2. ESPERANÇA

Dez anos mais tarde, meu pai se separou da minha mãe. Ele foi embora, e eu permaneci com ela em nossa casa de um andar.

Ele sempre foi um homem autoritário e controlador. Depois que cresci, ele me deixou ainda mais reclusa. Eu queria sair com a minha melhor amiga Selene, mas não podia.

A autorização da minha mãe sempre era inválida diante dele. Mas com a separação, tudo começou a mudar. Não obstante, admito que não desejava isso. Apesar dos seus defeitos, ele nunca deixou de cuidar bem de nós duas.

Ver a minha mãe triste pela casa me fazia desejar que ele voltasse, mas toda vez que eu ia até o quintal para passar o tempo no meu balanço, lembrava com nitidez do que ele fez no passado.

"Melhor que nunca volte mais", eu desejava no fim, acariciando as flores que nasciam sobre o túmulo do meu Toddy. As rosas tinham o mesmo cheiro do meu cão de estimação.

Anos se passaram, mas os meus sentimentos não se apagaram. No meu peito pulsava o desejo de rever o meu Toddy. Antes de dormir eu pedia a Deus que o trouxesse de volta.

Eu sabia que era um pedido impossível para um imortal realizar, mas Deus é um ser imortal, dotado de poderes inimagináveis. A minha fé sempre foi a minha última esperança.

Passei a tarde toda no meu balanço, refletindo sobre a vida. Muitas coisas mudaram, e o meu corpo foi só uma delas. Tornei-me uma mulher de cabelos longos escuros como a pelagem do meu Toddy e olhos tão verdes quanto os dele.

Antes, o galho que sustentava as cordas do meu balanço não se curvava tanto com o meu peso. Desenvolvi mais massa corporal e altura. Meus seios ficaram maiores que os da minha mãe, e suspeito que um dos motivos da separação dos meus pais tenha sido isso.

Nos últimos meses antes de ir embora, ele me olhava de um jeito estranho, igualmente aos garotos da universidade em que ingressei com a Selene, minha melhor amiga desde o colegial.

Ela é mais rechonchuda que uma maçã e tem uma personalidade muito mais doce. Seu jeito carismático e respeitoso foi o que nos aproximou. As pessoas criticavam a nossa amizade. Parecia que eu estava cometendo um erro sendo amiga dela.

Mas tanto ela quanto eu não tínhamos amigas no colegial. O grupo das alunas mais vaidosas do colegial chegou a me fazer o convite para eu fazer parte de sua bolha, mas eu simplesmente recusei. Não eram pessoas que me agradavam. Elas me lembravam muito a arrogância do meu pai.

Então, eu e Selene tivemos a nossa amizade formada pelas circunstâncias do destino e, sobretudo, por fatores em comum. Eu queria convidá-la para visitar a minha casa e passar a noite juntas como fazem as amigas em filmes e novelas, mas desde a morte do Toddy passei a temer o meu pai.

Eu pedia autorização para minha mãe. Ela permitia sem hesitação e ainda com um sorriso no rosto, mas acrescentava que eu tinha que pedir também ao meu pai. Isso era o mesmo que dizer não no fim das contas.

Mas agora ele foi embora, o homem que matou o meu Toddy, e eu já podia fazer e usar coisas das quais era proibida.

A tarde passou, e eu estava ali no meu balanço de madeira, observando a lua suspensa no céu, muito linda e brilhante. Suspirei como uma criança cansada após um dia gastando toda sua energia.

De repente, uma estrela cadente riscou o céu noturno. Levantei do balanço quase caindo, meio sem jeito. Pisei descalça em uma das rosas com espinho, mas mantive meu olhar para cima. Pressionei meus lábios entre si para conter o palavreado de dor, e em pensamentos mesmo fiz o meu pedido.

Não que eu duvidasse do poder de Deus e acreditasse mais em coisas esotéricas, mas pensei que isso reforçaria o meu pedido e talvez até diminuísse o meu tempo de espera.

Seja como e quando for, a minha fé em rever o meu Toddy continuará brilhando em meu ser.

— Mary, sua amiga Selene chegou — avisou minha mãe da porta da cozinha.

A estrela cadente passou muito rápido, mas senti que houve tempo de juntar as mãos diante do meu peito, baixar a cabeça, fechar os olhos e pedir veementemente o que eu desejava do fundo do meu coração.

— Já estou indo, mãe.

Quando dei o primeiro passo, senti meu pé doer. O mesmo com o qual pisei no espinho da rosa sobre o túmulo do meu Toddy. Gotas de sangue caíram no chão, e a região ardia.

Fui saltando como um saci até o banheiro de casa para limpar o meu pé machucado. Minha mãe brigou comigo ao me ver mais uma vez andando descalça, enquanto Selene riu da situação, porém, compartilhando que também gostava de andar sem calçados, mas não fora de casa.

Selene veio à minha casa para passarmos a noite juntas. Meu pai mal tinha ido embora de casa, e eu já estava fazendo o que desejava. Talvez fosse o sinal de que as minhas orações já estavam sendo atendidas.

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Comments

ARMINDA

ARMINDA

COMO OS PAIS SE SEPARARAM .AGORA PODE ARRUMAR OUTRO CACHORRO.

2023-10-01

1

Ana Cristina

Ana Cristina

Tenho certeza que vai rever o seu Toddy. Tomara que ele coma o seu pai 🙄🙄🙄

2023-08-27

0

Heloyse Salles

Heloyse Salles

Pai tóxico e assassino. Certamente a atmosfera da casa está mais leve kkkkkk

2023-08-27

2

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