Andressa
Fico em choque, e meu pai cai de joelhos no chão. Eu vou até ele para segurá-lo. Ele não consegue falar nada, e um homem que se diz médico vem nos ajudar.
— Vamos levá-lo para o hospital rápido, pois ele está tendo um infarto.
Nesse momento, sou eu que quase infarto. Minha mãe começa a chorar desesperadamente. Afinal, perdemos tudo para o lobo vestido de cordeiro.
Olho para ele com muita raiva. Sinto meu corpo fervendo, algo que nunca tinha sentido antes, um sentimento novo para mim, já que eu sempre fui uma pessoa calma.
— Não me olhe desse jeito, Dêza. Você sabe que eu sempre te amei, né? — ele fala em tom de deboche e depois beija a mulher na minha frente.
Viro o meu rosto para não olhar, e ajudo a levantar o meu pai. Saímos levando ele para o carro, mas o Hugo manda parar, afinal o carro também é dele. O médico olha para mim com piedade e leva meu pai para o carro dele.
Sem dizer nada, com a garganta cheia de ódio, entro no carro junto com minha mãe e o médico que nos leva para o hospital,e ele começa a falar:
— Sinto muito, Andressa. Ele se escondeu muito bem, enganou todos, eu sempre achei que ele era um bom homem, mas isso que ele fez, não tenho palavras.
Continuo em silêncio, como se uma pedra estivesse presa em minha garganta, me impedindo de falar qualquer palavra. Chegamos ao hospital, e ele chama os enfermeiros para colocá-lo em uma maca e levá-lo para dentro com pressa.
Minha mãe, ao meu lado, mal olha para mim. E eu não tenho coragem de dizer nada, afinal, fui eu quem o levou até lá, a culpa é toda minha.
O mundo desaba sobre mim. Sento-me em uma cadeira do hospital e começo a chorar. Na festa, ainda não tinha enfrentado a realidade, mas agora ela me atinge com força.
Como uma cachoeira, meus olhos transmitem toda a dor que estou sentindo. Fui enganada, roubada por aquele que dizia me amar.
Levanto a cabeça e vejo minha mãe do outro lado. Ela se afastou de mim e me culpa ainda mais do que eu mesma me culpo.
Duas horas passam e o médico volta. Pela expressão dele, a notícia não é boa. Levanto-me e vou até minha mãe. Ele vem falar conosco.
— Senhora Lorenço, fizemos tudo o que pudemos, mas infelizmente ele não resistiu. Teve uma parada cardíaca e faleceu.
— Nãooooooo, meu velho não— ela chora desesperada, e eu não sei como fazer para consolar, já que ela não quer nem ficar perto de mim.
Ela se ajoelha no chão e começa a gritar mais alto entre lágrimas. E eu me amaldiçoo por ter trazido tanta desgraça para minha família.
— Mãe, eu... — reúno um pouco de coragem para falar com ela, tocando seu ombro, mas ela afasta minha mão.
— Foi tudo culpa sua. Perdemos tudo por sua culpa. E agora, Andressa, o que será de nós? Para onde iremos se tudo o que temos está na fazenda e foi passado para o Hugo?
— Mãe, eu não sabia...
— Eu sei, ele enganou a todos nós, mas isso não trará meu marido de volta. Seu pai, ele matou seu pai. — ela termina a frase e volta a chorar.
As horas passam, e terminamos todos os trâmites para o velório. Como meu pai pagava o plano funerário, ao menos podemos enterrá-lo com dignidade.
A despedida é muito triste. Alguns amigos fazendeiros dele nos apoiam. Pelo menos até conseguirmos nos estabilizar. Afinal, além do café, éramos os maiores na produção e venda de vinhos do mercado. Meu pai era muito respeitado por todos, e por isso, eu me tornei a maior vilã da região.
Os dias passam, mas minha reputação na região está podre. Fomos morar com a melhor amiga da minha mãe, e eu sou deixada de lado.
Comecei a faculdade de administração, mas ainda não concluí. Não sei fazer nada além de costurar roupas, algo que aprendi com minha avó, mãe do meu pai.
Já não suportando mais o desprezo da minha mãe e as zombarias de todos, decido deixar o interior. Preciso me reerguer e mostrar a todos que serei superior.
Converso com minha mãe, mesmo contra a vontade dela, ela ouve com atenção.
— Mãe, vou para a cidade grande. Vou trabalhar e enviar dinheiro para a senhora, eu preciso fazer alguma coisa por nós.
— Na cidade grande é mais perigoso do que aqui. Seu marido veio de lá, e veja a encrenca que ele trouxe.
— Não se preocupe, vou me virar. Espero que fique bem. Vou me reerguer mãe, vou recuperar nossa fazenda. Mesmo que tenha que trabalhar 24 horas por dia, o que era nosso voltará para nossas mãos.
Vejo um brilho em seus olhos, e ela começa a chorar. Ela me abraça e pede desculpas por tudo o que me fez passar.
Nunca culpei ela pelas palavras que me disse. Eu merecia tudo isso, afinal, fui eu quem caiu na conversa daquele miserável.
Mas ele pagará caro, o mundo dá voltas, e o bem sempre vence. Arrumo minha mala com as poucas roupas que ganhei. Ele não me deixou nem voltar para pegar minhas roupas.
Ele entregou minha bolsa e a da minha mãe com os documentos, e só isso. Por sorte, consegui vender meu vestido de noiva. Será com esse dinheiro que me reerguerei.
Minha mãe me leva, junto com o capanga da fazenda, até a rodoviária. Viajarei de ônibus para economizar o pouco dinheiro que tenho.
— Cuide-se, Andressa. Tente não cair mais em conversas de "eu te amo."
— Aprendi a lição, mãe. Qualquer um que disser "eu te amo" para mim levará um chute. Aproveitarei minha estadia lá para entrar na justiça e lutar para recuperarmos tudo. É uma promessa.
Ela me abraça novamente. Ficamos abraçadas por uns dois minutos, até que a solto com um sorriso. Vou caminhando até a parada de ônibus, enxugando as lágrimas, e pedindo a Deus que me ajude nessa nova jornada da minha vida...
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Atualizado até capítulo 64
Comments
Jucileide Gonçalves
O que se ganha fácil com facilidade se vai e o que é de Hugo está guardado.
2024-12-14
0
Amanda
O pior de tudo foi a morte do pai 😭😭😭😭 mas a vida dá voltas e com certeza esse golpista vai pagar por todo mal que causou
2024-11-24
0
Josi Gomes
CRETINO, E AINDA DIZ QUE AMA, CANALHA
2025-02-04
1