Será que ele morreu?

Juno

As coisas só pioraram depois do aniversário do senhor Daniel, ele está cada dia mais zangado, geralmente comigo. Ele é grosso comigo sempre que pode , e sempre que eu cruzo o seu caminho ele faz questão de me humilhar com palavras rudes.

Sempre que ele pode traz ômegas pra casa,as vezes betas , as vezes os dois. Ele faz questão que eu veja e escute ele se divertindo. Não posso dizer que fico feliz, mas tento não me importar já que ele não é nada meu, e esse casamento é uma farsa.

Apesar de tudo isso eu estou muito feliz, minha confeitaria online está crescendo cada dia mais! Como estou com todo o tempo livre posso pegar mais encomendas, ainda mais com toda a ajuda que tenho aqui. Já juntei um bom dinheiro, e quando me livrar desse casamento pelo menos não vou sair com uma mão na frente e outra atrás.

Já era fim de tarde e eu estava super cansado, estava terminando de limpar a cozinha, Vicente já estava quase voltando da entrega das encomendas de hoje. Estava conversando com a Marta sobre como o tempo, livre, a ajuda na cozinha, na entrega e na compra dos ingredientes estava ajudando a alavancar meu pequeno negócio. Vicente chegou dizendo como os clientes elogiaram as encomendas e como estavam satisfeitos.

Mas fomos interrompidos por um furacão chamado Daniel, que entrou na cozinha feito um bicho, já me pegou pelo braço gritando na minha cara.

- Então quer dizer que o engraçadinho estava usando meus empregados e meu dinheiro pra brincar de comidinha? Escute bem seu ômega de merda, você não é dono dessa casa, você não tem autoridade para dar ordens aos meus empregados e muito menos pra usar o meu suado dinheiro com as suas besteiras! A partir de hoje você está proibido de entrar nessa cozinha a não ser para limpar e fazer as refeições está me ouvindo?

Ele olhou para os empregados com um olhar furioso.

- Quanto a vocês é bom se lembrarem de quem paga os seus salários, vocês devem obediência a mim, somente a mim, se não concordam podem pedir demissão, mas nessa casa quem manda sou eu. Estão proibidos de comprar qualquer coisa para o Juno sem a minha autorização, não quero gastar um tostão com ele se não for estritamente necessário, se algum de vocês descomprimir as minhas ordens será demitido imediatamente, estamos entendidos?

- Sim Sr. Montesino. - Todos responderam de uma só vez.

Daniel saiu me arrastando para o quarto e me mandou ficar lá até o dia seguinte, porque não queria ver minha cara e se indispor novamente.

Eu poderia ter gritado, me defendido ou implorado, mas sei que não funcionaria, sou apenas um ômega, sem vontades, sem voz, sem nada. Apenas um objeto, algo que se usa e se descarta. Ninguém se importa com os direitos de um ômega, com seus desejos, suas vontades ou os seus problemas. Servimos apenas para sexo e reprodução, no meu caso nem pra isso sirvo.

Não sei porque um dia ainda sonhei com algo a mais, com um futuro. Maldita hora que tive esperanças, que criei expectativas, que fiz planos, que sonhei. Agora me sinto muito frustrado, como se tivesse nadado toda a vida para morrer na praia.

Naquele dia, algo em mim morreu. Como alguém pode viver sem nada? Sem um propósito de vida, sem amor, sem trabalho sem se sentir útil, sem se sentir humano?

Naquela noite eu apenas chorei,vivi todo o luto de ter que sepultar meus sonhos e planos. Sei que eles Jamais irão se realizar e que não existe um futuro feliz pra mim.

Os dias se passaram e eu apenas existia naquela casa, me afastei dos empregados porque eu realmente amo cada um deles, e não quero que eles tenham problemas por minha causa. Saio do quarto apenas para comer , e as vezes para caminhar no jardim e tomar sol.

Mas em uma tarde, percebi que algo estava pra acontecer, não sei se foi pela quantidade de feromônio que o senhor Daniel e seus amantes espalhavam pela casa, ou se pela minha saúde delicada, mas notei que estava próximo do meu primeiro cio. Por ser recessivo eu nunca tive um cio, o médico disse que só teria um se fosse exposto a muito feromônio, o que iria desencadear meu cio. Como senhor Daniel é um alfa classe A, seu feromônio é muito forte então isso só piorou as coisas pra mim.

Mesmo sabendo que não teria um cio tão cedo, em casa eu sempre tive supressores como não trouxe nada comigo não tenho nenhum remédio aqui.

Contei a Amélia o que estava acontecendo, e pedi pra ele ligar pro senhor Daniel, e pedir a ele autorização para comprar supressores. Ela ligou algumas vezes e depois de algumas tentativas ele atendeu, quando Amélia disse que era um problema comigo, ele nem se quer parou pra ouvir só disse que não tinha tempo e que resolveria quando chegasse em casa.

Mas naquela noite ele não votou pra casa.

Eu passei todo o dia e a noite sofrendo, trancado no meu quarto, sentindo um imenso calor e uma dor insuportável, eu estava fora de mim, chorava, gritava e implorava pelo único Alfa que eu conhecia,  o único feromônio que eu ainda sentia o cheiro, meu corpo ansiava por algo que eu mais sabia o que era, era doloroso, agoniante. Estava casando e com sono, mas meu corpo se recusava a dormir sem receber os toques que ansiava.

Não sei em que ponto da manhã eu consegui dormir, mas agradeci quando mergulhei na inconsciência.

Daniel

Ontem depois do trabalho os meninos e eu fomos pra uma boate, de lá fui pra um hotel com um ômega bem gostosinho que eu conheci no bar da boate.

Já era tarde da manhã quando cheguei em casa, fui direto pra cozinha me certificar que minhas ordens continuavam a serem cumpridas, mas quando cheguei lá,  encontrei Marta e Amélia enxugando as lágrimas sentadas na mesa, e Vicente abraçando e consolando a Alice escorados na pia. Foi quando me lembrei que em algum momento na manhã de ontem Amélia me ligou dizendo que Juno estava com algum problema.

Droga me esqueci completamente, será que ele morreu?

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