Um homem completamente vestido de branco

Em algum lugar em Omsk. Tempo presente.

Yuliya se viu presa em um pequeno cômodo com uma cama de solteiro caindo aos pedaços. O cheiro do lugar é horrível. Cigarro e urina misturados em um ambiente que não recebe circulação de ar por muito tempo ao que parece.

Não entende o que está acontecendo e nem sabe onde estão seus pais. Sempre temeu algo desse tipo, o dia que fosse sequestrada e fosse usada como moeda de troca por algum desafeto de seu pai no mundo crime.

*💭*Só espero que ele não demore muito pra me buscar 💭

De repente ouve um barulho e a porta se abre revelando um homem estranho, usando calça e blazer. Ele fala em um inglês afetado, embora tenha traços latinos.

- Anda logo garota, nós temos que ir.

Yuliya trava.

- Ir pra onde?

O homem grande perde a paciência e entra no cubículo a pegando pelo braço esquerdo com força.

- Você não precisa saber, só precisa ir!

*********

Tijuana, México. Tempo presente.

Yuliya foi colocada em um avião e quando começou a dar trabalho foi dopada. Mais uma vez acorda em um quarto, só que esse não é um cubículo fedorento, é um quarto grande e com uma cama enorme e confortável forrada com lençóis vermelhos. Yuliya observa tudo e vê uma mesa de canto e um poli dance em frente a um espelho. O lugar parece com um quarto de bordél, embora ela não saiba disso. Nunca esteve em um na vida.

Anda até às cortinas e quando abre nota que a parede não tem janelas. A refrigeração do quarto é feita por um ar condicionado.

Ela se senta na cama olhando pra frente e tenta processar o que está acontecendo. Mais uma vez é interrompida por alguém abrindo a porta.

É outro cara, usando um terno cafona e mal cortado em um tom de verde abacate. Ele traz uma bandeja de comida com uma garrafa de água e tem o mesmo sotaque afetado do outro.

- Vamos lá, muchacha. Coma! Victor quer você bem e forte.

Yuliya nega com a cabeça e diz:

- Não quero comida alguma. Quero meus pais!

Ouve uma risada horrível do homem e consegue perceber que ele tem um dente de ouro no lugar do canino direito.

- Seus pais não vão chegar aqui pra te pegar. Você é do Victor agora.

Já ouviu esse nome, conhece um homem latino que se chama assim.

💭Será que foi Gonzáles que mandou me buscar?💭

Ela estremece lembrando do homem aterrorizante que vai na casa dela de vez em quando. Sempre a cobiçando demais com os olhos e com uma expressão de quem só pensa em coisas perversas.

Continua se negando a comer, até que o homem sai e a deixa sozinha.

************

Yuliya dormiu e quando acorda tem fome, não sabe se estão em um novo dia, nem faz ideia de que horas sejam. Ela procura a bandeja e destampa o prato que deixa ver um sanduíche natural. Depois de comer ela se levanta da cadeira e anda pelo quarto.

Empurra uma pequena porta no canto esquerdo e descobre um banheiro bem organizado e limpo. Tem uma toalha embalada em um plástico, sabonete ainda na própria embalagem, shampoo, condicionador, escova e pasta de dente novos.

Decide tomar um banho rápido pra não correr o risco de ser pega de surpresa. Só depois que molha o corpo é que lembra que não vai ter roupas limpas por aqui.

Já está quase usando as mesmas que estava vestindo quando ouve uma voz feminina.

- Señorita Sarvetinenko.

Yuliya é muito bem educada e fala alguns idiomas.

Sai do banheiro enrolada na toalha e vê uma garota simples usando um vestido largo e tranças nos cabelos.

- Soy yo misma.*

A moça estende uma sacola e Yuliya pega abrindo e vendo que tem um vestido fresco, lingerie e um par de chinelos de borracha pretos.

- Son nuevos. Juárez te lo entregó.**

A moça se vira pra ir embora, é quando Yuliya segura em seu braço direito.

- Cuál es tu nombre?***

A moça responde que se chama Rosalía.

- Rosalía, dónde estoy? Y qué día es hoy?****

Rosalía olha pra um lado e para o outro antes de responder de maneira baixa:

- Hoy es domingo. Estás en Tijuana, más precisamente en la discoteca Mariachis. El propietario es el Sr. Víctor Gonzáles.*****

Rosalía se vai deixando Yuliya atônita e sem conseguir acreditar que já se passaram três dias desde que viu seus pais pela última vez. Está muito longe de casa e sabe que Victor provavelmente quer lhe fazer mal.

********

Já é mais tarde quando o homem cafona vem mais uma vez trazendo comida. Está usando um terno rosa salmão e ela deduz que já se passou um dia desde que chegou aqui.

- Hum, vejo que o vestido que mandei Rosalía trazer serviu direitinho.

Então ele é Jurez.

Ela fica calada, não vai interagir com o homem, mas para o seu azar ele quer interagir com ela. Se aproxima e Yuliya tenta se trancar no banheiro mas não consegue fazer isso a tempo. O homem a segura com força e a joga contra a parede.

Sente medo.

Nunca teve interação íntima com o sexo masculino além dos beijos com um ou outro colega. Em parte por ter sido criada com muito pudor por Yrina, sua mãe, mas também por ser filha de quem é. Os garotos ficavam longe de Yuliya no colégio e na faculdade.

Está convencida de que vai ser viol*ntada, mas ouve o homem dizer:

- Uma pena que não posso ir até o fim com você. Victor me mataria. Mas sua beleza é muito diferente da beleza das garotas aqui.

Juarez força o vestido dela pra baixo e logo depois a lingerie. Yuliya grita por ajuda, mas tem a boca tampada de um jeito forte.

- Shhiiiu. Sem escândalo! Os outros podem querer vir, e não sei se vão se segurar como eu.

Ela pode sentir as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto o homem destampa sua boca e desce as mãos por seus s*ios. Ele aperta forte, de um jeito que dói e machuca. Yuliya sente que vai ficar com marcas.

- Seu dono vai demorar um pouco mais pra voltar, vai dar tempo de sair tudo.

Ela sente uma ânsia de vômito quando ele desce as mãos por seu corpo e toca seu s*xo por baixo da calcinha. Yuliya força em Juarez pra se afastar, mas não consegue rivalizar com ele.

- *Para de resistir, muchacha. Se você for boazinha e me fizer g*zar, eu te faço também. Existem muitos jeitos de matar a vontade sem tirar o seu lacre*.

Yuliya luta contra a vontade de vomitar e consegue pisar forte no pé esquerdo dele. Quando Juarez se afasta, ela grita:

- NUNCA MAIS ENCOSTE ESSAS MÃOS IMUNDAS EM MIM!

Ganha uma bofetada no rosto e sente o gosto do sangue na boca.

- *Sua v*gabunda! Eu vou encostar em você todas as vezes que eu quiser, quem manda aqui sou eu! Você vai aprender uma lição, vai ficar sem comida por uma semana*!

Juarez sai levando a bandeja de comida e deixando apenas a garrafa de água, enquanto Yuliya se deita encolhida na cama chorando de um jeito intenso e completamente traumatizada pelo que acabou de acontecer. Consegue ouvir a chuva forte que cai lá fora graças a tubulação do ar condicionado, os raios e trovões que ecoam lhe dão ainda mais medo.

********

Se passaram mais dois dias desde que Yuliya chegou até a Mariachis. Ela sabe disso porque Juarez veio duas vezes trazer água usando uma roupa diferente. Nessas duas vezes ele a tocou de maneira inapropriada de novo e a obrigou a toca-lo também sob a mira de uma arma.

Ele já veio hoje, então ela está um pouco mais aliviada sabendo que não vai voltar a vê-lo. Mas pro azar de Yuliya ele aparece de novo, com uma sacola nas mãos que contém uma lingerie indecente em um tom de magenta e uma caixa com um par de salto alto vulgar e meia pata.

- Anda! Veste ela pra mim e calça a sandália. Você vai enfeitar a mesa de jogo.

Yuliya se nega em um primeiro momento, mas Jaurez deixa ver o revólver preto na cintura em uma ameaça silenciosa e ela acaba cedendo.

Depois de se vestir sob o olhar depravado do homem que não permitiu nem que ela fosse ao banheiro, Yuliya sai sendo escoltada de perto. É a primeira vez que pisa fora do quarto e fica horrorizada vendo que se trata de um prostíbulo. São vários quartos e nas portas mulheres seminuas ou nuas fazendo poses sensuais enquanto homens andam pelos corredores escolhendo alguma. Ela pode ouvir uma música forte vindo de baixo, pois sente o chão tremer. Acabam descendo as escadas juntos e quando ela passa sendo segurada por Juarez pelo braço, pode sentir que alguns homens passam as mãos por seu corpo.

Yuliya fecha os olhos de um jeito forte contendo as lágrimas.

Juarez a leva até uma parte reservada, é uma sala com uma mesa redonda e grande com sete homens em volta. Seis deles são latinos, mas um em específico chama a atenção dela imediatamente. O sétimo homem não se parece em nada com os homens aqui. É loiro, de olhos azuis com um brilho vitral, está inteiramente vestido de branco e tem um jeito mortal.

Observa Yuliya atentamente e ela consegue perceber que ele é o único da roda que não desce os olhos por seu corpo. Os outros a cobiçam como um pedaço de carne exposto. Mas afinal, é o que ela é essa noite.

- Fica ali no canto, muchacha. Você vai nos servir essa noite.

Juarez empurra Yuliya pra um canto e ela fica de cabeça baixa. De vez em quando levanta o olhar, e pode perceber que o homem de branco a observa também. Sempre no mesmo momento em que ela o faz.

Yuliya serve os homens com cerveja e comida por um tempo, observando que o homem diferente é o único que não come e bebe, até que eles começam a conversar.

Um homem grande e barbudo diz:

- E então, gringo? Qual a sua proposta pra nós?

O homem loiro abre um sorriso lindo e enorme.

- A morte.

Os homens em volta da mesa riem, de um jeito exagerado até, e se dão conta de que não conseguem parar. Não há dor alguma, mas eles sabem que não estão em seu estado normal.

- A natureza é algo extraordinário, não é meus amigos? Como pode um peixe tão pequeno como o blenio possuir uma toxina paralisante tão potente como a que tem?

O homem vestido de branco se levanta colocando no chão a bengala de mogno com a cabeça de prata que usa.

- A propósito, não é "gringo", eu sou Angelus e vim essa noite pra encomendar as suas almas.

Yuliya treme de medo. Teme que seja morta aqui por esse homem completamente estranho. Muito longe de casa e dos próprios pais.

Ela começa a chorar, até que chama a atenção da morte.

- Não se preocupe, Yuliya, eu vim pra cuidar de você. Me diga, qual deles foi o responsável por essas marcas em você?

Em completa obediência ela aponta o dedo pra Juarez.

Angelus se vira para o homem.

- O que você fez com ela, seu porco imundo?

Juarez não tem força é nem domínio sobre os músculos para se mover. Ele apenas consegue falar. Sente o corpo relaxado ao extremo, embora sua mente esteja tensa e tomada de medo.

- Só a toquei e fiz com que me tocasse. Não fui até o final, ela é propriedade de Victor.

Angelus observa Yuliya. Pela primeira vez seu olhar desce por seu corpo registrando as marcas roxas que estão além do rosto da garota jovem.

- Você está mentindo pra mim, Juarez. Você agrediu fisicamente essa garota, além de a ter m*lestado. Eu te condeno a ser emasculado. E aos demais eu condeno a serem d*golados.

Yuliya sente o desespero tomar conta quando entende que o homem na frente dela é extremamente perigoso. Com certeza mais do que os homens ali presentes e todos os quais o pai conhece.

Angelus se vira e mexe em uma bolsa. Ele pega uma capa branca e longa e estende pra ela.

- Vista-se. Você vai me esperar do lado de fora.

Ela pega a roupa e se cobre, saindo do cômodo e esperando pelo homem estranho que chegou para salva-la. Não demora e Yuliya ouve os gritos agonizantes atrás da porta. Não sabe o que está acontecendo, mas tem a certeza de que o único homem a cruzar a porta atrás de sí, vivo, será o que vem completamente vestido de branco.

________________________________________

*Soy yo misma: Sou eu mesma.

**Son nuevos. Juárez te lo entregó: São novos. Juarez mandou te entregar.

*** Cuál és tu nombre?: Qual é o seu nome?

**** Rosalía, dónde estoy? Y qué día es hoy?: Rosalía, onde estou? E que dia é hoje?

***** Hoy es domingo. Estás en Tijuana, más precisamente en la discoteca Mariachis. El propietario es el Sr. Víctor Gonzáles: Hoje é domingo. Está em Tijuana, mais precisamente na boate Mariachis. O proprietário é o senhor Victor Gonzáles.

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Comments

Renascida das cinzas

Renascida das cinzas

o Anjo, no caso dela, da salvação.

2024-08-21

2

Renascida das cinzas

Renascida das cinzas

scr*t* nojento!!!!

2024-08-21

0

Luluzinha

Luluzinha

2024-05-20

1

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Atualizado até capítulo 45

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