Narrador
— Marinaaaaa, Marinaaaaaa…
— Papai…
— Você me desobedeceu, Marina! E agora, o que pretende fazer?
— Perdoe-me papai, foi mais forte que eu.
— Eu te criei com um propósito Marina e você nem chegou perto de onde te mandei ir.
— Os ventos me trouxeram para o amor, papai.
— Não culpe o vento pelo seu desatino, Marina, você controla ele e não ele a você.
— Desculpe, papai.
— Para que você compreenda o resultado de sua desobediência, vou lhe mostrar o que fez, mas primeiro pegue seu corpo das brumas e dispense seus servos. Vá, pequena rebelde.
Ela foi até a espuma, onde haviam depositado suas cinzas e as atraiu, fazendo com que se reunissem e formassem seu novo corpo que mergulhou, aproveitando a liberdade do fundo do mar e depois voltou, saindo em meio as ondas, caminhando lentamente para a praia.
Seu corpo estava coberto por algas e pérolas, que formavam uma veste parecida com os biquínis humanos. Chegou a areia, onde seus servos a encontraram com um lindo roupão, comprado por ela mesma, para essa ocasião.
— Meus queridos, agradeço pela vossa dedicação, agora vão, pois preciso encontrar com meu pai.
— Sim, senhora! — responderam os dois, se viraram e foram embora.
Marina ficou um tempo olhando eles irem, mas logo foi transladada para outro lugar, completamente diferente e distante de onde estava. Olhou ao redor e tudo que viu foi terra seca e esturricada. Não havia vegetação por um longo espaço e carcaças de animais jaziam ao sol.
Estava flutuando no ar e seus olhos produziram lágrimas, que rolaram como gotas de cristal por seu rosto e cairam no chão seco. Onde cairam, brotou uma pequena plantinha, que a fez lembrar que ainda havia esperança.
— Então, Marina, compreende agora o que tu causaste a esse povo?
— Me perdoe, papai?
— Foram cem anos humanos que você negligenciou seus deveres a troco de que, Marina? Quantas vidas se perderam para que você desfrutasse da satisfação de seus desejos?
Marina chorava e chorava e suas lágrimas eram absorvidas pela terra seca e brotavam mudas, que logo secavam pelo sol escaldante. Até a própria Marina sentia sua pele ressecar com o calor. Foi transladada mais uma vez e pairou sobre um imenso lago, que de tão grande, parecia um mar.
Observou aquelas águas claras e franziu a testa ao perceber que não havia vida naquela imensidão de água. Como estava pairando sobre as águas, desceu para tocar os pés nela e se assustou ao perceber que eram densas. Abaixou-se tocando os dedos nelas e levou-os à boca, sorvendo o líquido e percebeu que eram salgadas.
— Chamam-no Mar Morto. — Disse seu pai.
— Como pôde ficar desse jeito?
— Você não sabe? Venha!
Mais uma vez foi levada a outro lugar, dessa vez estava nas rochas que beiram o mar.
— Está vendo todas essas oferendas?
Ela observou restos e mais restos de potes com frutas e até restos de animais, todos ressecados, de muito tempo.
— São as oferendas que os moradores faziam a você, pedindo ajuda, para que chovesse, amenizasse o calor e salvasse as plantações e os animais.
— Eu não sabia…
— Claro que não sabia, estava desfrutando de seu mundinho egoísta de prazer carnal.
— Eu não sabia…
— Acaso não foi alertada a não se envolver com humanos? Não sabia que ao fazer tal coisa, perderia sua ligação com o sobrenatural? Foi por isso que seu corpo envelheceu e morreu e só agora, consegui te fazer me escutar.
— Você podia ter enviado mensageiros.
— Enviei e você fez eles de servos. Põe a mão na consciência, minha filha. Eu te criei para cuidar deste povo.
— Sim papai, estou aqui agora, o que quer que eu faça?
— Darlhe-ei outra oportunidade e você também receberá um castigo por sua desobediência.
— Que castigo? — perguntou exaltada.
— Você saberá com o tempo. Na verdade, não sou eu que te castigarei, é o retorno merecido por suas ações. Você tem dois dias para encerrar suas coisas no mundo dos humanos e vir para cá.
Depois de falar fechou a comunicação.
A criação
Polion não era de muito falar, mas aquela filha, criada com tanto aprumo, foi sua grande decepção. O problema foi causado no momento da criação, quando ainda estava formando seu corpo com a areia do fundo do mar e sua mulher com a fada das águas, a distribuidora de fluido do amor, entraram discutindo e uma atacou a outra com poder, antes que ele pudesse impedir.
Os poderes se chocaram sobre o corpo inacabado e o contaminou. Poseidon as fez pararem e perguntou porque discutiam? Elas se olharam e baixaram os olhos, envergonhadas.
— Anida, a fada, disse que eu preciso de uma dose de amor, pois não o trato com carinho suficiente e eu disse que ela está com ciúmes porque não pode ter você. — explicou a rainha, Cristal.
— Duas mulheres loucas, contaminaram minha criação e agora não sei qual será o efeito.
— Provavelmente será um ser mais emotivo que o normal, só isso. — Sugeriu Cristal.
— E também muito ciumenta — Polion olhou para Cristal, irritado — porque tenho uma mulher muito descontrolada, sem eu dar motivos.
Cristal fechou a cara, cruzou os braços, se virou e saiu. Poseidon olhou para Anida, sério e pediu:
— Não se meta no meu casamento, já tenho problemas demais sem você me trazer mais. Volte para suas flores e nos deixe em paz.
— Eu só queria ajudar. Fui!
Antes de sumir, porém, sem que ele percebesse, ela jogou uma porção de amor sobre o corpo. Assim surgiu Marina, muito mais emotiva e carente do que queria Polion.
***
O Dr. Júlio, testamenteiro, leu o testamento e todos aceitaram e assinaram os documentos.
— Ainda estou em choque, minha avó deixou minha vida toda organizada. Infelizmente não tive mais contato com ela. Agora ela se foi.
— Qual o curso que você está fazendo? — perguntou Marina.
— Agronomia. — respondeu Abdiel.
— Então vou pegar seu e-mail e manterei contato, pois a ONG precisará de um agrônomo daqui a algum tempo.
— Obrigada, dona Marina. — Assim eles trocaram contatos e a reunião terminou.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Expedita Oliveira
❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
2025-04-22
0
Jailda Brandao
parece interessante
2023-07-01
3