A dança

Enquanto isso...

Alice deslizou discretamente pelos bastidores da Roxy Bar, movendo-se com familiaridade pelo corredor mal iluminado. O cheiro de perfume barato e cigarro impregnava o ar, misturando-se ao burburinho abafado das dançarinas que se preparavam para mais uma noite de trabalho. Assim que entrou no camarim, encontrou Paulo — seu fiel amigo e um dos poucos rostos confiáveis naquele lugar.

Ele a avaliou com um olhar de alívio e reprovação.

— Oi, Ayalla. Hoje está lotado, menina. Achei que você não vinha. Demorou um pouco, hein?

Alice soltou um suspiro cansado, mas sorriu.

— Oi, meu amor. Me perdoa. A lanchonete estava cheia, demoramos para fechar. Depois, tive que correr para tomar um banho e trocar de roupa... Mas agora estou aqui.

Paulo cruzou os braços, analisando-a com preocupação.

— Vamos subir então. Você comeu alguma coisa? Não quero que desmaie na cabine.

— Estou bem — respondeu, dando de ombros.

Eles seguiram pelos fundos até o camarim das dançarinas, um espaço repleto de espelhos emoldurados por lâmpadas quentes, cabides lotados de lingeries e vestidos brilhantes espalhados pelo sofá. O som distante da música reverberava pelas paredes, preparando o ambiente para a sedução que logo tomaria conta do salão.

Alice começou a se despir sem hesitação, retirando suas roupas do dia e vestindo a lingerie preta que trouxera na mochila. O tecido justo contra sua pele era um lembrete de que, naquele lugar, ela deixava Alice para trás e se tornava Ayalla.

Sentada em frente ao espelho, ela começou a se maquiar, delineando os olhos com precisão enquanto observava Vivian pelo reflexo. Loira, estonteante... e podre por dentro. Vivian sempre fora oportunista, fazendo de tudo para se manter no topo, ainda que à custa das outras garotas.

A mulher soltou uma risada debochada ao vê-la.

— Olha só, a princesinha resolveu dar o ar da graça! — zombou, antes de se inclinar sobre a mesa e inalar uma carreira de pó sem qualquer pudor.

Paulo bufou, cruzando os braços.

— Se o Sr. Simon te pega usando essas porcarias aqui dentro, ele te bota pra fora, Vivian.

Vivian apenas riu, se levantando e saindo rebolando porta afora, lançando a Paulo uma careta provocativa.

Ele revirou os olhos.

— Essa daí não tem jeito...

Alice terminou de prender os cabelos em um rabo de cavalo alto, ignorando a provocação.

Paulo, no entanto, se virou para ela com um olhar mais sério.

— Você abre o olho com essa mulher, viu? Aquilo ali é cobra.

— Eu sei — respondeu Alice, ajustando a fina alça da lingerie.

Paulo respirou fundo e, então, abriu um sorriso.

— Vamos lá. Hoje você vai para a cabine do camarote um.

Ela assentiu com alívio.

— Obrigada, Paulo. Se eu tivesse que ir pro palco hoje, acho que não ia conseguir. Pelo menos na cabine não tem aqueles velhos babões enchendo o saco.

Paulo riu.

— Você tá um arraso!

Alice se levantou, deslizando os dedos pelo couro justo da bota de cano alto antes de fechar o zíper com um clique seco. Então, pegou a máscara preta e a colocou sobre o rosto.

Ayalla estava pronta.

Alice narrado:::::::

Caminho pelo corredor dos bastidores, conectando os fundos das cabines dos camarotes. Uma porta discreta se abre diretamente para esse corredor, permitindo que as dançarinas entrem e saiam sem passar pelo salão principal.

Giro a maçaneta da cabine do camarote e entro.

O espaço é amplo, cercado por três paredes de vidro, assemelhando-se a uma enorme caixa de bonecas. A barra de pole dance no centro brilha sob a iluminação indireta. Assim que a música começa a tocar, uma luz suave ilumina meu corpo, destacando-me contra o fundo escuro.

Fecho os olhos por um instante e me concentro na batida. Meu corpo responde automaticamente ao ritmo — ora intenso, ora provocante. Minhas mãos deslizam pela pele, meus quadris seguem a melodia com precisão. Sou brasileira. A dança está no meu sangue.

Evito olhar para fora. Não gosto de ver as expressões dos homens — olhares famintos, sorrisos sujos. Estou ali para dançar. Apenas isso.

Me abaixo até o chão em um movimento fluido e sensual antes de me erguer novamente, uma mão no joelho e a outra na barra. Ouço assobios, aplausos, gritos de aprovação. A intensidade do som me faz erguer o olhar.

Minha visão encontra uma mesa cercada por homens. O mais jovem da roda parece entusiasmado. James Salvatore, o filho do porco.

Os outros observam com mais discrição. Não os reconheço, provavelmente não são clientes frequentes da boate. Mas um deles prende minha atenção.

Ele não fala, não reage como os outros. Apenas me encara, segurando um copo de whisky com dedos firmes.

Seu olhar me perturba.

Viro de costas e continuo dançando. "Foca, Alice!", repito para mim mesma.

Mas o peso daquele olhar continua sobre mim. Sinto sua intensidade, como se ele pudesse despir cada camada da minha alma.

Quando a música chega ao fim, faço um último giro na barra e saio da cabine sem olhar para trás.

Rayan Thompson narrando:::::

"Já vi muitas mulheres vestidas assim... Por que essa mexeu comigo?"

Observo cada movimento dela, cada curva moldada pela luz suave da cabine. Seu corpo dança com uma naturalidade quase hipnótica, como se estivesse sozinha no mundo, sem se importar com quem a observa.

"Quem é ela?"

Droga. Está usando uma máscara. Não consigo decifrar sua expressão.

Ela não olha para os clientes, apenas dança — e isso a torna ainda mais intrigante.

O moleque do James Salvatore começa a gritar obscenidades para ela. Ela levanta o olhar, e nossos olhos se encontram.

Por um segundo, esqueço o ambiente ao redor.

Que olhos...

Tentando decifrá-los, sustento o olhar. Mas ela vira de costas e continua dançando.

Que maldita bunda linda.

"Olha pra mim, pequena..."

Como se ouvisse meu pensamento, ela se vira uma última vez, me encara diretamente — e então sai da cabine.

__________________________________________________

Alice encosta na parede dos bastidores, respirando fundo.

"Que droga foi essa, Alice? Recomponha-se! Ele só te olhou, e você já ficou assim?"

Ela balança a cabeça, irritada consigo mesma.

"Deve ser só mais um dos porcos associados ao August Salvatore."

Apressa o passo em direção ao camarim.

___________________________________________________

Paulo observa tudo do bar. Sua amiga dançando. O olhar fixo de Rayan Thompson. A reação de Alice.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Nunca vi minha amiga assim. Já estava na hora...

Decidido, Paulo caminha até a mesa dos Thompson e Salvatore.

— Tudo certo, senhores? Desejam algo?

Rayan não hesita:

— Qual o nome da dançarina da cabine?

— Ayalla, senhor.

August Salvatore solta uma gargalhada.

— Ah, não acredito que você está interessado numa garota de programa, Rayan!

Paulo corrige imediatamente, mantendo a postura profissional:

— Ela não é garota de programa, senhor. Ayalla é apenas dançarina. Ela não sai com os clientes.

August dá um sorriso cínico.

— Dançarina? Sei... Todas têm um preço. Chame-a aqui. Se você não quiser, eu quero.

Paulo se mantém firme.

— Senhor, Ayalla realmente só dança. Ela tem um acordo com o dono da casa.

August revira os olhos, irritado.

— Bah, besteira. E essa despedida de solteiro? Quem vai casar?

Ele aponta para seu filho, que já está embriagado e se agarrando com uma ruiva no canto da boate.

Paulo dá de ombros.

— Bom, despedida de solteiro aqui dá direito a uma apresentação especial no palco principal. Por conta da casa.

August gargalha.

— O garoto já está ocupado... Rayan, que tal você assumir o lugar dele?

Os irmãos e o pai de Rayan trocam olhares cúmplices, segurando o riso.

— Não vou me prestar a esse papel ridículo.

Paulo interrompe.

— Posso colocar Ayalla para dançar para o senhor.

Os homens se entreolham com interesse.

August faz um gesto desdenhoso.

— Se você não vai, eu vou. Quero aquela gracinha rebolando pra mim.

Rayan franze a testa. Algo dentro dele se agita.

— Eu aceito.

"Não vou deixar esse depravado chegar perto dela."

Paulo abre um sorriso satisfeito.

— Me acompanhe, por favor. Mas antes, preciso esclarecer duas regras.

Rayan solta um suspiro impaciente.

— O que agora?

— Regra da casa: você não pode tocar na dançarina. Você ficará sentado e com as mãos amarradas.

Rayan ergue uma sobrancelha, mas assente.

— E a segunda?

Paulo cruza os braços.

— Regra da Ayalla: ela não toca em você. Assim, evitamos expectativas erradas.

Rayan solta um riso baixo.

— Vamos logo com isso.

Roman e Robert riem.

— Essa eu quero ver! — comenta Roman.

— Vai lá, irmão! — grita Robert.

Paulo conduz Rayan para o lado do palco principal, onde um segurança já prepara tudo.

________________________________________________

Enquanto isso, Alice está no camarim, vestindo seu casaco.

Paulo entra às pressas.

— O que você está fazendo?

— Indo embora. Desculpa, Paulo, mas não estou me sentindo bem hoje.

Ele a encara com ceticismo.

— Isso tem a ver com o gostosão do camarote?

Alice franze a testa.

— O quê? Que gostosão? Ele falou alguma coisa? Você tá inventando....

Paulo a imita, revirando os olhos.

— "Que gostosão? Ele falou alguma coisa?" — repete, debochado. — Anda, Ayalla. Não deixa um par de olhos azuis e um peitoral musculoso atrapalharem seu trabalho.

Alice solta um suspiro irritado.

— Só mais uma dança?

— Só mais uma.

— Para qual camarote?

— Palco principal. Despedida de solteiro.

Ela trava.

— Não, Paulo. Não vou.

— Ayalla, ele vai estar amarrado. Ele aceitou suas regras. Você pode até colocar aquela roupa de dominadora e dar umas chicotadas nele se quiser.

Alice encara Paulo por um momento.

Depois, solta um longo suspiro.

— Está bem.

Paulo sorri satisfeito.

Alice ajusta a máscara no rosto. Ayalla estava de volta.

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Comments

Elenita Treptow

Elenita Treptow

😛😛😛😛😛😛😂😂😂😂😂

2024-10-31

0

Fatima Vieira

Fatima Vieira

ele agora se lascou

2024-10-28

0

Marcia Cristina Carneiro

Marcia Cristina Carneiro

28/10/24/esse já tá rendido tá lascado 🤣🤣🤣🤣🤣

2024-10-28

2

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