Capítulo Quarto

Mila

Permaneço paralisada enquanto assisto o carro de Marko se afastar, suas palavras ainda ressoando em meus ouvidos.

" Não pense que vai viver um conto de fadas... você é a filha do meu inimigo... se ousar me trair, eu te mato sem pensar duas vezes"

Parece que o próprio ar ao meu redor retém o rastro de Marko , um aroma de madeira e couro, a fragrância do seu perfume invadindo minhas narinas. É pungente, como uma névoa, exalando poder e frieza, tão característicos do homem a quem agora estou prometida.

Sinto meus batimentos cardíacos acelerarem, o sangue bombeando furiosamente em minhas veias. Minhas mãos estão tremendo levemente ao meu lado, um reflexo físico do tremor que reverbera em meu peito.

- Por que você fez isso?- A voz do meu pai atravessa o silêncio da noite, seu tom cheio de uma mistura de preocupação e raiva.

- Ele... Ele ia te matar, papai- eu sussurro, as lágrimas começam a escorrer pelas minhas bochechas

- Minha filha, eu já estou velho, já vivi muito... não faria muita diferença se ele me matasse... mas você, você ainda é tão jovem...

Eu balanço a cabeça

- Não diga isso, você ainda é meu pai. Se eu não tivesse feito isso, nós dois estaríamos mortos agora, não estaríamos?

Ele suspira sombriamente

- Ao menos seria uma morte com menos dores... Escolher se casar com o inimigo do seu pai é escolher uma morte lenta e dolorosa, Mila

Eu encaro fixamente o chão, a gravidade das palavras do meu pai finalmente me atingindo. - Agora não tem como voltar atrás, papai... Eu... Eu vou ser forte. Eu prometo.

Com isso, parte de mim sabe que minha vida nunca mais será a mesma. Tudo o que posso fazer é me preparar para o desafio que tem pela frente, e talvez, apenas talvez, descobrir uma maneira de sobreviver em um mundo que é mais sombrio do que jamais poderia imaginar.

Marko

Depois de deixar Viktor em sua casa, volto para o silêncio reconfortante da minha própria residência. O relógio na parede marca quase seis da manhã quando entro, sabendo que um descanso seria um luxo que não posso me dar.

Decido tomar um banho, sentindo a necessidade quase desesperada de lavar o dia. A água quente do chuveiro se transforma em um véu de vapor, envolvendo-me com sua promessa de renovação.

Enquanto fico sob o jorro constante da água, minha mente começa a vagar. Eu vejo o passado emergindo das profundezas da minha memória. Lembro-me da minha iniciação na máfia, de um tempo que parecia uma vida atrás.

Lembro-me da dor ,a carne sendo cortada, rasgada e queimada. Lembro-me da fome e da sede, da escuridão do lugar onde me trancaram por dias. Lembro-me do olhar indiferente do meu pai enquanto ele observava o tormento, tudo em nome de testar minha lealdade à nossa causa.

A água caindo parece mais quente em minhas cicatrizes, cada uma delas uma lembrança tangível das provações que suportei. Não pestanejei diante da dor, no entanto. A cada ferida, a cada cicatriz, a cada momento de agonia, eu apenas me tornei mais resoluto.

Saio do chuveiro, sentindo-me mais alerta, embora as lembranças do passado ainda pesem em minha mente.

Ao me vestir, seleciono uma camisa branca límpida, uma gravata de seda preta e um terno bem cortado. O tecido escuro e luxuoso é suave contra a minha pele, um contraste gritante com os rigores brutais da minha existência.

Ainda preso no fecho da gravata, meus pensamentos desviam para a ousadia de Mila. Propondo-se a ser minha esposa para salvar a vida do pai... É uma jogada audaciosa, até mesmo imprudente.

Não posso negar que a coragem da garota me impressionou... mas também não sou ingênuo o suficiente para acreditar que não exista um plano subjacente. Tal audácia certamente não surge do nada , há mais em Mila do que os olhos podem ver.

Decido que vou aprofundar a investigação. Observarei cada movimento dela, cada palavra, cada ação, tentando entender de que madeira ela é feita. Afinal, Mila agora é minha noiva, e deverei saber exatamente com quem estou à lidar. E se existir alguma trapaça, tenho certeza de que poderei detectar.

Abotoo o Terno , alinhando-o perfeitamente com a calça. Olho-me no espelho, o reflexo devolve o olhar de um homem imponente, um predador pronto para a caçada.

Por um momento, imagino Mila ao meu lado, linda e altiva em um vestido branco

Concedo a mim mesmo um breve sorriso torto. Intrigante. Não esperava isso, mas torna a situação muito mais interessante.

Pego o paletó e visto-o, cada movimento muscular reflete a tensão que guardo para mim. Há uma nova urgência em meus pensamentos, reflexo da possibilidade pela qual Mila representa , seja como aliada, seja como inimiga.

Saio da sala, a porta fechando-se atrás de mim com um estampido vazio. O som reverbera pelos corredores silenciosos, um presságio do que está por vir.

É hora de ficar de olhos abertos. Mila já havia apresentado seu primeiro movimento, agora era minha vez de jogar. E eu pretendo jogar para ganhar.

Uma vez no prédio da máfia, me instalando no escritório, dou início ao dia de trabalho. Documentos importantes se espalham pela minha mesa, cuidadosamente arranjados numa ordem que só eu compreendo.

Estou absorto em meus assuntos quando a porta se abre com uma força desnecessária. Como sempre. Sem nem precisar levantar os olhos, sei exatamente quem é.

- Filip - digo, sem olhar para cima. O tom da minha voz é distante, focado nos relatórios, mas acolhedor.

Filip é meu meu irmão mais novo, meu paradoxo particular. Está sempre alegre, com um sorriso largo que contrasta com a aura sombria que dominava em nossa família. Ele é o completo oposto de mim, embora realizemos o mesmo trabalho. A função de Filip na organização poderia gelar o sangue de qualquer um. É o nosso homem para os “trabalhos” mais sujos, aquele que silencia de vez os mais indisciplinados rivais. E ele faz isso com uma eficiência assombrosa.

Apesar da seriedade do seu papel, Filip entra no escritório de forma brincalhona. Está perfeitamente vestido, como sempre, em um terno cinza escuro que contrasta com a sua personalidade.

- Então, Filip - começo, minha voz controlada ressoando pela sala em meio ao silêncio. - - Algo deu errado ?- digo me referindo ao assassinato do vereador

Um sorriso malicioso aparece nos lábios de Filip.

- Correu tudo perfeitamente - Ele responde, o bom humor denotando o orgulho em seu trabalho.

- Como em todas as missões que eu cumpro, Marko

Sua confiança na execução era estranhamente reconfortante. O conjunto de habilidades de Filip era único, a organização não estaria onde está sem ele.

Os olhos de Filip brincam com um sorriso animado.

- Ouvi falar do seu noivado com a filha do Russo - ele comenta, buscando uma reação. Não posso deixar de levantar uma sobrancelha, surpreso que a notícia se espalhou tão rápido.

- Bem, as notícias parecem ter asas nessa organização - retruco sarcasticamente, inclinando-me para trás na cadeira. Parece que não há nada que possa ser mantido em segredo por muito tempo.

Sobre isso, ele apenas ri.

- Você sabe como o Viktor é fofoqueiro- Filip responde, referindo-se ao nosso irmão e subchefe conhecido por sua habilidade de coletar e disseminar informações como ninguém.

- Hum - murmuro em resposta, meus dedos tamborilando silenciosamente sobre a mesa de carvalho.

- Viktor sempre teve essa tendência- acrescento, fazendo uma referência meio brincalhona ao nosso irmão do meio, o eterno intermediário.

Subchefe da organização e irmão de nós dois, Viktor sempre foi a ponte entre eu e Filip . Ele sempre soube pegar os detalhes que escapavam aos olhos de todos, nossos e de quem mais importasse. Uma habilidade valiosa, garantida, mas que às vezes podia ser um pouco frustrante.

Filip solta uma risada.

- Bem, com um fofoqueiro como ele, logo todo o submundo conhecerá seu noivado- ele brinca, a diversão brilhando em seus olhos. Parece que Filip também aprecia a ironia de nosso irmão informante.

- Isso é inevitável- concedo, permitindo um breve sorriso.

- No entanto, não esqueça de lembrá-lo que algumas notícias são melhor guardadas. Não precisamos de distrações agora.

- Então, quando é a data do grande evento, irmão? - Filip pergunta, seu sorriso cheio de curiosidade.

-Em breve- respondo, desviando o olhar dos papéis à minha frente para encarar meu irmão.

- Em um mês, para ser mais preciso. Ainda temos algumas coisas a resolver.

Com um levantar de sobrancelhas, Filip parece aceitar a resposta e, em seguida, se levanta para sair. As palavras trocadas e o riso compartilhado parecem ter cumprido o propósito de sua visita. Ele é um vento passageiro, sempre em movimento.

Quando ele sai, agarro o telefone imediatamente. Discando um número que conheço tão bem quanto o meu, é Viktor quem atende. Com a voz profunda e grave na linha, peço

- Viktor, precisamos falar sobre Mila

- Já ?ele ri do outro lado da linha

- O que a sua futura esposa fez desta vez?

Ignorando sua zombaria, eu continuo.

- Quero saber tudo sobre ela. Temos informações suficientes sobre Russo, mas o que sabemos sobre a filha dele? Não quero me envolver em um relacionamento sem saber com quem realmente estou me comprometendo.

- Andaremos com cuidado- afirmo.

- Se ela tiver qualquer envolvimento em algo que possa nos prejudicar, quero saber.

Viktor responde com um simples

- entendido- e a ligação termina. Fico ali, sentado na quietude do meu escritório, os pensamentos fervilhando.

Ainda há muito a ser feito. E, com um casamento iminente e uma possível traição em questão, não posso deixar nenhuma pedra sem virar..

Filip

Viktor

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Comments

Eliandra Leal

Eliandra Leal

lindos, mas o Viktor é mais bonito que o Marko .

2025-05-30

0

Mavia Dantas

Mavia Dantas

/Angry//Angry//Angry//Angry//Angry/

2025-05-28

0

Adriana Rodrigues

Adriana Rodrigues

três delicinhas kk

2025-01-11

0

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