Capitulo 4

Pelo visto me jogar pela janela teria que esperar.

"OK. Eu aceito, obrigada" digo com a cabeça baixa por conta da vergonha

Ele se afasta da porta com um sorriso, e estende o braço apontando pra dentro. "Fica à vontade"

Eu entro e vejo o quanto o apartamento dele é bonito, muito mais que o meu.

A janela ,assim como meu apartamento, era do chão até o teto. Mas a janela dele tinha uma vista privilegiada do parque, e no fundo os prédios da cidade.

A decoração era padrão para um homem solteiro, mas ao mesmo tempo muito bem decorada. Assim que você entra você tem uma visão ampla da sala, que tinha um sofa grafite que parecia ser muito confortável.

De frente tinha uma TV gigantesca com móveis num tom de madeira clara com alguns livros e pequenas plantas.

E do lado o corredor que devia levar para o quarto.

Atrás do sofa, era a cozinha americana, que tinha uma divisória de madeira muito bonita. A cozinha era toda preta com alguns pedaços em verde militar. Estava surpresa em como a decoração era tão linda.

Ele entra fecha a porta e vai em direção a cozinha.

"Muito chamativo?" Ele pergunta.

"De forma alguma! É muito bem decorado" fui indo em direção a janela, observando a vista, enquanto ouvia barulho de panelas e ovos sendo quebrados "A vista é muito bonita. No meu apartamento eu só vejo prédio e mais prédios"

"É ainda mais bonito de noite" Ele fala da cozinha

"Imagino, deve transmitir uma paz diante de tanto caos que é a vida " falo mais pra mim, mas de alguma forma ele ouve

"Isso é verdade. Ás vezes fico horas olhando pra essa janela" ele fala

Fico ali, não só pelo fato da vista ser bonita , mas também por que não consegui me mexer de tanta vergonha.

Depois de um tempo ele quebra o silencio "Está pronto! Você gosta de suco de laranja?"

"Gosto sim" digo indo em direção a cozinha

Ele então me serve enquanto sento na bancada.

Estava com uma cara ótima. Começo a comer. Assim que coloco na boca, todas as minhas papilas degustativas entram em choque!

Ele não estava brincando. É o melhor omelete que comi. E a cada mordida aquela comida quentinha ia descendo e aquecendo o coração. Bizarro....

" E então o que achou" ele dizia com um sorriso estampado que já dizia que ele sabia o quanto ele era bom em fazer um simples omelete se transformar em algo tão sensacional.

" Meu deus!! Isso ta incrivel!!" disse enquanto mastigava.

Nem preciso dizer que em poucos minutos eu já tinha comido o prato todo.

*Agora ele vai pensar que voce é uma esfomeada, parabéns*. Percebendo fico um pouco envergonhada.

O silencio era muito grande e incômodo. Será que eu perguntava ? Ou esperava ? E se ele não falasse nada? E se ele entedesse errado minha pergunta?

Quase que adivinhando meu questionamento interno ele corta o silêncio: "Não aconteceu nada" ele diz um pouco sério, olhando para o prato

"O que?" digo

"Ontem a noite, não aconteceu nada. Você desmaiou e eu te coloquei na cama, e fui embora" Ele disse me olhando dessa vez

Um misto de alívio e decepção tomava meu corpo. Fiquei sem saber o que dizer. Apenas fiquei encarando ele. Seus olhos emanavam uma energia magnética e totalmente hipnotizante.

"Eu não sei o que aconteceu com você, mas pelo seu estado acho que a última coisa que precisava era de mais uma dor de cabeça. Só toma cuidado....É muito perigoso uma mulher tão bonita saindo nesse estado sozinha. Ainda bem que eu estava lá" disse com um sorriso de convencido no rosto, levantando o copo de suco em direção a boca.

Eu fiquei ali parada, igual uma batata, sem saber o que dizer, nem o que fazer.

"Foi um dia muito dificil..." digo finalmete em um tom de voz bem baixinho

"Quer falar sobre?" ele pergunta

"Quem sabe na próxima...." digo

Ele sorri e diz : " Então vai ter próxima?Isso é um convite?''

Pelo amor de deus, como ele era convencido... Mas de um jeito engraçado....

"Quem sabe...Agora se me dá licença eu preciso ir... Tenho algumas coisas pra resolver. Muito obrigada pelo omelete. Estava maravilhoso, você não mentiu quando disse que cura qualquer tristeza" digo com um sorriso fraco e vou em direção a porta.

Ele se levanta e me acompanha até a porta e diz: "Precisando já sabe onde bater "

Sorrio e me despeço , entro no meu apartamento e vou em direção a cama. Agora sim poderia ficar sozinha.

Precisava por a cabeça no lugar. Teria que pensar em algo para poder ir me virando.

Não queria voltar pra casa. Não agora.

Abraço meu travesseiro com força. Fecho meus olhos e deixo algumas lágrimas rolarem em silêncio. Penso na minha mãe.. Sinto falta dela....Ela saberia o que dizer....

*ALGUNS ANOS ATRÁS*

"Pai! Mãe! Cheguei!" digo entrando na casa.

Aproveitei o final de semana para ir visitar meus pais. Com a mudança e o final da faculdade foi uma correria tão grande que não tive muito tempo. Estava morrendo de saudade deles...

Ouço barulho de panelas e um cheiro tão bom, que é como se ele me carregasse diretamente pra cozinha. Quando chego vejo meus pais sorrindo um pro outro, enquanto preparam algo que pelo visto estava muito gostoso.

Fico olhando aquela cena. Se pudesse guardaria em um porta retrato.

"Oi minha querida" minha mãe olha pra mim com um sorriso grande vou em direção a eles e os abraço

"Oi filhota" meu pai diz, me dando um beijo na testa

"Oi edna " digo para a nossa empregada, abraçando-a, ela estava a tanto tempo em nossa casa que é como se fosse minha avó

"Oi querida! Como você está linda! Faz tanto tempo que não te vejo " ela diz , e eu sorrio pra ela

"Nossa o cheiro tá tao bom, o que voces estão fazendo?" digo

"Seu prato preferido, Nhoque" minha mãe diz com um um sorriso grande

" Não acredito! Já disse que amo muito vocês? " digo rindo. Conversamos mais um pouco até que a comida fica pronta

Nos sentamos a mesa e comemos juntos e conversamos mais um pouco.

Vamos para o jardim comer a sobremesa.

No caminho para o jardim, minha mãe se sente um pouco tonta e cambaleia. Meu pai a segura.

"Esta tudo bem meu amor?" ele diz com preocupação

"Está sim querido, acho que foi só um pequeno mal estar, talvez a pressão baixa. Estou bem", ela diz tentando tirar a preocupação dele.

O resto do dia passa tranquilamente.

Assistimos a um filme na sala de cinema e no final vamos dormir.

Vou para o meu antigo quarto.

Enquanto estou arrumando minhas coisas escuto meu pai gritar :

"LAUREN!! EDNA!! LIGUEM PRA EMERGÊNCIA!!"

Meu coração dispara, corro para o quarto deles e me deparo com minha mãe caída no chão e meu pai tentando reanimá-la. De repente é como se eu estivesse surda. Meu corpo adormeceu, não sentia nada, não ouvia nada. Edna aparece atrás de mim e fala algo que não consigo escutar.

No hospital, minha mãe foi levada para a sala de exames.

Depois de incontáveis minutos, e talvez até horas, o médico se dirige até nós

"Senhor Miller, sua esposa está estável. Fizemos alguns exames , que infelizmente constataram que sua esposa está com um câncer agressivo e avançado na tireoide. Infelizmente o diagnóstico tardio a deixou com metástase pulmonar já bem avançado. Mesmo com o tratamento pode ser que haja apenas um alívio temporário. Sinto muito. Se vocês quiserem podem ir visitá-la no quarto. Com licença"

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