Clara
Hoje é sábado e não tem aula, e Sérgio também está de folga. No entanto, dona Amélia veio mais cedo e pediu se eu poderia levar alguns materiais para deixar no barracão no morro.
Ela explicou que na próxima semana começaremos definitivamente nosso projeto com as crianças. Dona Amélia não pôde ir porque precisava acompanhar sua filha ao médico.
Ela disse que as coisas estavam na Van, mas havia um problema: eu não sabia dirigir. Enquanto Sérgio se juntava a nós no portão de casa, eu disse a ela:
— Mas dona Amélia, eu não sei dirigir.
Sérgio, meu marido, se aproximou, colocou a mão em minha cintura, cumprimentou dona Amélia e perguntou se estava tudo bem. Eu expliquei a situação para ele. Sorrindo para dona Amélia, ele disse:
— Eu posso dirigir a van. Eu levarei minha esposa até lá, dona Amélia. Pode ficar tranquila. — Ele disse isso apertando minha cintura.
Sérgio é um homem de negócios em uma empresa renomada e tem uma boa aparência. No entanto, aquele simples gesto dele me deu um arrepio ruim. Eu conheço bem o marido que tenho e tenho certeza de que ele não estava fazendo isso de boa intenção.
Dona Amélia então disse:
— Que bom. Obrigada!
E assim, dona Amélia nos entregou a chave da van e foi embora. Sérgio olhou para mim e disse:
— Sua mãe me contou, Clara.
Sem entender, perguntei:
— Contou o quê, Sérgio? Não estou entendendo.
Ele se aproximou de mim, me segurou forte pela cintura e disse em um tom mais baixo, ao meu ouvido:
— Ela contou sobre a surpresa de rever um velho amigo da família. Ela me contou também que ele ficou ainda mais surpreso ao te ver.
Com o coração acelerado, eu disse a ele:
— Não começa, Sérgio. Ele é o dono do...
Sérgio me interrompeu:
— O dono do morro, eu sei. Ele poderia ser até o Papa. Não quero você tendo conversinhas com seu amiguinho bandido.
— Não fale assim. Você não o conhece. Ele é mais do que aparenta. Eu sei que ele tem um bom coração.
Sérgio apertou ainda mais seu braço ao redor da minha cintura e, em um tom autoritário e duro, me disse:
— Você é ingênua, Clara. Mas agora vá se arrumar, cuidar das nossas crianças, porque eu quero chegar com minha família perfeita e mostrar que estou fazendo uma ação maravilhosa para aquela comunidade de favelados.
Olhei para ele com repulsa e disse:
— Me solta, Sérgio!
Ele deu um sorriso cínico, me puxou ainda mais para perto dele e apertou-me ainda mais em seus braços.
Eu lutei para me soltar, mas então meu filho João aparece me chamando, e somente assim Sérgio me libertou.
Me afastei dele com uma mistura de alívio e angústia. Era um alívio momentâneo ter meu filho como uma distração para me libertar daquele abraço sufocante, mas a angústia persistia dentro de mim.
Enquanto me recompondo, olhei para Sérgio com firmeza nos olhos e disse:
— Não vou permitir que você menospreze e desrespeite as pessoas dessa comunidade. Eles são seres humanos como nós e merecem respeito.
Sérgio pareceu surpreso com minha resposta. Mas sem dar tempo dele dizer algo me afasto dele indo me arrumar.
E assim partimos. Logo chegamos ao morro e desço da van com meus filhos. Começo a arrumar as caixas para levá-las ao barracão quando avisto o mesmo jovem garoto que vi da primeira vez que estive aqui.
Ele me olha e imediatamente pega seu rádio para comunicar algo a alguém. Percebo que ele está avisando o Diogo, seu chefe.
Sérgio, então, começa a me ajudar com as caixas enquanto nossos filhos observam tudo ao redor com curiosidade. Isabely, puxando minha blusa, me pergunta:
— Mamãe, por que aquele homem está armado?
Procuro ajuda nos olhos de Sérgio, mas ele me ignora e finge não ter ouvido. Então, me abaixo e tento encontrar uma maneira adequada de explicar a ela que estamos em um morro.
Olhando nos olhos da Isabely, respondo com cuidado:
— Querida, aqui no morro, algumas pessoas carregam armas porque vivemos em um lugar onde a segurança pode ser um desafio. Elas usam as armas para se protegerem e protegerem suas famílias. Mas não se preocupe, estamos com o papai e temos um amigo que conhece bem essa comunidade e não deixará que nada de ruim aconteça.
Tento transmitir tranquilidade em minhas palavras, mas também enfatizo a importância de ficar perto de nós e seguir as orientações dos adultos.
— É importante que fiquemos sempre juntos e sigamos as instruções dos responsáveis. Eles estão aqui para nos proteger e garantir nossa segurança.
Espero que essa explicação ajude a tranquilizar Isabely e que ela compreenda a situação delicada do local em que estamos.
Logo vejo Diogo chegando, ele estaciona sua moto perto do garoto. O garoto diz algo a ele e nos indica com a cabeça.
Diogo então se vira e olha para nós. Nesse momento, meu coração acelera, pois Diogo ainda mexe tanto comigo. Cada vez que o vejo, é como se fosse a primeira vez.
Desde o nosso reencontro há alguns dias atrás, as emoções dentro de mim se intensificaram, mas a situação é embaraçosa, já que meu marido está ao meu lado e nossos filhos também.
Diogo olha intensamente para mim e depois seus olhos se dirigem aos meus filhos. João está ao meu lado e minha filha Isabely está abraçada a mim.
Lentamente, seu olhar vai para Sérgio. Ele encara Sérgio por alguns minutos, seu olhar parecendo que iria fuzilá-lo. Então, ele volta seu olhar para meus filhos e depois para mim novamente.
Meu coração nesse momento parece querer sair pela boca. Ele então se vira e diz algo para o jovem garoto que está com a arma na mão. O garoto parece querer questionar, nos olha e vai embora. E assim, Diogo caminha até nós.
Nesse instante, Sérgio coloca sua mão em minha cintura e puxa nosso filho João, de 10 anos, para perto dele. Percebo que Diogo logo nota esse gesto de Sérgio.
Ele chega até mim e diz:
— Clara, é bom te rever novamente. Acredito que essa seja sua família.
— Sim...
Quando eu ia responder, Sérgio me interrompe e se apresenta:
— Sérgio, marido da Clara, e esses são nossos filhos, João e Isabely. — Sérgio diz isso estendendo a mão.
Diogo ignora a mão de Sérgio, se abaixa próximo à minha filha e diz:
— Você parece uma princesa.
Isabely, sorrindo toda tímida, me olha e diz em um tom baixo, mas audível para todos:
— Mamãe, ele é nosso amigo?
Toda constrangida e vermelha, digo:
— Sim, filha, ele é nosso amigo.
Diogo então sorri, se levanta e olhando para João, bagunça o cabelo dele.
Eu me apresso e digo a ele:
— Trouxemos alguns materiais para o projeto.
Ele assente e me diz:
— Pode deixar as caixas, eu as levo para dentro do barracão.
Eu o olho e digo:
— Imagina, são muitas caixas. A gente te ajuda.
Sérgio então, em tom meio de deboche, diz:
— Mas ele disse que leva Clara. Ele deve estar acostumado a carregar mercadorias.
Naquele instante, meu coração acelera. Era nítido que uma rivalidade surgiu entre Sérgio e Diogo, e eu também soube que Sérgio se referiu às atividades ilegais relacionadas ao fato de Diogo ser o chefe do morro.
Percebo o olhar sombrio que Diogo lançou a Sérgio, mas logo em seguida ele volta a fixar seus olhos em meus filhos e depois em mim.
Com um movimento rápido, Diogo pega uma das maiores caixas e a joga com força em cima de Sérgio, fazendo-o recuar desequilibrado pelo peso surpreendente da caixa.
Diogo então o encara e diz:
— Fica ligado, mano. Precisa tá esperto aí. Por enquanto, você vai ajudar a carregar umas caixas.
Nesse momento, percebo um pequeno sorriso se formando no rosto do meu filho João, enquanto ele olha admirado para Diogo.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Paty Mattos
esse Sérgio é um insuportável que não sabe tratar uma mulher bem, nem os filhos , mais logo logo ela será tratada como uma princesa se é que me entendem😂😂😂😂, com uma mãe como Márcia não precisa de inimigos
2024-02-03
1
jeovana❤
essa mãe dela e uma bruxa
2024-10-20
0
Estrella Guia 💖
kkkkkk boa Diogo
2024-08-07
2