Emoção Indescritível

( Antes...)

Momentos antes de chegar na galeria e constatar que Sally estava grávida, Damon teve que resolver algumas situações que não estavam previstas.

Primeiro, foi a aeromoça que no momento de verificar se os passageiros estavam com os cintos afivelados para se prepararem para o pouso, entregou discretamente um bilhete para ele, e com uma piscadinha, saiu balançando os quadris, numa clara tentativa de atrai-lo.

A aeromoça era muito bonita, mas ficou surpreso com a ousadia dela. "Por acaso aquilo não era contra a política da empresa?"

Talvez por estar atordoado em saber que a sua ex-esposa estava esperando um filho que podia ser seu, iria reconsiderar.

Por curiosidade, abriu o pedaço de papel perfumado e leu rapidamente:

"Oi, eu me chamo Katrina e estou interessada em você. Aceita sair comigo? Salve o meu contato."

Ela pôs o número do telefone e em seguida a marca de um baton.

Damon suspirou, impaciente. A mulher era insistente e o melhor a fazer era cortar o mal pela raiz.

Assim que desembarcou, percebeu que ela estava por perto, como se aguardasse alguma devolutiva do seu convite malicioso.

Ele pegou sua bagagem e foi em direção à ela.

A mulher abriu um sorriso, mas quando notou a fisionomia carrancuda dele, ficou sem jeito.

— Ahn... Katrina, não é?

— Sim... E então?

— Sinto muito, mas sou comprometido. Espero que você tenha mais sorte da próxima vez. Pegue o seu bilhete. Boa noite!

A aeromoça, constrangida, ficou de boca aberta e não conseguiu articular palavra alguma.

Ele sentiu um momentâneo alívio, enquanto se encaminhou para o aceso de desembarque.

Porém, a segunda situação não tardou a acontecer. O telefone começou a tocar.

Já até sabia quem era e o motivo.

Atendeu.

— Oi, Lucca, acabei de chegar em Nova York...

— Ah, beleza! Será que dá pra vir direto pra o escritório? Os CEOs confirmaram presença e daqui a uma hora podemos começar a reunião.

Damon suspirou novamente. Não que houvesse esquecido da importante reunião com os CEO's do mercado americano que estavam ansiosos para conhecer o produto da marca Petrakis, mas naquele momento a sua prioridade havia mudado.

Tudo bem que havia ido exclusivamente fechar negócios com os poderosos clientes, mas a única saida seria despachar o irmão e fazer o que considerava ser imprescindível para ele naquele momento.

— Eu sinto muito, Lucca, mas não posso ir!

Do outro lado, o irmão soltou um palavrão e depois perguntou exasperado:

— Você está de brincadeira comigo! Foi você que marcou este dia e horário, lembra? Eles vão ficar com tanta raiva que não vamos vê-los nunca mais e ainda ficaremos "sujos" no mercado.

— Pode fazer a reunião no meu lugar. Você consegue e além disso, eles sabem que imprevistos acontecem.

— É, irmão, mas até agora, desconheço qual é a sua desculpa para não ir à reunião ... Estou preocupado com a sua falta de profissionalismo.

— Bom... É que preciso saber de algo com urgência e se eu não fizer logo isso, talvez não terei outra chance...

— Damon, você está falando em códigos! Diga logo o que tá "pegando"!

Damon já imaginava o sermão, mas preferiu falar a verdade sobre a ex-esposa.

— Eu preciso falar com Sally!

Lucca explodiu:

— Louco! Perdeu o juízo de vez?! Não acredito que estou ouvindo-o falar uma besteira dessa!

Damon bradou firme:

— Será que dá para ouvir?

O irmão silenciou. Então ele voltou a falar com a voz mais mansa:

—Eu estava no avião e ao ler um revista vi que ela está grávida... Aproximadamente de sete meses. Então se os meus cálculo estiverem corretos, sabe o que significa isso? Pode ser meu!

Lucca continuou em silêncio. Ele processava a informação lentamente e ansioso, Damon perguntou:

— Ainda está me ouvindo?

— Droga, Damon, será verdade? Olha, se for seu, isso é... Estranho, mas ótimo! Você sabe o quanto minha mãe ficaria feliz e poderia até recuperar-se da depressão, mas por outro lado, meu pai ficaria super irritado!

— Não me importa quem vai gostar ou não. Se for meu, tenho meus deveres a cumprir e não vou deixar um filho meu ser registrado como um bastardo qualquer! Afinal é vum Petrakis!

Lucca riu ironicamente:

—Só que depois do "papelão" que você fez com ela, Sally literalmente não vai querer vê- lo nem pintado de ouro!

Damon sentiu um tremor involuntário se alastrando em seu ser. Estava totalmente perdido com a revelação da gravidez e a possibilidade de ela concretizar a ameaça de não querer voltar para ele.

— Ela deve me odiar...Droga, como fui idiota! Eu podia ao menos esperar alguns meses, mas não! Fiz a besteira de pedir o divórcio. Agora estou ferrado!

Lucca tomou a palavra:

— Olha, sei que você vai fazer muita falta, mas creio que consigo dirigir a reunião. Tenha certeza que se ela estiver esperando um filho seu, ela vai ficar uma fera de início, então se mantenha à distância para não levar outro tapa na cara e aos poucos vai amaciando a " fera"!

As últimas palavras foram ditas com ironia.

— Não tô achando graça...

— A única coisa que posso te dizer agora é... Boa sorte! Mesmo que ela não volte pra você, use sua estratégia de CEO de sucesso pra levá-la para a Grécia. Uma ótima forma de persuadí-la é contar como a nossa mãe ficou triste após o divórcio, pode ser que ela fique penalizada e vá com você. Agora, reconquistá-la...Bem... É querer demais.

Chateado, Damon resolveu despedir-se do irmão e ficou refletindo sobre a conversa com ele.

Desde que soube do divórcio, sua mãe, que já tinha predisposição para a depressão, começou a surtar.

Ela não aceitava de jeito nenhum que houvesse uma situação dessa na família. Quantas vezes a ouviu se lamuriar pelo acontecido e não se conformava, mesmo tomando conhecimento de tudo o que Sally fizera a ele.

"Oh, Sally, por que tudo é tão difícil quando se trata de você?"

Ele chamou um táxi e foi até a galeria. Aparentemente, as pessoas já estavam indo embora.

Sentiu uma certa preocupação. Será que ela já havia saído de lá?

Ele subiu as escadas de acesso e abriu a porta.

Não foi difícil vê-la.

A emoção que sentiu era indescritível. Mesmo que quisesse não podia se enganar: Ainda a amava. Louca e apaixonadamente.

E agora, o que fazer?

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