5. SUSPENSE

Fiquei imóvel por um tempo, minha coluna inclinada para frente e meus olhos cheios de medo. Uma brisa gelada percorreu o corredor e invadiu o meu quarto.

Abracei-me para tentar conter o frio, mas não foi suficiente. Logo, meus arrepios se assemelhavam aos do meu Toddy nas noites de tempo gélido.

Tentei aquecer meu corpo esfregando as mãos, esquecendo que ainda estavam sujas com a gosma estranha de aspecto viscoso.

Passei sem perceber essa substância em minha pele. Isso me deixou ainda mais nervosa. Olhei para Selene, que continuava dormindo, roncando cada vez mais alto. Ao menos esse som servia para aliviar meu medo dos outros barulhos que ecoavam de lá debaixo.

Talvez fosse o mesmo som ao qual Selene se referiu. O ruído estava baixo e, do meu quarto, não era possível identificar sua origem exata.

Eu não me lembrava da última vez que havia visto um rato em nossa casa. Já fazia um tempo desde que meu pai matou um desses roedores que saíam à noite em busca de comida... Droga! Lembrei dele de novo.

Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando afastar as lembranças do homem que já não vivia mais em casa. Respirei fundo antes de dar os primeiros passos em direção à porta.

O corredor estava vazio. Caminhei descalça e silenciosamente pela casa, descendo os degraus lentamente, sentindo a frieza do corrimão e o som ficando cada vez mais audível.

— Mãe? — minha voz soou fraca e temerosa.

Minha garganta estava mais seca do que eu imaginava. Senti uma sede repentina.

— Mãe, você está aí? — ouvi talheres tilintarem em resposta e a porta da geladeira ranger.

Avistei a porta da geladeira aberta ao chegar à cozinha. A luz do interior da geladeira, situada entre uma vassoura e um armário de madeira, iluminava o cômodo antes de eu acender as luzes. Não havia ninguém ali, exceto eu, que olhava nervosamente para cada canto, de um lado para o outro, de cima a baixo.

Peguei um copo de vidro que estava sobre a geladeira com outros três e aproveitei que ela se encontrava aberta para encher com água. Minhas mãos tremiam tanto que um pouco do líquido acabou caindo no chão.

Após hidratar minha garganta, fui até o quarto de limpeza e de ferramentas e peguei um pano para enxugar o chão molhado. "Era só o som da porta da geladeira que foi esquecida aberta", pensei, ajoelhando-me no chão.

— Precisa de ajuda? — uma voz de timbre grave soou em meu ouvido.

Congelei imediatamente, meu coração acelerando e suando frio. Alguém se ofereceu para me ajudar, mas aquela voz não era a da minha mãe nem a voz da Selene.

Algo tocou meu ombro, senti uma pressão na região. Meu corpo passou do frio ao congelamento completo e minha visão escureceu.

Quando recuperei a visão, percebi que eu havia desmaiado em frente à geladeira fechada. Minha cabeça doía um pouco, sinal de que eu a tinha batido quando caí no chão.

Levantei-me, reclamando da dorzinha, e peguei mais um copo de água. Enquanto bebia, pensei no que havia acontecido, questionando se tudo não passou de um sonho. Talvez aquela voz fosse apenas uma ilusão dos meus ouvidos.

— Mary! — o súbito grito de Selene me fez deixar o copo cair no chão. Os fragmentos de vidro perfuraram meus pés, e respondi com um grito de dor.

Selene desceu correndo as escadas e chegou à cozinha com os olhos duas vezes maiores que o normal, respirando mais rápido do que uma corredora olímpica.

— Mary, tem um homem estranho nesta casa — disse ela, quase sem fôlego.

Minha mãe logo apareceu, perguntando o que diabos estava acontecendo. Ela notou meus pés sangrando e a expressão de pavor no rosto de Selene. A preocupação preencheu a feição da minha mãe e da minha  melhor amiga.

— Meu Deus! O que vocês aprontaram dessa vez?

— Tem um homem estranho na sua casa, senhora — repetiu Selene, recuperando o fôlego.

— Como assim, um estranho? — minha mãe olhou para mim como se eu soubesse de alguma coisa, mas eu não tinha a mínima ideia do que Selene estava falando.

— Filha, o que eu disse sobre não andar descalça. E olha só, como cortou seus pés? Precisamos cuidar disso agora mesmo. Venha para cá, mas cuidado para não se cortar ainda mais.

Afastei-me da área cheia de fragmentos de vidro. Minha mãe pegou a caixa de primeiros socorros no armário e, em seguida, puxou uma cadeira para eu me sentar.

Selene se sentou em outra cadeira enquanto minha mãe cuidava dos ferimentos dos meus pés. Como eu poderia ser tão azarada? Vários machucados em uma única noite.

— Eu me assustei com o grito de Selene e acabei soltando o copo no chão, e deu no que deu.

— Desculpa, Mary. Se eu não tivesse gritado, você não teria se machucado tanto.

— Devia ter pensado nisso antes de gritar — resmunguei.

— Mary, sua amiga não teve culpa se você não consegue ser mais cuidadosa.

— Mãe...

Ela estava do lado de Selene novamente. Minha amiga saiu vencedora, e qualquer coisa que eu dissesse não teria validade.

Não obstante, meus pés ardiam muito, o que só aumentava minha irritação naquela noite de azar.

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Comments

Katarina Sanchez

Katarina Sanchez

eo tody. tenho certeza que são companheiros de alma eo cachorrinho e um lobo

2024-01-26

0

Katarina Sanchez

Katarina Sanchez

kkkk

2024-01-26

0

ARMINDA

ARMINDA

MAS QUE HOMEM É ESTE QUE ESTÁ DENTRO DA CASA.1🤔🤔🤔😏🤔🤔

2023-10-01

0

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