Capítulo 4. Mudança

Karina instruiu, acreditando que obedeceriam:

— Vamos separar por tipos para facilitar e com eles separados, direi como limpar cada um.

— Mas porque isso, Karina? — perguntou a matriarca — sempre limpamos tudo junto!

— A deusa fez alguma coisa com a minha cabeça, que me deu muitas ideias para trabalharmos e prosperarmos e isso inclui usar as partes dos peixes que sempre jogamos fora.

— Bom, se foi a deusa quem ordenou, vamos experimentar. — disse um pescador, que ouvia tudo com atenção.

Não era fácil acreditar em algo novo, dito por uma jovem qlsem instrução e que parecia um moleque.

Assim fizeram e Karina ensinou a pegar as peles com as escamas e por no sol para secar, assim como o couro dos peixes sem escamas.

— Nós trataremos as peles e escamas e depois faremos vestuários, calçados e berloques, com eles.

— Que ideia esplêndida, Karina, como nunca pensamos nisso? — uma das mulheres falou.

— É obra da deusa. Agradeçam a ela. — disse Karina.

Depois dali, com as peles e couros repousando ao sol e as carnes tratadas e algumas também secando depois de salgadas, acompanharam Karina para um pequeno lago que se formou com a chuva. Alí se banharam e ouviram a jovem discorrer sobre tudo que poderiam fazer para melhorar a vila.

Os homens, quando voltaram de toda a limpeza dos barcos e redes, se admiraram com o trato novo dos peixes e foram informados sobre as ideias de Karina. Menos Kailow, que estava na praia, no mesmo ponto que ficava todos os dias, esperando pela deusa.

Mas enquanto ele esperava daquele lado, no ancoradouro do outro lado da ilha, chegavam botes com várias caixas e homens para carregar tudo aquilo para o castelinho de pedra. Um imenso cargueiro estava parado mais distante e de lá vinham todas as coisas.

Depois de tudo descarregado, três pessoas desceram do último bote.

— Escolheste um lugar bem remoto, minha deusa. — falou o servo.

— Pare de resmungar, homem e vamos logo, temos muito que fazer. — repreendeu sua esposa.

— Não tive escolha Borges, esse é o lugar que meu pai queria que eu cuidasse e acabei deixando ao léu. — contou, Marina.

— Entendi. Agora a senhora precisa restaurar o que se perdeu em meio aos anos. — respondeu o servo de nome Borges.

— Matilda, não se desgaste tanto, faça as coisas devagar, amanhã chegam algumas pessoas da vila mais próxima, para te ajudar.

— Obrigada, dona Marina. Estou feliz de estar aqui, afinal, viver na cidade entre aqueles humanos gananciosos e falsos, foi uma verdadeira tortura. — falou Matilda.

— Quem está resmungando agora, heim? Vamos logo, mulher! — gritou Borges.

A verdade é que todos estavam felizes por estarem ali. O mar era o verdadeiro lar para eles e os seres marinhos, sua família. O casal que parecia idoso no casarão da cidade, agora estavam com aparência rejuvenescida e não aparentava mais que 35 anos.

Muitas coisas mudariam dali para frente naquela ilha, muitos planos Marina tinha para aquele lugar. Alguns, teriam que esperar por seu "neto" se formar na faculdade, pois se referia a natureza. Outros, colocaria em prática, assim que se estabelecesse no local.

O importante era fazer com que aquele povo se restabelecesse e soubesse que Polion ainda os ama e cuidará sempre deles. O amor do povo ao seu deus é o que os sustenta. Os reinos enfraquecem sem o amor de seus súditos e assim é com o reino dos deuses.

***

No Reino do fundo do mar, muitos seres já comentavam dos feitos de Marina e não entendiam o porque de Polion tê-la enviado para a ilha de Crito, justo a ilha que recebeu, séculos atrás, os raios raivosos do antigo rei.

Polion tinha um carinho especial por aquela ilha, por ali viver a descendencia de um grande amor de sua vida. Antes dele ter se unido a Cristal, em sua juventude, havia se unido a uma humana e procriado. 

Quando o rei, seu pai, descobriu, ficou furioso, mas o estrago estava feito, então deu um jeito de tirar todo o poder que aqueles descendentes de Polion tinham. Assim, se assegurou que não surgiria uma nova raça.

O rei só não contava com a dedicação de Polion por aquele povo, ao ponto de criar Marina, dar-lhe vida e poder como se fosse uma deusa. Embora os planos de Polion estivessem atrasados, finalmente se cumpririam. Seu pai, o rei, estava morto e ele era o rei, agora e apesar de sua amada humana, também não estar mais presente, seus filhos estavam.

Desta forma, os fuxicos foram parar no ouvido da rainha Cristal, que não gostou de seu companheiro estar revivendo um passado tão distante, o que significava que ele tinha saudades daquele amor. Ela fechou os olhos e enviou um pedido a sua mãe Dóris, para que a ajudasse a impedir os planos de Polion.

Dóris por sua vez, disse à filha que sossegasse, pois iria enviar uma distração para a aberração criada por Polion e com certeza, os planos dele fracassariam. Cristal então sorriu e agiu como se nada soubesse, esperando pela derrocada do marido.

Capítulo 5. Defesas

Enquanto tudo isso acontecia, Kailow continuava olhando o mar e Karina, com seus novos pensamento e força, resolveu nunca mais ir atrás de seu grande amor e deixar os sonhos que formulara de ter uma vida com ele, de lado. Precisava se focar no bem estar da ilha, pois seu trabalho estava só começando.

— Karina, você acha que devemos falar com os homens para nos ajudar? Afinal é muito serviço. —  Perguntou a matriarca da vila, também mãe de Kailow.

— O homens já têm seus focos para trabalhar, mas podemos chamar os jovens que ainda não se uniram aos homens adultos.

— Boa ideia! MULHERES! ATENÇÃO! Amanhã, chamem seus filhos jovens para virem nos ajudar com essas hortas suspensas, temos muito trabalho.

— Matriarca Isaura, amanhã irei para a vila do Carmo, tenho instruções a dar a eles também. Tudo aqui já está organizado e já posso ir. — Karina tinha que ir, mas queria a benção da matriarca.

— Está bem filha, eu te dou minha benção, vá em paz.

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