Sally estava exausta, mas com a sensação do dever cumprido.
Mais uma vez sua exposição foi um sucesso e nada disso seria possível se não fosse o incentivo da sua amiga e sócia Sophie, que se esgueirava entre os visitantes e fazia questão de dialogar com eles sobre suas impressões acerca das obras de arte.
Ela, por outro lado, já aguardando que em meia hora se encerraria a visitação, acomodou- se numa poltrona e pondo os pés inchados, sobre um puf, começou a acariciar a barriga avantajada de quase sete meses.
O bebê estava quietinho naquele momento, mas assim que repousasse em seu apartamento, tinha certeza que ele ia aprontar, como se seu ventre fosse um parque de diversões ou um estádio de futebol.
Sentindo ansiedade e amor, simultaneamente, sorriu de leve ao imaginá- lo em seus braços.
Como desejava que chegasse logo esse dia e pedia a Deus que não se parecesse fisicamente com um certo grego prepotente e imbecil que conhecera a alguns meses atrás, e que por uma ironia do destino foi o seu marido.
Seus pensamentos voaram para a Grécia imediatamente, antes que tentasse evitar.
Podia ouvir o barulho do mar Egeu, sob o dia lindo de sol, enquanto seus lábios eram tomados com exigência, seu corpo pulsando num pedido mudo para ser possuída e os sussurros de Damon que não a deixava mudar da ideia de tê-lo para si sem nenhuma restrição.
Trêmula de desejo, resolveu afastar esse pensamento, antes que mergulhasse no passado que lutava para esquecer.
" Para, Sally! Ele não merece o seu amor!"
Com isso, levantou-se e voltou a recepcionar os visitantes que iam se despedindo.
As pessoas se aproximavam e elogiavam o seu trabalho artístico que denominou de " Laços de Ternura".
A exposição era coletiva e entre suas obras havia esculturas, pinturas e fotografias de seus parceiros na Arte, no entanto, o que tinham em comum era a temática representada por várias manifestações de afeto.
Num olhar emocionado, num abraço apertado, num beijo apaixonado,
as obras quebravam as barreiras das idades, das etnias, dos preconceitos ou das classes sociais.
Nas suas pinturas, ela expressou tudo o que o seu coração pôde detectar das emoções humanas, e mais especificamente, das suas experiências pessoais.
Apenas uma tela era diferente das outras.
Não quis expor os rostos dos envolvidos, mas sabia exatamente o que queria expressar.
Na imagem, as mãos de um casal. A mão masculina era morena, bronzeada de um sol escaldante e estava fechada em punho. Já a outra, feminina, era alva e bem torneada e tentava tocá-lo.
Entre as mãos havia estilhaços de vidro que os impedia de manter um laço de ternura.
No plano de fundo, um mar revolto dava a impressão de se debater sobre as rochas. Os pássaros partiam, anunciando que ali já não seria um bom lugar para continuar.
Estava tão distraída, que levou um pequeno susto com a chegada da amiga.
Ela deu um sorriso e a beijou na bochecha. Depois, cruzou os braços e também fixou os olhos na obra- prima.
— Sabe, Sally, confesso que essa sua obra é a mais perfeita aqui, mas ao mesmo tempo, ela me dá a sensação de um tapa na cara!
Ela observou Sophie com curiosidade:
— Um tapa na cara? Essa análise foi a mais inusitada hoje!
— Essa tela "sacode " minhas emoções de tal forma como se implorasse por um mínimo de Ternura.
Sally olhou para a pintura. Embora estivesse exposta, era a única que não estava a venda.
Ela tinha um valor emocional muito grande.
Foi feita para que nunca esquecesse de que deveria ficar bem longe de um certo grego...
— Pra mim, Sophie, é apenas uma advertência de que tem pessoas que podem até receber sua ternura, mas no final das contas não merecem.
A amiga entendeu as palavras melancólicas, recheadas de ressentimento.
— Você vai superar, amiga! A galeria é o exemplo de que você não se deixa abater por qualquer bobagem. Admiro a sua coragem e determinação em seguir em frente. Quem ficou no caminho, durante a sua passagem é que saiu perdendo.
Seja pelo seu estado, com as emoções afloradas ou pelas tensões ocasionadas por tantos problemas que teve que passar, Sally não conteve as lágrimas e abraçou a amiga.
— Obrigada, Sophie, se fosse para escolher eu gostaria que você fosse minha irmã de sangue.
A amiga afrouxou um pouco o abraço e enxugando suas lágrimas com um lenço, disse- lhe:
— Só se fosse possível ter apenas você como irmã, pois detestaria ter parentesco com Sam, credo!
Nem era caso de risada, pois a irmã pertencia agora só ao seu passado, mas a careta que Sophie fez foi muito engraçada.
— Só você para alegrar os meus dias...
— Eu e essa coisinha fofa que estou louca para conhecer.
Sally aquiesceu, iluminando o sorriso repleto de orgulho, mas subitamente, um rosto familiar chamou a sua atenção e empalideceu.
Sophie, sem saber ainda do que se tratava, se preocupou:
— Pelo amor de Deus, Sally, sente-se. Algo errado, amiga?
Com certa dificuldade, Sally sussurrou:
— Damon...
Sophie acompanhou o olhar assustado da amiga, até se deparar com o homem alto, bonito e elegante que vinha com a fisionomia trancada na direção das duas.
— Oh, não! — Ela exclamou e ao virar-se notou que Sally não estava bem.
Sally sentiu as pernas amolecerem e os olhos ficarem turvos, diante da aparição de Damon Petrakis, o pai do seu filho.
Antes do desmaio, o perfume inebriante e as mãos fortes a envolveram como se fossem asas de um arcanjo.
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Atualizado até capítulo 68
Comments
ELIETE SILVA 🌹❤️
Com toda certeza do mundo.
2024-02-24
4
ELIETE SILVA 🌹❤️
Retrato falado de uma vida sofrida.
2024-02-24
3
Márcia Jungken
estou achando que a princípio Damon vai acreditar que o filho da Sally pode ser de outro 🤔🤔🤔🤔
2024-02-21
2