Capítulo Dois

Mila

Conduzo meu pai para longe do orfanato, para um destino conhecido apenas por mim. As luzes da cidade gradualmente desvanecem em nosso retrovisor, substituídas pela vastidão calmante do campo, A fazenda.

Localizada a alguns quilômetros de distância da agitação da cidade, a fazenda sempre foi o meu refúgio pessoal. É isolada, tranquila, quase idílica. Era aqui que eu escapava quando precisava de fôlego, de espaço para pensar. Nunca imaginei que um dia seria o esconderijo do meu pai.

Estaciono o carro ao lado da casa principal. Meus passos soam excessivamente altos no silêncio da noite enquanto ajudo meu pai a sair do carro e caminhar pela pequena trilha até a porta. A chuva, que antes era forte, agora é apenas um sussurro gentil contra as folhas.

A luz dourada da casa banha-nos enquanto entramos. O chão de madeira ecoa sob nossos pés enquanto carrego meu pai para um dos quartos. A cama, arrumada e inutilizada por tanto tempo, agora se torna um local de repouso. Acomodo-o nos lençóis, tentando ignorar a pálida cor de seu rosto.

- Obrigado, filha - diz ele, a voz enfraquecida.

- Você estará seguro aqui, pai. Pelo menos por enquanto- Repondo rápido, tento tranquilizá-lo. Ele sorri fracamente, fechando os olhos.

Deixo-o descansando e me dirijo à cozinha para preparar algo para comermos. O silêncio da casa é apenas quebrado pelo farfalhar dos utensílios na cozinha e pelo suave farfalhar da chuva lá fora.

Enquanto o estômago ronca e o cheiro do jantar enche a cozinha, percebo que, apesar dos desafios, encontrar forças para continuar não é tão difícil quanto parece.

Desvio meu olhar da panela borbulhante para a janela da cozinha. À medida que a escuridão cai sobre a fazenda, meu coração enche de preocupação. Preocupação com o estado do meu pai. Preocupação com as crianças no orfanato. A chuva parece carregar com ela um mau presságio.

Suspiro, esfregando o rosto cansado. Seria tão mais fácil, tão mais pacífico, se pudesse simplesmente viver longe do submundo da máfia e de todos os seus tentáculos venenosos. Acima de tudo, queria proteger minhas crianças, aquelas pequenas almas que encontravam consolo e segurança sob o telhado do orfanato, mas infelizmente meu pai é o chefe da máfia Russa, que também tem sede aqui na Sérvia

Sacudindo esses pensamentos, volto minha atenção para a comida à minha frente. Se tem uma coisa que aprendi, é que preocupar-se demais com o que não posso prever não ajuda em nada.

Pouco depois, o jantar está pronto. Sirvo um prato cheio para o meu pai, o aroma reconfortante enchendo a sala. Carregando cuidadosamente, vou para o quarto onde deixo meu pai descansar.

Ele parece estar dormindo e por um momento, hesito. Mas, lembro-me de que ele precisa comer. Toquei-o suavemente

- Pai- chamo-o. Ele desperta, e seu olhar volta para o prato que o entrego

- Precisa se alimentar

- Obrigado, minha querida- diz ele, com um sorriso cansado.

- Espero que esteja bom- Repondo com amenidade, ele sorri de volta para mim, um breve flash de alegria que acalma minhas preocupações crescente

Olho ansiosamente para meu pai quando ele leva uma colherada da sopa à boca. Assim que ele prova, seu rosto parece brilhar.

-Está deliciosa- ele diz, tomando outra colherada.

Um sorriso borbulha em meu rosto com suas palavras.

-É uma receita da mamãe- eu confesso, lembrando-me do modo como minha mãe dançava pela cozinha, cativando todos nós com suas risadas e comida deliciosa.

O sorriso do meu pai fica mais caloroso à menção dela.

- É por isso que está tão bom. Sua mãe era uma cozinheira incrível.

Há um momento de silêncio enquanto ele perde-se em suas próprias lembranças. Eu posso ver a sombra de tristeza em seus olhos.

- Sinto muita falta dela- ele admite, em tom baixo.

Com cuidado, estendo a mão e seguro a dele. - Eu também, pai. Eu também.

Eu pauso, as próximas palavras se formando com cuidado, coração e amor.

- Mas eu sei que ela estará sempre conosco. Nas lições que passou, no amor que ela nos deu.

Esse pensamento, a ideia de minha adorada mãe ainda cuidando de nós mesmo depois de sua morte, é um conforto. E neste momento e em todos os momentos que virão, eu sou grata a ela. Sou grata por tudo o que ela me ensinou, e por tudo o que continuo a aprender.

Meu pai me olha, os olhos cheios de uma tristeza profunda, mas também de um amor imenso.

- Você se parece muito com ela- diz ele, a voz engasgada.

- Bondosa, corajosa. Você cresceu nesta família, nesta... vida, mas nunca deixou que isso contaminasse seu coração. Seu coração é dela.

Sinto um nó na garganta, uma mistura de saudades e gratidão. Um sorriso amargo e doce brota em meus lábios.

- Eu acho que já mencionei isso antes, pai

eu respondo.

- Devo tudo a ela

Olho para o pai e vejo o homem que ele se tornou um homem dividido entre seus erros e um amor tão profundo por sua família que corta seu coração em pedaços. E mesmo com tudo que ele fez, todas as falhas, todas as feridas que abriu, não posso negar que ainda o amo.

Nessa noite silenciosa, percebo que o amor de uma filha por seu pai é algo enraizado tão profundamente que nem mesmo o peso do tempo ou o amargor dos erros podem quebrar.

Papai desvia o olhar do meu e volta para o prato de sopa, uma distração bem-vinda dos pensamentos pesados.

- Você não vai comer, filha ?- Ele questiona, sua voz cheia de preocupação

- Depois- eu respondo, forçando um sorriso. & Vou ficar com você um pouco primeiro.

Passamos o tempo, ele comendo, eu observando, como fazíamos quando eu era pequena e as preocupações do mundo ainda não invadiam nosso espaço. Falamos de coisas mundanas, do tempo, da fazenda. Durante esse tempo, o peso do mundo parece, pelo menos por alguns momentos, um pouco mais leve.

Uma vez que papai terminou de comer, retiro o prato vazio de suas mãos e volto para a cozinha me sento para desfrutar de minha refeição. Mesmo a simplicidade de uma sopa caseira parece ter sido contaminada pelas tensões do dia.

Depois do jantar, volto para o quarto de meu pai, encontrando-o já adormecido. Silencioso, deslizo um cobertor do armário e o acomodo carinhosamente sobre ele. No silêncio do quarto, o som de sua respiração tranquila é o único ruído que quebra o silêncio.

- Boa noite, papai- eu sussurro, antes de me retirar, fechando a porta atrás de mim.

Deixo meu pai no sono calmo e retorno ao quarto ao lado. Sozinha com meus pensamentos, sua palavras me acompanham. Não importa o quão profundo seja o buraco em que estamos, como filha, sempre haverá espaço para o amor de meu pai na minha vida.

Russo

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Comments

Mavia Dantas

Mavia Dantas

/Drool/russo e bonito /Proud/ e outros personagens também /Grin/

2025-05-28

0

Katia Sousa

Katia Sousa

tbm acho

2024-11-11

0

Maria Da Penha Nascimento

Maria Da Penha Nascimento

que homem lindo!

2024-09-15

0

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