Capítulo 19

Não tenho tempo para sofrer, preciso cuidar de mim e dessa criança. A noite foi muito longa, não consegui dormir, entre enjôo e muito choro, lembrei-me dos conselhos do meu pai, das vezes em que ele conversava com o meu irmão. Ele sempre nos disse que não importa as consequências, deveríamos sempre assumir nossos erros. O cansaço me fez adormecer, o rosto de Enzo dizendo que me ama, me fez acordar muito cedo.

Fui para o banheiro e tomei banho, não queria ter que descer, os meus olhos estavam inchados e a minha cabeça doía muito. Depois de colocar um pouco de cor no rosto com uma leve maquiagem, fui até o quarto do Luca, queria abraçar ele, conversar, dizer que estou preocupada e com muito medo, mas então me lembrei que ele não estava.

HUGO. Bom dia filha, tudo bem?

O silêncio doloroso tomou conta de mim, não sabia o que responder. Ele aproximou-se e me abraçou, mesmo sem dizer uma palavra ele sentiu a minha dor. Chorei muito ali com ele, o seu abraço terno me dizia que iria ficar tudo bem, mas tinha plena consciência que iria ficar decepcionado quando soubesse o que estava acontecendo.

"Pode ligar para ele... Por favor, pede para o Luca vir... Quero ficar com o meu irmão."

HUGO. Está tudo bem, vamos ligar para ele... Filha, o que está acontecendo?

Ele ficou muito preocupado, e tentou me abraçar novamente, não queria estar ali, precisava dar um jeito e resolver a minha vida. Logo a minha mãe apareceu e ficou sem saber o que fazer quando me viu tão agitada.

HELENA. Já liguei para ele... É frustante ela estar assim e precisarmos chamar o Luca, somos os pais dela, essa segurança deveria ser passada por nós Hugo, não pelo irmão!

HUGO. Não é minha culpa e muito menos a sua, ela decidiu, não podemos fazer nada.

O que era para estar sob controle virou uma bola de neve. As minhas crises voltaram, não consegui falar e ainda para piorar, comecei a sentir um enjôo muito forte.

Estava sentada na escada e os meus pais em pé diante de mim. Eles me deram espaço e não ficaram me tocando. Os trigêmeos também ficaram olhando e até Sanny tentou me ajudar.

SANNY. Tem um pouco de água aqui Liz, vou colocar do seu lado, se quiser pode tomar.

MIGUEL. Papai, quem machucou a minha irmã? Foi aquela estúpida da Lavínia?

HUGO. Não filho, ela está com alguns problemas... Vão brincar, logo tudo isso vai passar.

LUCA. Estou aqui Liz... Já cheguei minha vida...

Ele foi até onde estava abaixou na minha frente e segurou nas minhas mãos. Nada de abraço ou contato maior que isso. Luca levou as minhas mãos até o seu peito e ficou quieto.

"Não aguento mais isso.... Estou muito cansada..."

Falava o tempo todo entre os meus soluços, chorava muito e Luca apenas escutava. Já não aguentava mais e acabei vomitando ali, no meio da sala e nos pés do Luca.

LUCA. Ok, agora vamos para o hospital... Precisa se acalmar...

"Estou bem, só... Está tudo bem..."

Parece mentira, mas depois do vômito comecei ficar bem melhor. Não contei o que estava acontecendo, minha mãe me levou para tomar um banho e Luca foi tomar o dele. Em seguida, ele foi no meu quarto, segurou-me pelas mãos e me levou até a mesa de café. Não estava com fome, mas precisava me alimentar.

HUGO. Liz se quiser algo diferente, posso preparar para você...

"Obrigada pai, está tudo bem... Só senti muita falta do Luca."

HELENA. Ana, por que a Lavínia não desceu para o café?

ANA. Ela saiu muito cedo senhora... Não era nem sete horas.

LUCA. Como assim saiu... Para onde ela pode ter ido?

Naquele mesmo dia seria dado o almoço para os pais da Marina, então por volta das dez horas eles chegaram. Ideia da minha mãe que eles viessem bem mais cedo para conversarem e estarem mais próximos.

Fiquei o tempo todo na praia, não queria falar com ninguém, nem ver ninguém. Só queria ter um pouco de sossego.

HELENA. Por favor, entrem e fiquem à vontade. Marina minha pequena, tudo bem?

MARINA. Tudo bem senhora... E a Liz onde está?

LUCA. Está na praia, ela teve uma crise, hoje não está sendo um dia muito bom...

MARINA. Luca, se quiser podemos voltar outra hora, sei o quanto se preocupa com a Liz...

LUCA. Desculpa... Não foi a minha intenção ser grosseiro, só estou muito preocupado com a minha irmã, a Liz é tudo para mim e ver ela sofrendo me deixa sem chão.

RAFAEL. Marina nos contou sobre as condições da Liz, só não entendo como uma menina cercada de tanto amor pode ter desenvolvido tantos problemas emocionais.

HUGO. Helena e eu tivemos muitos problemas no início do nosso casamento... Nem sempre fomos assim, acredito que muitas coisas prejudicaram, principalmente a minha ausência.

MARINA. Tenho certeza que ela não contou, por isso vou falar... A Liz desmaiou outro dia na minha casa, vim embora com ela e no caminho ela passou muito mal, fui com ela para o hospital...

LUCA. O quê? Como foi para o hospital, por que não disse nada?

MARINA. Ela não deixou, a médica queria ter ligado, eu também pensei em ligar... A Liz ficou desesperada dizendo que íamos assustar o pai dela e que ele não poderia ficar doente, estressado.... Ela não deixou!

HUGO. Sabe o que a médica disse?

MARINA. Que ela precisa ficar mais tranquila e que tem que continuar com as terapias.

LUCA. E você ouviu a médica dizendo isso, ou a luz que falou?

MARINA. A Liz falou para mim...

LUCA. É mentira... Ela está mentindo e...

Luca estava terminando de falar quando Lavínia chegou. Ela estava toda sorridente e foi muito educada com todos.

LAVÍNIA. Bom dia! Oi Marina, tudo bem?

Marina ficou em silêncio apenas observando as atitudes dela.

LAVÍNIA. Bom dia Luca, como está?

LUCA. Bom dia, estou bem... Lavínia posso saber onde estava?

LAVÍNIA. Hoje comecei a fazer um curso para gestantes... Não sei nada sobre o assunto, preciso aprender KKK. Aqui está um convite, seria bom ir também, afinal de contas descobri que trocar fraldas pode ser uma guerra Kkkk...

A minha mãe começou a rir, ela lembrou de quando ia trocar as fraldas dos trigêmeos, realmente era uma guerra.

Marina ficou um pouco apreensiva por ver que Lavínia ganhava espaço.

LAVÍNIA. Espero aprender tudo antes do bebê nascer, acho que a única coisa boa que posso fazer é ser uma boa mãe... Pelo menos isso! Com licença vou para o meu quarto.

Lavínia estava se comportando diferente, não criou nenhuma confusão e realmente não saiu do quarto para nada. Quando chegou a hora do almoço, Ana levou o seu prato para o quarto e ela fez sua refeição lá.

HELENA. Ela não vai descer?

ANA. Não senhora, achou conveniente comer lá, disse que não quer chatear ninguém com a presença dela.

MARINA. Não há necessidade disso, posso ir falar com ela? Se ela entendeu que o Luca está namorando comigo, não vejo necessidade dela se trancar no quarto, é o seu bebê, isso pode causar alguma depressão nela e ser prejudicial...

LÚCIA. Isso mesmo filha, também acho que deve deixar as coisas bem claras.

Marina com a aprovação do meu irmão subiu até o quarto da Lavínia e o que rolou lá foi simplesmente arrepiante.

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