Mila
Noite adentro, estou acordada, a escuridão envolvente do meu quarto sendo minha única companhia. A voz grave de Marko Kovak ainda ressoa em minha cabeça, como uma melodia sinistra que se recusa a silenciar. O perfume dele, amadeirado e picante, parece impregnado no ar, como se Marko ainda estivesse por perto.
Não consegui vê-lo propriamente a escuridão tornara seu rosto vago e indefinido. A única luz vinha do farol do seu carro, lançando sombras profundas que faziam Marko parecer ainda mais ameaçador. Mesmo sem ver seu rosto claramente, podia sentir a aura sombria que ele emanava – inquestionavelmente perturbadora.
Depois que ele se foi, retornei ao meu quarto, aliviada mas também ansiosa. Meu pai, Russo, tinha ficado na sala, seus pensamentos certamente compartilhando da minha preocupação. Ele tentou pensar em maneiras de me livrar deste casamento arranjado, mas eu o implorei para não interferir. Eu tenho medo de Marko, temo pelo meu pai ... o que Marko poderia fazer a ele.
Levanto-me, o relógio indica sete da manhã. Os primeiros raios de sol do dia se infiltram pelas frestas das cortinas, uma promessa de um novo dia. Caminho até a cozinha, meu objetivo é afugentar os pensamentos sombrios com uma tarefa rotineira: preparar café para mim e para o meu pai.
Passo pela sala e vejo meu pai adormecido no sofá, o rosto amarrado mesmo em repouso. Provavelmente, ele se entregou ao sono ali mesmo, exausto pelas preocupações. Vejo nele um espelho de minha própria ansiedade
Vou diretamente para a cozinha e começo a preparar o café. Decido que também farei um café da manhã típico sérvio para meu pai. Preparo proja, um tipo de pão de milho tradicional, e também sirvo um pouco de kajmak, um tipo de queijo cremoso e saboroso. Coloco algumas fatias de suho meso, uma carne seca e fumada, e termino com uma seleção de frutas frescas. O cheiro delicioso preenche a cozinha, mas eu mesmo não tenho fome. O aperto em meu estômago é muito grande para permitir qualquer pensamento de comida.
Depois de tudo pronto, pego meu telefone e disco o número de Martha, uma das minhas ajudantes mais confiáveis no orfanato.
- Alo, Martha- começo, tentando manter minha voz estável.
- Preciso que cuide de tudo por um tempo. Não poderei estar presente.
Do outro lado, posso ouvir a preocupação na voz de Martha.
- Aconteceu alguma coisa, Mila?- ela pergunta, com inquietação evidente.
Rapidamente, tento tranquilizá-la.
- Está tudo bem, Martha. Apenas preciso resolver algumas coisas.
Evito entrar em detalhes. Eu sei que não posso deixar meu pai sozinho na fazenda por muito tempo, não nesse estado. E, além disso, a segurança das crianças no orfanato é uma preocupação crescente na minha cabeça.
Com Marko agora uma parte do quadro, nada parece mais seguro. E eu não quero que as crianças se envolvam nisso de forma alguma. Muitas delas me chamam de mãe e eu as vejo como meus próprios filhos. Com a ameaça de um casamento iminente com Marko, temo que o cuidado ao orfanato possa ficar comprometido.
Minha voz falha ao desligar o telefone. Sinto lágrimas quentes inundarem meus olhos. Luto contra elas, tentando me manter firme. Eu preciso ser forte, não apenas para mim, mas para eles também.
Escrevo rapidamente um bilhete para o meu pai, uma mensagem simples que informa que o café está na mesa e que estou indo à farmácia comprar suprimentos para o cuidado do seu ferimento. Deixo o bilhete cuidadosamente na mesa de centro, ao lado dele, e saio silenciosamente de casa.
Caminho pelo caminho da fazenda, indo em direção ao portão. A presença de dois homens enormes, tão grandes quanto armários, quase me faz parar no meio dos meus passos. Nunca os vi antes, mas algo em seus trejeitos diz que não são visitantes amigáveis.
-Quem são vocês e o que querem?- pergunto, sentindo um calafrio de medo e uma pitada de nervosismo.
- O chefe mandou nos vigiar você, para que não fuja até o casamento. Você não tem permissão para sair sem supervisão- responde um dos homens.
-Agora sou uma prisioneira na minha própria casa?
Eles continuam em silêncio, ignorando completamente o meu medo e a incerteza. Fico furiosa.
-Preciso ir à farmácia. Saia do meu caminho ou vou passar com o carro por cima de vocês- grito, avançando para o meu carro.
Mas antes que eu possa dar um passo, um deles segura meu braço com uma força surpreendente.
- Me solte- exijo, tentando me soltar
- Se você deseja ir à farmácia, nós a levaremos no nosso carro- o homem responde, apontando para um veículo estacionado a uma curta distância.
- Tudo bem, então me solte agora- eu digo,com minha voz tremendo com irritação. Eu sei que não tenho escolha. Ele me solta, e o outro homem abre a porta do carro já esperando.
Isso é um pesadelo que tornou-se realidade.
Os homens me levam à farmácia, caçando cada movimento com olhos vigilantes. Embora não fiquem exatamente ao meu lado, posso sentir sua presença por perto, sombras silenciosas e duras.
Na loja, recolho rapidamente os suprimentos necessários para cuidar do meu pai. Gazes, antisséptico, bandagens - cada item da minha lista mental é marcado. Eu sempre fui muito prática, e meu curso básico de primeiros socorros no passado me equipou para lidar com essa situação melhor do que eu esperava. Também pego alguns medicamentos: um remédio para dor e febre, e um anti-inflamatório. Cada um deles poderia ser útil considerando a situação atual.
A farmácia, normalmente um lugar de alento e saúde, agora se transformou em um cenário de aflição. Tento agilizar o processo o máximo possível, sentindo a necessidade de voltar para meu pai e cuidar de tudo.
Depois de pagar as contas, saio do estabelecimento, encontrando os homens onde os deixei. Eles parecem quase impassíveis, como se estivessem fora do tempo - um contraste marcante com a urgência palpável dentro de mim.
Em silêncio, volto para o carro. Não há muito o que dizer e eu realmente não tenho intenção de conversar. As circunstâncias nos colocaram juntos, mas não há qualquer conexão além dessa.
O caminho de volta parece mais longo do que o habitual.
Ao chegar em casa, encontro meu pai na cozinha tomando o café da manhã que deixei preparado. Seu rosto se ilumina ao me ver.
- Bom dia, papai- saúdo-o com um sorriso cansado, mas genuíno.
-Bom dia, minha princesa. Estava preocupado, não é bom para você sair sozinha depois do que aconteceu- diz ele,com preocupação óbvia em sua voz.
- Eu não fui sozinha, papai- respondo, deixando minha bolsa na cadeira.
- Marko enviou dois de seus brutamontes para nos vigiar. Pelo jeito, estamos presos aqui até o casamento.- Não posso evitar de suspirar, frustrada com a situação.
- Já esperava por algo assim ...- meu pai diz com um sorriso amargo.
- Sinto muito, minha filha. Queria poder fazer algo para te livrar desse casamento, mas Marko causou muitos danos à minha reputação. Estou praticamente sozinho agora.
Existe uma tristeza profunda em suas palavras, uma impotência palpável que odeio ver nele. Ele nunca foi um homem de recuar e vê-lo assim, quase derrotado, me dói profundamente. Mais do que isso, me incita a fazer algo.
- Não precisa se preocupar, papai. Acredito que me casar com Marko seja a melhor decisão para nós dois neste momento. Quem sabe, talvez isso até melhore um pouco a sua reputação, sendo o pai da noiva de alguém com a importância de Marko. E mais para frente, encontraríamos um jeito de sair dessa situação- digo, colocando a mão sobre a dele na mesa.
Papai olha para mim, seus olhos profundos refletindo uma mistura de orgulho e tristeza. Por fim, um sorriso surge em seu rosto. - Nunca imaginei que a minha princesa se tornaria tão forte e sábia- diz ele suavemente.
Permaneço com ele durante o café, a companhia do outro oferecendo um tipo de conforto silencioso que ambos necessitam. Falamos pouco, mas existe uma compreensão mútua que torna o silêncio confortável em vez de estranho.
Depois do café, pego um livro na estante da sala. Sinto a urgência de me distanciar da realidade, embora por pouco tempo. Levar minha mente a outros lugares, a outras vidas, é uma forma de escape que sempre apreciei.
Dirijo-me ao meu quarto, sento-me na cama e olho para a capa do livro sem realmente vê-la. Poderia pesquisar mais sobre Marko na internet, procurar entender o homem com quem estou prestes a casar mas a sua reputação para mim já é bastante assustadora e tenho medo do que mais possa descobrir
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Mavia Dantas
/Scowl//Angry/
2025-05-29
0
Erika Aparecida
o Marlon parece mais velho que o russo
2024-08-11
0
Ivania Ferreira da Silva
ele não causou danos... você o roubou...
2024-05-15
0