Sem Volta

(Agora...)

Sally, perdera o sentido por alguns segundos, mas rapidamente recobrou a consciência.

Percebeu que continuava na galeria e que Damon estava por lá, com sua voz grave, que a deixava sob fortes emoções.

Ficou quieta e de olhos fechados, sem saber direito o que fazer. Tempo suficiente para sentir mais uma vez a fragrância sensual que emanava daquele homem de pele dourada.

Ele travava uma discussão sussurrada com Sophie.

— Não saio! Preciso me certificar de que Sally está bem!

— E por que você se importa? Vocês são divorciados. Isso já demonstra que não há mais o que dizer. Sai de perto da minha amiga, agora!

Ele continuou no mesmo lugar, sentado no braço da poltrona, em que estava fingindo estar desacordada.

— Você não vai me fazer voltar atrás, Sophie! — O tom dele era de autoridade.

— Deve estar satisfeito com o que acabou de fazer! Parabéns, seu idiota!

— Eu?! Oras, eu vim saber porque ela ocultou que estava esperando um filho meu e não vou sair daqui sem ter uma resposta!

— Filho seu?! Me poupe! Você mesmo disse que não queria nada que viesse dela não foi? Pois então...

Breve silêncio. O coração de Sally acelerou na expectativa do que ele responderia.

Ele voltou a falar. A voz saiu bem mansa, após um longo suspiro.

— É, mas agora muda tudo, porque não vou deixá-la assim sem mais nem menos, afinal ela está esperando um filho meu!

Sally sentiu as lágrimas ameaçarem a fluir. “Então a única preocupação era o filho...O amor definitivamente acabou ! ”

— Deixa só minha amiga acordar, que ela mesma vai fazer questão de se livrar de você! Sally! Sally!

Ela queria manter os olhos fechados só para saber como Damon descobriu que estava grávida, mas com a insistência da amiga em chamar o seu nome, resolveu se mexer.

— Sophie...

— Ai, graças a Deus!

Sophie correu imediatamente para perto da amiga, cercando- a de cuidado.

— Oh, querida! Até que enfim acordou...

Sally tentou se levantar, mas a amiga a impediu.

— Não faça nenhum esforço. A ambulância já está vindo.

— Ambulância? Não acredito! Não precisava...

— Claro que precisa! — Damon disse sem dar brecha para recusa.

Sally ergueu o olhar para Damon. Não desejava vê-lo tão lindo e nem ter que sentir um estremecimento familiar consumi-la por dentro.

O impacto de rever o homem que jurou odiar, foi tão grande que sentiu o bebê mover-se na sua barriga.

— Damon...

Por um breve instante, ela notou um olhar bem diferente da última vez que a viu. A frieza e o rancor dele tinham sumido. No lugar, uma emoção que ela conhecera um dia e tentava esquecer.

Rapidamente, ele fez questão de tomar as rédeas dos seus sentimentos e num segundo, falou, implacável:

— Antes da ambulância chegar, quero falar com você à sós.

Sophie, feito cão de guarda alterou a voz:

— Você não é obrigada a falar com ele, amiga!

" Verdade! Não precisa perder o seu tempo com ele." Sally pensou.

Essa era a chance de se vingar de todo o sofrimento que a fez passar. Depois poderia expulsá-lo da sua vida de vez e dá altas risadas de ironia para ele sentir na pele qual era o significado de uma mulher consumida pelo pesprezo.

Mas não era bem assim.

Ele era o homem que a abalava de uma maneira inigualável.

Era o pai do seu filho e no fundo, mesmo que detestasse admitir, amava-o.

Sabia, porém, ser impossível um recomeço.

Damon era incapaz de amá-la como antes.

Sally, então, tomada de coragem, respondeu para Sophie:

— Vou ficar bem... Ele não vai demorar.

Algo na expressão dele desmentia as suas palavras. Damon "queria" demorar.

Sophie, contrariada, respondeu, enfrentando-o.

— Vou ficar por perto. Qualquer falta de respeito é só gritar!

A amiga protetora foi até Damon e fez um gesto numa clara ameaça : “ Estou de olho em você.”

Ela fechou a porta atrás de si.

Damon encarou Sally, que baixou a vista e se ajeitou na poltrona.

— Essa sua amiga parece um pitbull!

Ela suspirou, sem dar chance para piadas e com impaciência, tentando se livrar da presença marcante do ex- marido, bradou:

— Vamos, Damon, que droga você veio fazer aqui? Pensei que esse seria o último lugar no mundo que quisesse visitar!

Ele se levantou e pôs as mãos no bolso, avaliando-a tão descaradamente quanto a um tigre a sondar sua presa.

Ele falou com certa emoção na voz:

— Voce sabe o “motivo”.— Ele apontou para a barriga dela. — O outro envelope...Imagino que era sobre a gravidez e esse filho é meu!

Sally deu um risinho amargo.

— Você é muito presunçoso. O que adianta se é seu ou não? Nem acredito que o grande Damon esteja esquecendo o que me falou há meses atrás... Não quer nada comigo, não é assim?

Ele se abaixou e se apoiou em um dos joelhos e firmou- se na beira da poltrona. Ele não a tocou, mas o seu rosto estava a poucos centímetros do dela.

— Sally, você acha mesmo que eu ia propor um divórcio se soubesse que você estava grávida?

— Falta de tentativa não foi. Tentei fazer você conversar comigo, mas você nem se quer quis me ouvir. Minha última esperança foi o envelope que você rasgou na minha cara, lembra?

Damon lembrava muito bem e se torturava todos os dias por ter sido tão grosso. Então, convencendo-se de que ele foi o culpado em não ficar sabendo do bebê, ele suspirou arrependido e disse, trêmulo, segurando a mão de Sally, com delicadeza:

— Oh, Sally... Se você puder ouvir com atenção o que tenho a lhe dizer... Por favor, me perdoa!

As palavras repentinas de Damon deram vazão a toda frustração que Sally teve que conviver sem nenhum dia de trégua, antes mesmo do divórcio.

Seria fácil demais lhe dar o perdão, então naturalmente, foi enfática, soltando-se dele:

— O filho é seu e se faz questão de assumir, tudo bem, trataremos esse assunto legalmente, mas é só isso, pois vou tornar a repetir, entre nós dois não há mais volta!

Após as palavras cortantes, Damon sentiu que um verdadeiro dilema o aguardava: reconquistar a ex-exposa, para criarem juntos o fruto do amor seria um desafio, mas não ia desistir de nada.

"Queria tudo de volta: seu amor, seu perdão, sua família e lutaria até conseguir!"

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