Protegida pelas sombras

Rayan despertou com a luz suave da manhã filtrando-se pelas cortinas de linho, projetando sombras delicadas nas paredes do quarto elegantemente decorado. Espreguiçando-se preguiçosamente, sentiu o frescor dos lençóis de algodão egípcio contra sua pele antes de se levantar e seguir em direção ao luxuoso banheiro de mármore.

O som sereno da água corrente preencheu o ambiente enquanto ele ajustava a temperatura do chuveiro. A água quente deslizou por seu corpo, dissipando os resquícios do sono e revigorando seus músculos. Após um banho e uma rotina de cuidados pessoais pontuada pelo aroma sutil de seu perfume favorito, Rayan escolheu um terno sob medida de tecido italiano, vestindo-se com a naturalidade de quem está acostumado ao requinte.

Descendo a escadaria em espiral da mansão — cujos degraus de mármore polido reluziam sob a iluminação matinal —, ele adentrou a ampla sala de estar, onde o aroma tentador de café fresco e pão quente pairava no ar.

— Sr. Thompson, o café da manhã já está servido — anunciou Alda, a cozinheira, que agora se dedicava exclusivamente à elaboração das refeições, enquanto as demais empregadas cuidavam da manutenção impecável da casa.

A mesa, primorosamente disposta com porcelanas finas, refletia o brilho dourado dos raios solares que atravessavam as grandes janelas, iluminando os arranjos florais estrategicamente posicionados.

— Alda, estou de saída para a empresa. Não tomarei café hoje — disse Rayan, pegando as chaves do carro sem desviar o olhar do relógio.

A cidade ainda despertava quando ele chegou à entrada da imponente sede da Thompson Enterprises. A torre de vidro e aço erguia-se majestosamente, refletindo o céu azul em sua arquitetura audaciosa. Assim que cruzou o saguão principal, as recepcionistas se apressaram em saudá-lo com um sincronizado “bom dia”, mas ele sequer diminuiu o ritmo, avançando determinado pelo piso de mármore polido, suas passadas ecoando no ambiente elegante.

Dentro do elevador privativo, pressionou o botão para o último andar e observou seu próprio reflexo nas paredes espelhadas. A cabine subia suavemente, concedendo-lhe breves segundos para ajustar a gravata e revisar mentalmente a agenda do dia.

As portas se abriram silenciosamente, revelando o andar executivo. O espaço, dominado por móveis de design contemporâneo e janelas imponentes, oferecia uma vista panorâmica da cidade. Ao entrar em seu escritório — amplo, sofisticado, decorado em tons sóbrios de cinza e azul —, encontrou Sara, sua eficiente secretária, já a postos, segurando uma pasta repleta de documentos importantes.

Rayan narrado::::

— Bom dia, Rayan — disse ela, com um sorriso amplo.

— Sara, ligue para o Navarro e informe que o aguardo.

— Imediatamente, Rayan.

Entro em minha sala e, alguns minutos depois, Sara aparece sem bater, trazendo uma xícara de café fumegante. Ela coloca a xícara na mesa com cuidado, abaixando-se mais do que o necessário, fazendo seu decote profundo ser claramente notado.

— Preparei o café exatamente como o senhor gosta — diz ela, com um sorriso sugestivo, movendo-se suavemente ao redor da mesa até ficar atrás de mim. Suas mãos deslizam, como se fosse natural, sobre meus ombros, começando uma leve massagem.

— Vi que o senhor parece preocupado, talvez não tenha dormido bem. Deixe-me aliviar essa tensão — a sugestão em sua voz é inconfundível.

— Hoje não! — respondo, afastando suas mãos com firmeza.

— Mas o que aconteceu? — Ela se aproxima ainda mais, virando minha cadeira e, sem aviso, sentando no meu colo.

— Sara, você está surda?

Seu olhar se apaga por um momento, mas ela se levanta lentamente, ajustando a saia e saindo sem dizer uma palavra a mais.

Alguns minutos depois, Sara entra novamente e anuncia a chegada de Navarro.

— Bom dia, Rayan. Dossiê da menina Salles. — Ele coloca uma pasta grossa sobre a mesa, repleta de documentos e fotos. Enquanto folheio as páginas, Navarro se senta à minha frente, observando atentamente minha reação.

— Ela é jovem, Rayan. Apenas 18 anos, completados a alguns meses. Mas já enfrentou mais do que a maioria. Perdeu o pai para o crime ainda criança e, a mãe... Bem, a mãe é usuária de drogas, com várias passagens pela polícia. Um detalhe que me chamou a atenção foi um boletim de ocorrência que Alice registrou contra o namorado da mãe por abuso. Dois dias depois, ela retirou a queixa. Pouco tempo depois, veio parar nos Estados Unidos, ilegalmente, claro. Está aqui há quase dois anos. Durante o dia, trabalha em uma lanchonete e, à noite... — Navarro hesita, tossindo levemente, desconfortável.

— À noite, ela trabalha em uma boate.

Levanto uma sobrancelha e lanço um olhar afiado em sua direção.

— Ela é dançarina, Navarro. Não é o que você está pensando.

— Ah, sim... Claro, desculpe. Qual a sua intenção com a menina, Rayan?

— Não te interessa. — respondo, com frieza. — Quero que você veja com nossos contatos no Brasil. Quero saber tudo sobre a família dela, o que estão aprontando. E quero saber por que ela retirou a queixa. Coloque um segurança à paisana atrás dela, sem que ela desconfie disso. Ouviu bem? Quero ela em segurança.

— Considere feito, chefe. — Ele diz, levantando-se e saindo rapidamente da sala.

Fico sozinho, ainda folheando o dossiê. Dentro dele, encontro o endereço da lanchonete onde Alice trabalha, salvo o número dela no meu celular, e fico olhando para as fotos dela.

Alice narrando:

Acordo antes mesmo do celular despertar, ainda sentindo os resquícios dos sonhos da noite anterior. A imagem de Rayan flutua na minha mente, como uma presença invasiva. "Alice, acorde, mulher, pare com isso", digo a mim mesma, tentando afastar os pensamentos que insistem em me distrair. Mas, quanto mais tento ignorá-los, mais eles se tornam nítidos.

Levanto-me devagar, o corpo pesado pela noite mal dormida. No banheiro, deixo a água quente relaxar meus músculos tensos, tentando aliviar a pressão acumulada. A rotina de higiene se arrasta como um reflexo automático, sem prazer, apenas o desejo de me sentir viva novamente. Mesmo com o banho quente, a sensação de cansaço persiste, como se o sono não fosse suficiente para me revigorar.

Com o corpo mais leve, vou para o quarto e escolho um vestido simples e fresco, ideal para o calor implacável da lanchonete. Lá, não usamos uniformes rígidos; um avental é o único requisito para o trabalho. Pego minhas coisas rapidamente, tentando ignorar a sensação de que o dia será mais pesado do que o habitual, mais intenso do que estou pronta para enfrentar.

Ao entrar na lanchonete, o aroma acolhedor de café fresco e pão quentinho me envolve. Cumprimento todos com o sorriso que se tornou habitual, tentando esconder a ansiedade que já toma conta de mim. O Sr. Frederic Smith, meu patrão de 60 anos, me observa da mesa do canto, seu olhar enigmático me atravessando como sempre. Ele foi o único que me deu uma chance quando cheguei aqui, sem perguntar sobre documentos ou minha idade. Algo em sua atitude sempre me pareceu bondade, mas há algo nos olhos dele que me incomoda, algo que me faz sentir exposta.

Ana, minha colega de 20 anos, me cumprimenta com seu sorriso caloroso. Ela é linda, tanto por dentro quanto por fora, e ao longo do tempo se tornou uma amiga valiosa. Mas existem segredos que ela não conhece, coisas que escondo por vergonha, por medo de ser julgada. Meu trabalho à noite, na boate, é um deles. Algo que nunca tive coragem de revelar.

Lucinda Smith, esposa do Sr. Frederic, me acena de dentro da cozinha com um sorriso afetuoso. Ela é a responsável por todo o preparo das refeições ali, uma mulher bondosa e simples, que parece não ter malícia no coração. Deixo minha mochila no canto da cozinha e começo a me preparar para o turno, tentando afastar a sensação persistente de que estou sendo observada.

O dia avança e a lanchonete começa a se encher. Mergulho na rotina, servindo os clientes, tentando não pensar em nada além do trabalho. Mas, conforme as horas passam e o relógio se aproxima das seis da tarde, sinto um nó na barriga, uma ansiedade crescente.

Rayan narrando:::::

Em seu escritório, Rayan esfrega os olhos cansados e olha para o relógio, seu corpo pedindo descanso. Ele sabe que, a essa hora, Alice provavelmente já saiu do trabalho, mas algo o impulsiona a agir. Algo que ele não consegue explicar. Ele pega o telefone e liga para o segurança encarregado de observá-la discretamente.

— Ela ainda está na lanchonete, senhor — informa o segurança, sua voz grave e impessoal.

— Ótimo — responde Rayan, a voz carregada de uma determinação que ele não consegue ignorar. Ele não sabia ao certo por que sentia necessidade de ir até lá, mas sabia que algo dentro dele não iria descansar até que o fizesse.

Com um movimento decidido, ele sai do prédio e se dirige até a lanchonete. Ao chegar, dispensa o segurança e estaciona em uma rua próxima, aguardando. Ele observa a entrada da lanchonete, seus pensamentos fixos na maneira como irá se aproximar, como vai quebrar a distância que ainda existe entre ele e ela. Não é apenas curiosidade. Algo mais profundo está em jogo.

Alice narrando:::::

— Ana, pode ir embora. Você ainda precisa pegar seu filho. Eu termino por aqui e entrego a chave para o Sr. Smith no apartamento dele — disse Alice, com um sorriso cansado.

— Tem certeza, amiga? Olha, não vou recusar, viu? Já passou muito do horário de buscar meu filhote. Te devo uma. Até amanhã! — Ana deu um beijo rápido no rosto de Alice e saiu apressada.

Enquanto Ana caminhava em direção à porta do salão, o Sr. Smith apareceu inesperadamente. Sua presença sempre causava um calafrio. Ele era um homem de aparência austera, com rugas profundas que pareciam contar histórias de uma vida inteira de trabalho, mas seus olhos, sempre penetrantes, traziam um brilho desconcertante.

Ana:

— Até agora, Ana? — ele perguntou, uma sobrancelha erguida, sua voz grave e observadora.

— Tinha uns clientes que demoraram a ir embora. Já estou de saída. A Alice está só recolhendo o lixo da cozinha e vai fechar e entregar a chave para o senhor — explicou Ana, visivelmente nervosa.

— Ok, vou ajudar com isso — disse ele, fechando a porta atrás de si, deixando Ana do lado de fora.

— Amiga, vai pegar o seu filho, menina... — Alice murmurou, virando-se para sair. Mas, ao dar uma última olhada, seus olhos se arregalaram ao perceber que não era Ana quem havia entrado, mas o próprio Sr. Smith.

— Sr. Smith, desculpe, pensei que era... — Alice começou, visivelmente desconfortável.

— Eu sei... — ele a interrompeu, avançando um passo. — Vou ajudar você.

— Não precisa — Alice respondeu, dando um passo para trás, sentindo a tensão crescer no ar. Algo estava errado.

— Qual é o seu problema, Alice? — Ele perguntou, a voz mais grave, os olhos estreitos, como se estivesse analisando cada movimento dela.

— O que?! — Alice exclamou, surpresa com o tom de sua voz.

— Qual é o seu problema? Toda vez que me aproximo, você se afasta. Não sou bom o suficiente para você? — A voz de Smith se tornou mais sombria, quase ameaçadora.

— Como assim, Sr. Smith? O senhor é meu patrão! É casado, tem filhos, tem uma família... — Alice respondeu, tentando manter a calma, mas seu coração batia forte demais.

Smith ignorou suas palavras e avançou, suas mãos pegando-a com uma força inesperada. Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando ele a segurou, puxando seu corpo para mais perto do dele.

— Tão gostosa, tão linda... — ele sussurrou com um tom carregado de desejo, beijando-lhe o pescoço de forma lasciva. — Nunca tivemos um minuto sozinhos nesses dois anos. Vamos aproveitar.

— Me solta, Sr. Smith, por favor, não faça isso! Me solta! — Alice implorou, a voz tremendo de desespero enquanto tentava, inutilmente, se desvencilhar dos braços dele.

Smith a segurou ainda mais forte, seus olhos queimando de luxúria, ignorando os pedidos desesperados de Alice. Ela gritou, um som abafado, que ecoou pela cozinha enquanto tentava se livrar.

Sem aviso, o Sr. Smith deu um tapa brutal no rosto de Alice. O impacto a fez cair no chão com força, esbarrando em panelas e pratos que caíram com um estrondo ensurdecedor. Ela tentou se levantar, mas a dor a paralisou.

Smith avançou sobre ela, com um peso esmagador, como se estivesse decidindo cada movimento com uma frieza assustadora. Suas mãos deslizavam pelo corpo de Alice de maneira invasiva, enquanto ela se debatia, aterrorizada.

Com um gesto cruel, ele agarrou a gola do vestido de Alice, rasgando-o de cima a baixo. O tecido cedeu sob sua força, expondo a pele de Alice, que agora estava completamente vulnerável. Ela soluçava, chorando, implorando para que ele parasse, sua voz quebrada.

— Por favor, não... pare... — sussurrou Alice, sua voz cheia de desesperança.

Mas, em vez de parar, Smith a acertou com outra bofetada, mais forte do que a anterior. O som do impacto reverberou pela cozinha vazia, deixando o rosto de Alice marcado pela violência.

— Cala a boca — ele ordenou com frieza, seus olhos como pedras, sem qualquer empatia.

Alice, agora no chão, envolta em lágrimas e dor, sentia o desamparo crescer a cada segundo. O mundo à sua volta parecia girar, e ela não conseguia se proteger. A sensação de impotência era esmagadora.

________________________________________

Rayan narrando:::::

Rayan observava tudo do carro, seus olhos fixos na figura de Ana se afastando, conversando com o Sr. Smith. Quando ela saiu, ele percebeu que a lanchonete estava fechada. Algo em sua intuição, uma sensação aguda de algo errado, o fez ficar alerta. Ele sabia que Alice ainda estava lá.

— Cadê você, pequena? — murmurou Rayan, olhando impaciente para o relógio.

Sentindo um aperto no peito, ele saiu do carro e caminhou até a porta da lanchonete. Um barulho abafado vindo do interior fez seu coração disparar. Forçando a fechadura, ele entrou rapidamente, seus passos firmes e decididos em direção à cozinha.

Ao chegar à cena, o horror tomou conta dele. O Sr. Smith estava sobre Alice, que estava caída no chão, em um estado de desespero. O vestido rasgado revelava sua vulnerabilidade, e o pavor era visível em seu rosto. Alice estava chorando, tentando se proteger.

— Solte-a agora! — Rayan gritou, sacando o revólver da cintura e apontando-o diretamente para Smith.

Smith, surpreendido, ergueu os olhos, sua expressão se transformando em medo.

— Quem é você? O que está fazendo aqui? — balbuciou Smith, a voz trêmula.

— Rayan! — a voz de Alice, fraca e desesperada, quase fez Rayan perder a compostura.

Ele não podia mais esperar. Seu ódio era palpável. Seus olhos fixos no agressor estavam incendiados de fúria.

— Vem cá, pequena — disse Rayan, estendendo uma mão para Alice, enquanto mantinha a arma firme, apontada para Smith.

Ela correu para seus braços, chorando e tremendo, se agarrando a ele como se fosse sua única salvação. Rayan a envolveu com um cuidado feroz, sabendo que nada mais seria como antes. Ele olhou para o homem ainda deitado no chão.

— Eu vou acabar com você! — Rayan rosnou, sua voz cheia de uma fúria que ele não conseguia controlar.

Alice, com o rosto inchado e o corpo frágil, tentou acalmá-lo.

— Rayan, ele tem família, filhos... Não vale a pena — suplicou ela, tentando impedir que a violência tomasse mais um passo.

Rayan olhou para Alice, seu rosto marcado pela intensidade de sua dor e raiva.

— Nunca mais alguém vai te fazer mal, pequena — falou com firmeza, sem tirar os olhos de Smith. — Por favor, olhe para o outro lado.

Alice, ainda se escondendo nos braços dele, fez o que ele pediu, tentando se afastar da cena de horror.

Smith, tentando se reerguer, gaguejou.

— Espera...

Antes que pudesse terminar, Rayan disparou um tiro certeiro, fazendo o corpo de Smith cair pesadamente no chão, sem vida.

Rayan guardou a arma e se aproximou de Alice, com mãos gentis. Colocou seu casaco sobre os ombros dela, cobrindo-a com o que restava do vestido rasgado.

— Venha, vou te levar para casa — ele disse, sua voz suave, mas cheia de determinação.

Ele a ajudou a entrar no carro e logo ligou para Victor.

— Chefe? — Victor atendeu.

— Navarro, preciso de uma limpeza na lanchonete onde Alice trabalha.

— Entendido, chefe. Considere feito — respondeu Victor, desligando rapidamente.

Enquanto dirigia em direção à sua mansão, a raiva de Rayan parecia incontrolável. Mas, mais do que nunca, sua prioridade era Alice. Ele a protegeria, não importa o que fosse preciso.

— Você vai ficar segura, pequena. Eu prometo — ele murmurou para si mesmo, determinado a garantir a segurança dela.

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Comments

Maria Da Guia

Maria Da Guia

é agora será que não vão culpa a Alice? eu acho que erra para ter chamado a polícia e ela fazia um boletim de ocorrência! ele matou o velho

2024-12-22

0

Rayelle Machado

Rayelle Machado

Foi De Arrasta Pra Cima .

2024-11-27

0

Anonymous

Anonymous

CPF cancelado desse estuprador miserável.

2024-11-10

0

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