o serviço, ela trabalhou num consultório odontológico e por ser um escritório bem pequeno e pouco movimentado Sara precisava fazer também a limpeza do local, a única coisa que está incomodando Sara é a questão do horário, é noite e ela tem medo de andar sozinha, ainda mais por caminhos desconhecidos.

Por ser um escritório grande e os móveis estarem um pouco empoeirados, Sara só terminou o serviço por volta das 20:00h, ela guardou tudo, se despediu de Elias e de uma mulher que encontrou na saída e logo saiu praticamente correndo.

Do lado de fora, Sara ligou a lanterna do celular e logo seguiu o seu caminho, a cada passo dado Sara sentiu mais medo e talvez por estar vivenciando aquilo, ela relembrou o passado e tudo que sofreu e mesmo sendo pecado, ela sentiu muita raiva de seu pai por ter a colocado nessa situação miserável.

Algum tempo depois enfim Sara chegou, ela encontrou Mila do lado de fora, encostada na parede e fumando um cigarro, Sara entrou na cozinha e involuntariamente olhou para o fogão e descobriu que não tinha nada para comer.

Sem dizer nada, Sara abriu a geladeira e por sorte encontrou uma maçã, pegou um pouco de água e logo foi para o seu quarto, sentou-se na cama e pôs-se a comer a maçã,  a cada mordida Sara relembrava todo luxo que viu na casa de Anthony e um sorriso amargo brotou em seus lábios.

—Não tenho muita experiência de vida, mas acho que já posso dizer que essa experiência está sendo a mais bizarra que eu vivi—disse Sara baixinho e logo bebeu um pouco de água,  colocou o alarme no celular,  colocou o aparelho no carregador e daí se preparou para dormir, mas nesse momento alguém bateu na porta, Sara autorizou a entrada e logo Mila entrou esboçando um pequeno sorriso e disse:

—Boa noite Sara, e aí, como foi o seu primeiro dia no emprego?—falou Mila e logo sentou-se no cantinho da cama e ficou olhando para Sara.

—Desafiador, mas de muito aprendizado—respondeu Sara e daí bocejou.

A partir daí um silêncio estranho se apoderou do ambiente e só depois de alguns segundos foi que Mila falou:

—Sei que você deve estar pensando que sou uma funcionária sem noção, na verdade eu trabalho na casa do senhor Anthony somente pela manhã, a tarde eu fico aqui, que é a casa onde todos os funcionários dormem, cada um cuida de seus próprios alimentos, é estranho, mas é norma do senhor Anthony —ela disse seriamente, mas Sara só conseguiu rir.

—Sou louca por ter caído nessa armadilha, vou ligar para o Alfredo, nada me foi avisado sobre o que eu encontraria aqui, então eu não posso ser penalizada por quebrar  o contrato —disse ela e logo se levantou planejando pegar o celular, mas ela achou que estava tarde demais e não quis mexer com isso a essa hora da noite.

“Eu vou embora desse sanatório amanhã mesmo“, ela refletiu mentalmente enquanto esboçava um sorriso pequeno, ela acreditava que Alfredo irá lhe ajudar, será?

Anthony Albuquerque, 28 anos

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