Narrado por Liandra
Saímos encharcados da água, sendo abraçados pela brisa fria do pôr do sol e Nathan se joga na areia sem se importar em grudar vários grãos em sua roupa. Me sento ao seu lado e encaro o horizonte à minha frente depois de todo esse relaxamento que meu amigo me proporcionou de propósito. Fecho os olhos por um tempo, me perdendo no cenário e encontrando meus pensamentos.
– Prefiro sua voz ao seu silêncio, Pequena. – diz, me fazendo abrir os olhos e noto pelo canto do olho que ele se senta ao meu lado – Me conte o que está passando dentro dessa cabeça vermelhinha – passeia as mãos carinhosamente pelo meu cabelo que deve estar num estado doido.
Fico um tempo em silêncio, só sentindo seu cafuné e o cheiro do mar. Até que deixo minha voz soar.
– Algumas pessoas não aceitam sentirem suas dores por não suportá-las e dessa forma a remoem, culpam certos personagens e podem até se afastar daquilo que são e/ou no que acreditam. Esse não é o meu caso. Eu não sinto dor. Sinto uma saudade que nunca vai sair de mim e que me leva a pensar em alguns momentos nos “e se”. Se não tivéssemos ido ao parque naquele dia; se tivéssemos voltado antes ou até mesmo depois, isso faria com que não encontramos tal caminhoneiro; e se eu fosse com ela... Nath, cada dia que passa, vejo no espelho e ao comparar com as fotografias, percebo o quão sou a cópia da mamãe e o que mais me dói é que a perco em minhas memórias aos poucos e isso me desespera.
– Minha Pequena, é normal que o cérebro guarde memórias e as faça parecer distantes, mas elas continuam reais e fazem parte da sua história – meus olhos derramam algumas lágrimas – Você foi presenteada com uma lembrança mais forte que poderia ter: sua imagem. Não se preocupe com as lembranças que possa perder. Ao ver seu reflexo, veja no tanto que ela é presente na sua vida, mesmo com sua partida. Lembro-me de algumas coisas da tia Luma e me surpreenda ao ver suas semelhanças. – Nath me conforta. Ele não é um anjo? Não! Haha.
– Obrigada mais uma vez. Sei que devo me preocupar com o valor desses conselhos depois. – brinco, secando algumas lágrimas atrevidas.
– Se te fiz chorar já está valendo. – diz, me fazendo sorrir e eu o soco no braço.
– Seu bobo!
– É muito melhor ver seu sorriso! – o encaro sem conseguir conter o sorriso. Nath sempre foi um grande amigo. É uma pessoa muito doce. É carinhoso, ciumento, irritante, brincalhão sem limites, idiota, entre outras coisas. Vendo-o agora ao meu lado, reparo em suas mudanças físicas. Apesar de continuar mais alto que eu e com o corpo bem definido sem exagero por se exercitar sempre, tem o rosto quadrado com belas maçãzinhas nas bochechas e um maxilar que ficou bem mais marcado com o passar dos anos. Os seus olhos verdes tem um tom claro que seguem demostrando tudo o que sente e o nariz médio contém um pequeno desvio de septo que ficou pouco perceptível e sem ser algo que possa vir a ser estranho no rosto bonito. Observo suas sobrancelhas cheias e bem desenhadas pelos seus fios castanhos que tem a mesma tonalidade de seu cabelo castanho encaracolado, cortado recentemente num modelo moderno ao contrário do que fora na adolescência e seus lábios aparentam estar ainda mais carnudos e rosados no formato quase perfeito de coração, o que me lembra de seu sorriso largo com covinhas lindas e seus dentes alinhados a não ser pelos vampirinhos que tem. Uma sensação um tanto conhecida me faz desviar o olhar do meu amigo que permanecia me olhando. Não podia ser aquilo novamente, não é?! De novo aquilo que nunca consegui nomear? Desejo? Atração? Por Nath? Nathan? Por favor, não, meu Deus! Não!
– Não!
– Não o quê? – ele perguntou, me fazendo perceber que acabei pensando alto demais.
– Não... Não quero ir embora... – improviso pelo nervoso – Achei que também estava me dizendo isso pelo jeito que me olhava. – digo e respiro fundo, vendo-o suspirar profundamente – Na verdade não quero ir para casa. – essa parte é sincera e também já ajuda a mudar o assunto, sem deixar que ele note minha indiscrição.
– Princesa, por mais que eu também ame ficar de bobeira e com sua companhia, nós temos que ir. – faço um bico nos lábios por sua afirmação que sei que está coberta de razão – Já devem ser pelas dezoito horas da noite. Mas, tenho uma ideia, se você quiser te levo a casa de Mariah. Ligue para ela e pergunte-a se pode passar a noite por lá. Meus pais sabem que estamos aqui, os avisei antes de te acordar, então é provável que Dona Ju já saiba também. – ele explica.
– É uma boa ideia! Vamos?
– Vamos, Princesa. – se levanta e sacode-se para tirar o excesso de areia da roupa um pouco menos molhada – Não te convido lá para casa porque o povo não ia te deixar em paz pelo dia de hoje.
– Eu bem imagino. E receberia muita bronca pelo tempo que passei sem ir lá.
– Seria bem feito para você. Não sei por qual motivo se afastou. – diz e estende suas mãos para me dar apoio e eu aceito – Tá pesada, hein. — ele abusa.
– Me respeite! – digo e escuto seu riso – Pelo menos não fui eu que soltei um estrondo terrível no restaurante. – lhe mostro a língua e vou caminhando até a escada próxima, sendo seguida por ele.
– Mas foi você que quase comeu a tigela de moqueca toda e atacou o pirão. – continua me abusando, enquanto subimos até o estacionamento, seguindo na direção do carro e ele me segue mesmo quando paro em frente a porta do passageiro.
– Cadê o Nathan Cavalheiro que me acordou o que você fez com ele? – coloco minhas mãos na cintura e encaro com uma expressão perplexa continuando as provocações. Para minha surpresa e confusão, Nath se aproxima de
mim, ficando muito, muito perto. Perto demais!
– Está na sua frente, gatinha. – ele diz e se aproxima do meu pescoço e encaixa sua boca em minha orelha esquerda, me deixando sem reação e um tanto arrepiada. – Mas, até ele concorda que a princesa vem como Shrek. – crispo meus olhos e sobrancelhas e vejo seu sorriso descarado enquanto ele se afasta, mas continua na minha frente.
– Queria ser mesmo ele agora, e fritar você como o churrasquinho de ratos espetados que ele faz na fogueira. – ameaço e abro minha porta sob seu olhar divertido.
– Eu seria uma boa refeição. – diz e eu o olho meio debochada.
– Me daria uma caganeira das brabas. – rio e ouço sua risada ao entrar no carro. Fecho a porta, mas ele bate no vidro da janela e eu abaixo o tal.
– Atrevida demais! Feriu meu coração. – brinca e eu sorrio. Ele vai até o lado do motorista, abre a porta, entra e enfim, dirige.
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“Você é assim, um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você desde o amanhecer...”
– Ainda escuta esse tipo de música? – pergunto para Nath que ligou o bluetooth e conectou ao seu celular e esta foi a primeira música a soar.
“Eu gosto de você...”
– Eu continuo sendo romântico, Ruivinha. – forço uma risada debochada. A questão é que a temática da música me lembrava dos meus antigos sentimentos – Se esqueceu de como eu sou pelo tempo que ficou se afastando?
“O meu melhor amigo é o meu amor!”
– Você quer dizer o tempo que tentei né?! Você me ama tanto que não me deixou ter o meu próprio espaço. Seu carrapato!
“A gente não se cansa...”
– Você é obrigada a me suportar para toda a vida, Pequena.
– Não me lembro de cometer um crime para receber essa punição. – digo e ele gargalha.
– É um brinde para sua vida. – fala, fazendo brotar mais um sorriso em meu rosto – Agora deixa eu curti o melhor da música brasileira. – diz e aumenta o volume do som.
E enquanto a música segue e ele cantarola perfeitamente afinado, deixo minha mente vagar para alguns momentos em que tentei me afastar de Nath. Mas, ele sempre dava um jeito de se aproximar. Na minha cabeça, nos meus pensamentos e no meu coração, sentimentos, ambos tão confusos demais para eu aguentar. E bom, tê-lo por perto só trazia a certeza de que eu poderia estragar com tudo. Então depois da maior decepção da minha vida, eu consegui criar uma distância mascarada que me deixara segura. O problema é que acabou sendo geral, não só para ele e a falha era que ele era e é Nathan, a pessoa que mais me conhece no mundo.
E o tempo que eu fiquei viajando, prosseguiu levando a canção ao fim e trouxe o inicio de outra.
“Eu e você
Não é assim tão complicado...”
– Ah, não, Nath. Pelo amor de Deus.
– Não é difícil perceber... – ele começa a cantar alto me pirraçando.
– Nath!
“Quem de nós dois...”
– Vai fingir que não sabe apreciar boa música?!
– Não disse que não gosto.
– E eu sei que você gosta.
– Sim, mas só você mesmo para resgatar essas canções.
– Então para de ser chata e canta comigo vai. Sei que você também as tem na sua playlist.
– O cantor aqui é você, querido. Não eu.
– Mas, você continua sendo minha fã. Tem que perder esse controle aí e cantar comigo.
– Eu não sou você que vê um mico e já quer passar.
– Porém gosta de pagar mico comigo.
– Sinto dizer que amo mesmo... – começo a cantar com minha terrível voz e ele gargalha e começa a me acompanhar em seguida.
E assim, eu consegui estragar a canção da diva suprema Ana Carolina.
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‘Cause girls like you (Porque garotas como você)
Run around with guys like me (Andam com caras como eu)
‘Til sundown, when I come through (Até o sol se pôr, quando eu passar)
I need a girl like you, yeah, yeah (Eu preciso de uma garota como você, sim sim)
Eu não sei dizer quando foi que mudamos das melhores músicas brasileiras para as tops internacionais entre antigas do Michael Jackson, Whitney Houston e dos Backstreet Boys e as mais atuais como esta do Maroon 5. Só sei que nossos gritos, preencheram nosso retorno para a cidade enquanto cantávamos, ou melhor, eu desafinava e Nath arrasava com sua maravilhosa voz grave afinada e ritmada. Somente em um momento nos comportamos como os adultos responsáveis que com certeza não somos para que Nathan abastecesse o carro e eu aproveitei e liguei para Mariah e pedi para dormir em sua casa e ela permitiu doida de curiosidade para que eu a explicasse o motivo de eu estar usando o celular de Nath. Que grande amiga, né?! Eu também liguei para Dona Ju e avisei-a que dormiria na casa de Mariah.
– Obrigada pela tarde, Nath. – agradecer assim que ele estaciona em frente ao condomínio em que nossa amiga mora.
– Por nada, Lia. Sabe que pode contar comigo sempre! – dá um sorriso sincero.
– Sei sim. Sabe que é recíproco também. – retribuímos sorrisos.
– Ai de você se não fosse! – brinca, nos fazendo rir – Vá lá, princesa. Tenha uma boa noite.
– Obrigada. Você também. Nos vemos amanhã na faculdade. Provavelmente Lucas nos levará.
– Tadinho de Lucas, além de namorado da Mariah, também é chofer. – ele diz e ri.
– Então você é meu chofer? – indago brincando.
– Chofer é pouco, você me faz de escravo. – diz e eu dou-o um tapa em seu braço – Aí!
– Ainda acha que recebeu da minha companhia. Depois dessa vou sair. – digo e o faço ou seria provável que continuássemos conversando.
– Já vai tarde! – ele grita em meio a sua risada.
– Tchau, idiota! – grito também para ele que me espera entrar e fechar a porta de entrada do condomínio para então, partir.
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Atualizado até capítulo 98
Comments
o louco
medo doq essa história vai fazer cmg
2023-08-31
1
Bea Rdz
Viciante! 💻
2023-07-14
1