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...Isabella Salazar...

O sacerdote chefe ergueu o báculo sem mover sua cabeça, temendo que sua garganta fosse cortada pela proximidade da lâmina afiada. Seus subordinados compreenderam o gesto e, no instante seguinte, me soltaram.

Corri para os braços do meu pai. Subi os degraus com rapidez até abraçá-lo pela cintura, chorando como se tivesse tido um terrível pesadelo há poucos minutos. Sua mão alisando os meus cabelos loiros aliviou o meu medo que aqueles estranhos causaram em mim com seus toques invasivos e expressões questionáveis.

—  Agora saiam do meu castelo!

—  Pense melhor no que está fazendo, rei Salazar. Sua oposição ao cumprimento de vossa promessa com o Deus Criador poderá lhe gerar consequências futuras…

—  Você também. Saía do do meu castelo com os seus subordinados!

A ordem do rei ecoou pela sala real e os acompanhou até a saída. Permaneci ali na companhia do meu amado progenitor, que recolocou sua espada na bainha e, após apanhar a minha tiara do chão, a pôs de volta em minha cabeça, dizendo:

—  Deus pode ter todas as mulheres deste mundo, menos você, minha filha. Quero que um dia você se torne uma grande rainha e a mulher mais poderosa de todo o continente de Orlandes. — Seu abraço me devolveu a sensação de segurança e acalmou gradualmente o meu coração acelerado. —  Promete que fará isso por mim?

—  Sim, papai.

E ele me abraçou de novo, me apertando com força como se temesse que eu fosse retirada de perto dele algum dia. Não obstante, o contrário ocorreu, foi ele quem de perto de mim foi retirado, deixando seu filho caçula e imaturo no poder.

—  Sente-se, Alexander —  apontei o trono real. —  O que está esperando?

—  Isabella, o nosso pai nunca me deixou sentar no trono dele.

—  E com razão. Você não era o rei até poucos dias atrás. Portanto, é diferente agora. É direito seu sentar no trono real e governar este grande reino que nosso pai construiu.

Alexander olhou para mim, como se enxergasse uma pessoa melhor para estar em seu lugar. Sua voz vacilante confirmou minha impressão, enquanto seu corpo permanecia muito hesitante.

—  Você pode se sentar no meu lugar?

—  Alexander, isso não…

—  Por favor! Não me sinto bem desde que me levantei mais cedo aos gritos daquelas pessoas lá fora. Eu gostaria de ir à biblioteca conversar um pouco com a nossa mãe.

Mais uma vez ele insiste em falar dela como se a rainha ainda estivesse presente entre nós, viva neste mundo de amor e dor. Lembro que o vínculo entre os dois era muito forte, mas isso não deve de forma alguma impedir ou nublar a compreensão da nova realidade.

—  Nossa mãe está morta, Alexander —  relembrei, tentando trazê-lo de volta às suas obrigações reais.

—  Não… — murmurou ele, baixando o olhar, enquanto seu corpo tremia e seus olhos lacrimejavam.

—  Erga a cabeça e se concentre no aqui e agora. Esqueça aquela biblioteca por um momento. Se você não resolver logo a revolta dessa gente pobre, a harmonia estabelecida por nosso pai pode acabar mais cedo do que imagina.

—  Não, Isabella, eu não consigo.

Ele lançou para mim um olhar amedrontado, como o de uma criança encolhida em um canto, tentando sumir do monstro horrível que a envolve com suas sombras.

Assim estava o meu irmão, desde que tomou nota de sua nova posição na hierarquia da nobreza, amedrontado com o monstro das responsabilidades de governar um reino enorme.

Valeria sempre foi um desafio para o nosso pai, como uma mulher difícil de ser agradada por ter várias vontades próprias e até algumas que se nega a revelar. Sendo dever do rei, desvendar os mistérios de seu próprio reino.

—  Alexander —  gritei seu nome, esperando convencê-lo a não sair da sala real. —  Alexander!

Correu como se sua vida estivesse em perigo. Poucas vezes ele esteve na sala real, e nas suas poucas oportunidades ali, na companhia do nosso pai, foi de alguma forma rejeitado, pois quase sempre fora ignorado quando tentava atrair a atenção do rei, que sempre voltava o seu olhar para mim de momento a momento, para conferir se eu ainda estava sentada ao seu lado. Talvez por essa razão seu filho caçula se apegou tanto à rainha.

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