Entramos na sala real revestida de paredes brilhosas e desenhos arcaicos. Linhas semicirculares e espirais enfeitavam também o teto, onde a imagem do Deus Criador, pintada há décadas, dava a impressão de estarmos ali sob a presença dele próprio, o ser que castigou o meu pai e todos os seus antecessores que foram além do que lhes era permitido pelas escrituras sagradas.
O mosteiro das virgens é um local que guarda as palavras sagradas e recebe vez e outra revelações do próprio divino. A cada três anos, novas meninas são recrutadas para o grupo, onde realizam o difícil processo de iniciação, começando pela renúncia a todo e qualquer tipo de prazer carnal. Em seguida, são algemadas e trancafiadas em uma cela solitária, da mesma forma que os criminosos de guerra são tratados na prisão, recebendo por semanas ou meses somente pão e água como alimento.
Uma noviça só se torna freira quando o processo é finalizado com êxito. No início, nenhuma menina deseja viver naquele lugar rígido e dogmático. Algumas crescem sendo influenciadas a irem por livre e espontânea vontade, enquanto outras são obrigadas ou extraídas de sua família para preencherem as vagas do recrutamento.
Quanto mais melhor, afirma o sacerdote chefe, pois segundo ele, maiores serão as chances de uma delas entrar em contato direto com o divino enquanto são martirizadas como o próprio filho de Deus.
Ouvi pela primeira vez a descrição de todo esse processo pela boca do próprio sacerdote chefe do reino de Valeria, um homem velho e calvo de longa e espessa barba grisalha, quando ele conversava com o meu pai na sala real.
Eu tinha acabado de completar a idade daquelas meninas que para o mosteiro eram levadas, e estávamos em mais um ano de recrutamento, quando um grupo de sacerdotes entraram na sala real, onde fizeram uma reverência, baixando a cabeça diante do chefe supremo do reino e do representante do Deus Criador na terra.
Aqueles quatro homens usando mantos brancos com capuzes cobrindo parcialmente seus rostos e um cordão preso à cintura me viram sentada em uma cadeira menor ao lado do grande trono real, do qual o rei se levantou, erguendo o anel real.
— Falem.
Eles ergueram a cabeça, e o sacerdote menor em estatura deu um passo à frente, olhando para o seu superior religioso, que esboçava um sorriso largo em seus lábios enrugados e flácidos.
— Viemos buscar vossa filha, pois como profetizado pelas freiras anciãs, ela deve ser entregue ao divino em pagamento pelas vitórias concedidas nos campos de batalhas.
O meu pai baixou o braço, tocando a mão sobre o cabo dourado de sua espada na bainha, e ergueu o queixo em gesto de autoridade.
— A princesa Isabella ainda é muito nova — retrucou. — Prometi que entregaria minha primogênita ao mosteiro se conquistássemos as próximas guerras, mas…
— Rei Salazar — disse o sacerdote chefe —, me desculpe por interrompê-lo, mas uma promessa é uma dívida irrevogável. Entenda, Deus cumpriu sua parte e agora é vossa vez de cumprir a sua.
O meu pai o encarou, respirando com dificuldade. Ele parecia não acreditar que o dia prometido havia realmente chegado, só que mais cedo do que esperava. Suas palavras de incredulidade ecoaram pelo curto espaço entre seus lábios grossos e seu queixo baixou sem que pudesse evitar o peso da verdade.
— Levam a menina — disse o sacerdote chefe, apontando seu báculo em minha direção. — Rei Salazar, sua filha poderá ser a freira mais íntima do Deus Criador. Alegre-se com essa possibilidade. Não veja o recrutamento dela como a prisão de um criminoso, mas como um feito inédito para o reino de Valeria, que pela primeira vez preparará uma nobre para se tornar mais uma esposa do divino.
Fiquei assustada com a aproximação daqueles homens que sob seus capuzes emitiram palavras indecifráveis em tons sussurrantes. Suas mãos se moviam em círculos ao redor de mim antes que agarrassem os meus braços e as alças do meu vestido longo.
— Papai!
Eu gritava, me debatendo na tentativa de me libertar daqueles homens estranhos. Um deles alisou os meus longos cabelos loiros, fazendo a minha tiara de princesa cair no chão, e outro apreciou a maciez do meu rosto angular e muito bem moldado pela minha linda herança genética.
Eles me arrastaram até a porta de entrada da sala real, onde pararam de repente ao som da voz do meu pai, rugindo como um leão na selva e desembainhando a espada de sua bainha com a agilidade de um leopardo.
— Soltem a minha filha!
— Rei Salazar, esse é o destino dela, não ouse se opor à vontade do Deus Criador…
— Cale-se! — apontou a espada sobre a garganta do sacerdote chefe. — Se não quiser perder sua cabeça, ordene que seus subordinados soltem a minha filha, ou farei isso à minha maneira, arrancando as mãos e os braços de um por um com a minha espada.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
💗Menis💗
Mano... que TOPPPP
2024-07-09
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