No dia seguinte, os preparativos da mudança começaram e em uma semana, estariam na casa nova. Porém, Marina tinha um trabalho a fazer e desta vez não poderia falhar e por isso, foi até lá para ver o lugar.
***
A praia estava cálida e as águas potencialmente douradas pela luz solar. As marolas com sua espuma branca se dissolviam, absorvidas pela areia. O céu estava limpo e azul claro, tornando aquele horário do meio da tarde muito gostoso para descansar.
Kailow observava todo esse esplendor, escorado em uma grande pedra limítrofe da praia. Estava em uma pequena enseada, onde, de um lado havia uma montanha, por trás da pedra onde estava e do outro, um pequeno jardim de coqueiros altos.
Estaria tudo maravilhoso, se não fossem os problemas que as vilas daquela ilha estavam passando. Tantas dificuldades por conta da escassez de chuva. Nenhuma plantação vingou. Estava tudo esturricado pelo sol e dava pena olhas as plantas secas e sem chances de reviver. Os poços quase secos, com água suficiente só para beberem, não supriam todas as necessidades da ilha.
As mulheres eram as que mais sofriam e ele não sabia mais o que fazer. Saía todo dia para pescar, pois era o único alimento que ainda tinham, mas até isso estava escasso, ultimamente. Nem oferendas para sua deusa, tinham mais, para oferecer aquela deusa, que nunca os respondia e por isso desanimaram de colocar o melhor que tinham.
Algo caiu ao seu lado espalhando areia.
— Oi, Kai! O que faz aqui sozinho? — perguntou uma garota com jeito de menino, mas com um sorriso radiante.
— O que pensa que está fazendo, Karina? Para de ficar me seguindo! — Ele falou, com rispidez.
— Por quê você me trata assim, quando gosto tanto de você? — falou a jovem, sentida.
— Porque você é uma chata, feiosa e que me enche o saco! Cai fora daqui e me deixe em paz. — falou o grosso.
— Tá bom, tá bom, não precisa ser grosso, já tô indo.
Não parecia, mas Karina já estava com vinte anos. Seu jeito moleca de ser e seu corpo magro pelas dificuldades que passavam, faziam com que pensassem que continuava uma adolescente.
Devido a pobreza, optou por não se vestir com muito esmero. Seus cabelos poderiam ter lindos cachos caindo por suas costas, mas apenas cobriam sua cabeça, meio arrepiados.
Não tinha muitas oportunidades de crescimento em sua vila, por isso só ajudava nas tarefas, cuidando das crianças e ajudando a limpar e preparar os peixes que os pescadores traziam do mar.
Era apaixonada por Kailow.
Mas ele nem olhava para ela, era como se ela fosse um cachorro sarnento se enroscando em suas pernas. Os dois nunca chegaram a ter uma conversa decente e ele só a via suja de peixe e ou pulando em seu caminho, antes dele expulsá-la de sua presença.
Nesta tarde em especial, logo depois que Karina saiu, foi como se ela nem tivesse estado ali, pois toda sua concentração estava no mar, como se pressentisse que algo aconteceria. Mas tudo estava tranquilo, não havia ondas, o mar estava claro e a brisa suave.
Foi quando avistou uma sombra, vindo por baixo d'água e surgiu uma mulher linda, loira, seus cabelos tão claros que pareciam brancos. Sua roupa, que parecia tecida de algas e pérolas, cobria só as partes principais do corpo.
— Era por uma vênus assim, que eu esperava. — murmurou.
Ele se escondeu atrás da pedra e ficou observando a vênus que parecia ter saído de sua imaginação. Viu quando ela fez um movimento e uma briza mais forte a elevou pelos ares até o topo da pequena montanha, por trás dele.
Ele se afastou um pouco para poder continuar contemplando-a e viu quando ela ergueu as mãos para o céu, em direção ao mar e com os braços esticados, levantou o rosto com os olhos fechados e inspirou fundo enchendo os pulmões de ar e depois soprou.
Conforme foi soprando, nuvens foram se formando no horizonte e se agrupando. Inspirou novamente, virou-se para onde ficava a vila dos pescadores e profetizou:
— Levante-se mulher guerreira,
A terra à espera para dar frutos,
suas mãos abençoarão e seu amor prosperará a vida de seu povo.
Quando terminou de falar, Kailow sentiu uma onda de poder sair das mãos da mulher e ouviu um grito agudo ecoar, vindo da Vila. Ele reconheceu, por mais que não quisesse:
— Karina!
Nos dias que se seguiram, o povo dos vilarejos de Crito, viu uma grande mudança acontecer em toda a ilha. A chuva caiu por três dias sem parar, até encharcar a terra, quando diminuiu, já se viam mudas brotando e árvores florescendo no pomar.
Kailow havia contado para todos o que vira na praia e todos creram que era a deusa os socorrendo. Karina havia se escondido em algum canto e ninguém sabia onde estava. Seu grito espantou a todos, mas não souberam o que lhe aconteceu.
Em uma ponta da ilha, no local mais escarpado, havia um casarão de pedra, imitando um castelo, mas de proporções menores. Aquele lugar estava desocupado a muitos anos, se dizia que Polion se escondeu ali, fugindo de seu pai, o rei, por ter criado algo sem seu conhecimento.
Mas depois que a deusa apareceu, aquele lugar estava diferente. Primeiro uma ventania o varreu e depois a chuva o lavou e agora, do dia para a noite, havia iluminação em meio às pedras que brilhavam, como se fossem cravejadas de brilhantes.
Uma semana depois, a vila de Kailow estava em polvorosa com a quantidade de peixes para limpar. O mar tinha sido generoso e as mulheres se reuniram para limpar e preparar todo aquele alimento. Foi quando Karina apareceu.
Todos ficaram espantados em vê-la, primeiro pela aparência, completamente diferente, além da autoridade em sua postura, mas ela afastou a todos, não lhes respondendo pergunta alguma e os incitando ao trabalho. Antes que iniciassem, porém, pediu que despejassem, balde a balde, os peixes sobre a enorme mesa de madeira e foi separando-os.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Expedita Oliveira
🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭🤭😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱
2025-04-22
0
Joselia Freitas
Será que a vênus entrou no corpo dela,🤔
2024-05-09
2
Jailda Brandao
ela também tem poderes como ela mudou assim de uma hora pra outra👏👏👏
2023-07-01
3