Capítulo Três: Cabelos Pretos e Olhos Elétricos

Viro a dose de tequila na boca.

Observo as pessoas pulando, agitando os braços, enquanto as luzes explodem até o teto e a música vibra através do chão.

Apoio as costas e os cotovelos no balcão quando percebo Rafael se aproximando. Ele anda com os braços um pouco afastados como se fosse um rato de academia, mesmo que tenha uma barriga um pouco avantajada.

— Ah, não, meu mano! — ele me envolve com um dos braços e pressiona a lateral de sua cabeça morena contra a minha. — Ainda nessa?

Meus olhos varrem o salão estudando cada figura que se movimenta, às vezes elas parecem se movimentar do mesmo jeito.

— E aquela gata da praça?

Dou de ombros.

— Só conversamos por um tempo, não quer dizer nada.

Rafael atrapalha minha visão e coloca as mãos em meus ombros, com o rosto confuso.

— Mas você disse que ela causou um efeito único em você.

Assinto.

— E também disse que ela é a coisa mais linda que já viu.

Assinto mais uma vez.

— Não posso ficar me iludindo tão rápido, babaca.

Meus olhos param no canto do salão, onde há uma figura afastada das outras. Ela pula e toda vez que seus pés retornam ao chão, ela se desequilibra quase desabando.

Empurro Rafael e me aproximo dela.

Meus passos estão molengos.

Estou um pouco tonto.

Seus cabelos são pretos barrando no meio das costas seguindo os movimentos quando ela rebola. Começo a pular ao lado dela, entrando na sintonia da música.

— Por que está dançando sozinha? — grito para que minha voz não seja esmagada pelo barulho.

Ela para de dançar e me encara. O vestido branco sem alças cai quase que perfeitamente no corpo dela.

— Eu sempre danço sozinha! — ela grita de volta e retoma seu rebolado.

Penso em algo para dizer dando continuidade a nossa conversa — ou aos nossos berros. Mas minha mente não está trabalhando muito bem esta noite.

A dançarina pula mais uma vez, mas quando volta para o chão, pisa de mau jeito e se desequilibra. Estico os braços, agarrando sua cintura, impedindo-a de desabar. Ela se agarra em meus ombros para recuperar o apoio.

— Valeu, eh... — ela faz uma careta e sorri. — Qual teu nome?

Afasto uma mecha de cabelo de sua testa deslizando os dedos por sua bochecha e parando na ponta de seu queixo. A pele dela é macia e tão branca quanto papel, mas bem que poderia ser rosada. Seus olhos têm um tom verde explosivo, mas bem que poderiam ser elétricos.

— Anton. E o seu?

Ela abre a boca para responder e, por algum motivo, espero que a primeira vogal a sair de lá seja "a".

— Isa!

Isa segura minha mão e me arrasta pelo salão, na direção das escadas. Avançamos dois lances, atravessamos o segundo andar, subimos outro lance de escadas e chegamos ao terraço. Nos apoiamos no parapeito de alumínio, ignorando dois casais em cantos opostos quase indo para a fase final de um beijo.

— A noite está incrível. — Isa se joga para frente olhando para o céu e depois para a rua.

— Primeira vez?

A inspeciono de cima a baixo. Na verdade, seus cabelos são castanhos e cacheados, meus olhos se enganaram.

— Quinquagésima e alguma coisa. — Isa cruza os braços e passa o peso para a outra perna. — Não fique me secando.

Ergo as mãos.

— Força do hábito.

Ela me puxa pela cintura e beija meu pescoço, depois desliza a boca até minha orelha apenas para sussurrar:

— Gosta do que vê?

A afasto, ainda sustentando seu olhar provocativo sob a luz do luar, fazendo com que sua pele brilhe. Me inclino e meus lábios escorregam pelos seus, dando início ao beijo. Mas Isa vira o rosto deixando uma risadinha escapar.

— Você não respondeu, Ton.

Ton?

Escolho uma das cadeiras dobráveis e me sento nela, trazendo Isa para meu colo.

— Depende... — respiro fundo. — Você acredita que existe outra pessoa em qualquer lugar do mundo que te completa?

Fico surpreso ao ouvir minhas próprias palavras após repeti-las tantas vezes para tantas garotas em meio a tantas tentativas. Isa segura em meus ombros, vira um pouco a cabeça e semicerra os olhos.

— A tampa da minha panela? A outra metade da laranja?

— Isso.

Isa joga a cabeça para trás e não contém nem um pouco sua gargalhada. Faço uma cara feia e olho para o outro lado. Algumas apenas me responderam secamente, mas nenhuma delas riu.

Ela controla a risada quando percebe minha reação.

— Ei — seus dedos encontram meu queixo até estarmos cara a cara de novo. — Não acredita mesmo nessas coisas, certo, Ton?

Aperto a nuca e tento responder, mas nada sai quando abro a boca. Nunca senti esse aperto no peito ou essa vontade frustrante de ficar calado como se estivesse dizendo essas coisas para a pessoa errada. Eu apenas penso em cabelos pretos e olhos elétricos.

— Desculpa — diz Isa, séria, ao beijar minha testa. — Eu realmente achei que fosse uma piada.

Passo a mão livre no rosto e balanço a cabeça.

— Acho que estraguei o clima.

Isa agora não está mais sentada em meu colo, ela puxa o vestido até a área acima de suas coxas e ajusta as pernas para montar em mim.

— Posso ser sua outra metade por alguns minutos.

Ela agarra minha camisa e cola sua boca na minha, fundindo as duas de forma que consigo sentir o gosto de morango de seu gloss. Enterro minhas mãos na cabeleira dela e a posiciono para que ela se encaixe ainda mais em mim. Puxo um pouco mais seu vestido e ela sorri durante o beijo em que eu tanto me afogo para ofuscar meus pensamentos sobre cabelos pretos e olhos elétricos.

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Comments

Toyzin

Toyzin

Bem, eu gostei das camadas dele de personagem... mas senti que é traição drle, mesmo que eles nem se conheça direito. Kakkakaka/Facepalm/

2024-01-06

1

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