A Princesa

...Melissa Stefano...

— Deixe-me ver se entendi... Estavam na sala de aula, conversando, quando, do nada, a Melissa resolveu te golpear? É isso?

— Exato. — O babaca afirma, bufando.

— É mentira! — Nego em voz alta, contraindo maxilar.

— Então explique, Melissa.

— Sabe o que é, diretor... — Engulo a minha saliva e fragilizo a minha expressão. Uma verdadeira atriz. — Ele me assustou! Juro que foi em legítima defesa. O senhor sabe que eu não me dou bem com aproximações repentinas. Eu apenas reagi.

— Digo tudo de uma vez, em um fôlego, e então cruzo os meus braços sobre o meu peito, franzindo o meu nariz, irritada. — Quando ele se aproximou, eu comparei com um pervertido. Pensei e fiz o que achei certo.

Olho para longe, concluindo a minha frase.

— Foi um reflexo involuntário como nas últimas vezes?

— Sim...

— Certo. — Pigarrea. — Alex, peço que você releve esse golpe da Melissa, desta vez. Ela é agressiva quando se sente ameaçada por alguém.

— Como?! — Ele se exalta, alternando o seu olhar entre mim e o diretor. — Está me pedindo para deixar para lá? Sério?

— Melissa, você pode fazer-me um favor?

— Claro!

— Nesse tempo de instalação do Alex, aqui no nosso colégio, você poderia auxiliá-lo quando precisar?

— Espera... O senhor quer que eu ajude ele? — Aponto para o babaca, sentindo o olhar dele recaindo sobre mim. — Isso não vai dar certo.

— É o mínimo que você poderia fazer, afinal, você golpeou-o, e tenho certeza de que não se desculpou.

— Sou obrigada a fazer isso? — Pergunto, fazendo uma careta.

— É melhor que suspensão.

— Já que não tenho outra escolha...

— Muito bem! — Sorri. — Melissa, você pode sair. Vou conversar com o Senhor Spencer. — Aponta para a porta da sala com um sorriso sereno.

— Já estou indo. — Viro-me rápido e saio da sala, os deixando lá dentro.

...Alex Spencer...

— Qual é o problema? — Pergunto, cansado da conversa que estávamos tendo sobre a punição que eu ESPERAVA que aquela garota recebesse por seu ato.

— Vamos conversar sobre a Melissa... — Se senta na sua cadeira, apoiando os seus cotovelos sobre a mesa do seu escritório com uma expressão um pouco receosa. — Alex, eu sei que você não está acostumado a lidar com jovens adultos mal-humorados, mas pegue leve com a Melissa.

— Por que eu deveria agir com tal crença? — Bufo com ar de riso, não acreditando no pedido que me foi feito. — Não gostei do jeito dela.

— Ela não gosta da aproximação de homens. E julgo que não quer se machucar mais.

— O quê? Ela é feminista do tipo “odeio homens”?

— Quem dera fosse um motivo tão leve. Mas não, na verdade, ela odeia aproximação repentina.

— O que ela tem de tão sério, além de uma educação deplorável?

— Alex, eu te conheço desde pequeno, então acredito possa guardar o que vou te contar. Posso confiar em você?

— Claro, não vou contar à ninguém. Do que se trata?

— É a nossa Melissa, Alex.

— A nossa Melissa? Melissa Elizabeth Adams?! — Espanto-me, ficando boquiaberto pela revelação e, também, por não ter reconhecido ela.

— Sim, ela mesma. Mas hoje, ela prefere Melissa Stefano.

— Mas porquê? — Pergunto.

— Isso não é importante agora. A Melissa fica sensível com homens devido ao pai dela.

— Quê? — Arqueio as minhas sobrancelhas, bem surpreso, na verdade.

— É, eu sei. — Se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa, entre um suspiro. — Ele apareceu aqui, a chamou para conversar fora do colégio e... Bem... Digamos que ele a agrediu psicologicamente.

— Como ele a agrediu psicologicamente?

— Palavras que jamais deveria m ser ditas à alguém.

— Mas, por que isso aconteceu?

— Segundo o relatório da psiquiatra dela, era devido ao falecimento da mãe dela durante o seu parto. Ele nunca a culpou pela morte da sua esposa antes, mas no fatídico dia em que decidiu culpá-la, ele estava bêbado e botou todos os pensamentos para fora.

— Foi um golpe baixo, hein... — Murmuro, mais querendo refletir comigo mesmo, do que compartilhá-la.

— Se reparar, a Melissa não passa muito tempo com garotos. Interage brevemente, depois vai embora. Nunca nem a vi ficar muito tempo próxima à garotos na aula de educação física, nesses últimos quatro anos.

— Espera... Quatro anos? Mas ela ainda está no terceiro ano.

— Ela tem dezenove anos, e por um ano inteiro não veio estudar. Ela ficou transtornada... — Suspira de olhos fechados. — Felizmente, ela melhorou. Não totalmente, mas ela deu um avanço grande o suficiente para voltar a socializar.

— Isso é bom, mas o que você espera que eu faça quanto a isso?

— Acredita que poderia voltar a ser amigo dela? Ser um amigo homem e falar com ela quando precisar?

— Olha... Eu me sensibilizei com o passado dela, mas não penso que ela vá me querer como a sua amizade masculina. Não nos falávamos há anos e o senhor viu como ela me tratou.

— Ela só não deve ter te reconhecido. — Justifica. — Vamos, Alex... É bom com garotas.

— Ficantes. Uma amizade íntima com uma aluna são coisas completamente diferentes. — Balanço as minhas mãos, negando qualquer possibilidade.

— Diferente, como? São garotas, e sabe um pouco sobre elas. Já é o bastante.

— Chega. — Suspiro, esfregando as mãos sobre os olhos. — Beleza, eu vou tentar. Mas se eu for agredido novamente...

— Você vai tentar de novo e de novo, até ela parar. — Completa a minha frase, inclinando a cabeça para o lado e franzindo as sobrancelhas de um jeito ameaçador.

— Se você não fosse meu tio, eu nem cogitaria em concordar.

— Mas eu sou e estou contando com você para ter uma boa amizade com ela. Agora, pode se retirar.

— Droga... Isso pode dar tão errado... — Suspiro e me viro para sair.

— Alex, mais uma coisa.

— O que foi? — Me viro para ele novamente. — Mais alguma condição?

— Não, só quero que saiba que essa é a mesma Melissa daquela época. Você a conhece.

Franzo as minhas sobrancelhas e saio da sala de uma vez, sem esperar que ele diga qualquer outra coisa.

A Melissa daquela época.

Ando pelo vasto corredor, balançando a minha cabeça para sair desse tópico e me focar em outro, relacionado à mesma garota. Que loucura!

— Ela tem boas notas em geral, então, por que não fez uma prova para avançar um ano estudantil? — Paro em frente a porta do refeitório, vendo ela sentada em uma das mesas com apenas garotas. Parece normal. — Você realmente se sente melhor ou...

— O que você está olhando? Não vai entrar?

Olho para o lado de onde veio a voz, encontrando um garoto quase da minha altura, com cabelos vermelhos e o uniforme do time de futebol americano.

— Não, eu só estou observando o movimento.

— Você é um professor. Por que está encarando a nossa Princesa?

— Nossa? — Arqueio a sobrancelha.

— É só um jeito de falar. Ela é intocável por nós, mas é uma boa pessoa. Agora, por que a observava?

— Por nada. — Respondo.

— Você pode enganar qualquer uma daquelas garotas, se forem ingênuas, mas um homem não é. O senhor não está com segundas intenções com a Melissa, certo?

— Por que de tantas perguntas?

— Porque você é um professor e eu te achei estranho.

— E por eu ser um professor, tenho todo o direito de te mandar para a diretoria. — Expresso o meu tédio pelo que ele está falando.

— Porra... Já estou indo embora. — Ele se afasta de mim sem olhar para trás.

— Aquela garota é tão famosa? Hum, ela vai ficar brava comigo, mas... — Empurro as portas do refeitório, ganhando alguns olhares quando entro com o charme que eu sei que é irresistível.

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