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Domenico Pappalardo Coppola

Hoje é sexta feira, são exatamente seis e dezessete da manhã, estou desperto, bem disposto para esse encontro que se repete todas as vezes que surge um problema.

Estou reunido com os dez membros do conselho da Famiglia Pappalardo na sede da nossa organização na cidade de Catania. Aproveitei para trazer alguns documentos para revisarmos juntos.

Acontecimentos como a bagunça que o Paolo Falzone fez, me deixa estressado, tenho que tomar decisões importantes, não tenho tempo para perder com aquele imbecil.

_ Essa ganguezinha está chamando a atenção da polícia para o meu território Giuseppe Falzone _ meu tom é grave, baixo. Olho para o senhor de 55 anos á minha frente. Eu o respeito, admiro, ele foi homem de grande confiança do meu pai, consequentemente é meu também.

_ Sinto muito meu capo, falarei com Paolo _ está temeroso porque sabe que se eu quiser acabo com a vida do seu filho apenas com uma palavra. Aquele merda sem noção, comanda uma minúscula parte da Famiglia Pappalardo, uma organização que está há séculos no comando da maior máfia da Sicília.

A sua gangue está me dando muitos problemas ultimamente, agora chamou a atenção da Europol.

Dario Basile é nosso inimigo claramente declarado. Já discutimos muito, juramos um ao outro de morte, não cumprimos ainda por falta de oportunidade. Da minha parte, estou num momento delicado de lavagem de dinheiro, não posso correr o risco de ter meu nome divulgado na imprensa. Então, me mantive afastado dele, que deixou bem claro que se algo de grave lhe acontecer, precisa ser verdadeiramente investigado. Adiei sua morte, tudo pela Famiglia Pappalardo.

No entanto, há outros que só pensam em si mesmos, como esse idiota do Paolo Falzone.

_ Giuzeppe Falzone, ele não vai te ouvir meu caro _ uso poucas palavras, não vou me aborrecer mais com esse assunto. _ Precisa mandar um recado eficaz. Entende? _ Pressiono, não quero saber de um bostinha insignificante atrapalhando meus negócios.

Sou Domenico Pappalardo Coppola, tenho 25 anos, sou capo da maior máfia Siciliana desde a morte do meu pai, por um avassalador câncer de fígado. Faleceu há dez anos atrás, me deixando com o controle de toda a organização. Fui criado desde pequeno para ocupar esse posto, não tive receio algum quando o momento chegou. Estava com 15 anos, mas com  a ajuda dos meus tios e conselheiros segui firme no propósito de trazer mais fortuna para nossos negócios.

Famiglia Pappalardo é meu orgulho, amor e devoção. Pappalardo é um sobrenome que significa ambição, um singelo sinônimo da nossa máfia que começou aqui, na Catania e se espalhou por toda Sicília.

Mandamos em tudo por aqui, a Itália não tem poder para nos parar ou interferir, caso contrário, enfrentará imenso derramamento de sangue. E não vai ser o nosso, isso eu garanto.

Comando com firmeza, minha palavra é lei, não é fácil porque temos membros por todo o mundo, mas meu pai me instruiu para ser o melhor.

É o que sou!

Minha mãe, não sei quem foi, nem me importo. Provavelmente alguma prostituta barata, deve ter ganho muito bem para dar um filho ao capo, que era meu pai. Nesses dez anos que comando a família não cometi um único erro, isso porque, não deixo pontas soltas, resolvo com antecedência qualquer pendência. Não matei Paolo ainda por consideração ao seu pai, o Giuzeppe Falzone. Pela sua lealdade a mim e a nossa família.

Vou dar uma chance para que ele resolva isso de uma vez por todas.

Meu celular toca, não gosto, essa reunião é de suma importância.

Quem está me incomodando numa hora dessas? O dia mal começou.

Sem olhar, pego o telefone, saio da sala para atender.

_ Quem ousa me importunar? Espero que o assunto seja sério se não quiser morrer _ não levanto meu tom de voz, o timbre moderado não esconde a ameaça.

_Isso é jeito de falar comigo? _ Minha nona responde, fecho meus olhos arrependido por não ter verificado o visor.

Nona é uma senhora que considero minha avó, me criou desde bebê, é da família, a única pessoa que tem o direito de me repreender no mundo inteiro.

_ Bom dia nona. Como a senhora está? _ Tento reverter, não funciona.

_ Muito triste porque meu neto me ameaçou de morte _ diz fingindo estar abalada, uma forma de me manipular, é esperta como uma raposa.

_ Nunca ameaçaria a senhora _ falo firme e com carinho.

_ Está me chamando de mentirosa? _ Me impressiono como coloca tudo que eu digo contra mim.

_ Não faria isso. Mas, me diga, porque me ligou? _ Prossigo ou não sairemos do lugar com essa conversa.

_ Não pode ser porque estou com saudades? Tem quase um mês que não te vejo _ reclama, sei que tem razão, mas a organização em primeiro lugar, meu pai me condicionou a priorizar isso. Proteger nossa familia.

_ Entendo nona. Infelizmente não vou poder vê-la pelos próximos meses. Viajo para Palermo em menos de dez dias, vou visitar Luca _ é um primo meu, filho do irmão do meu pai, somos bem próximos, deixei ele no comando dos negocios na capital. Meu tio se afastou da frente dos negocios para viver em férias eternas com sua esposa numa praia qualquer.

Tenho mais um tio que é Capo na cidade da Bolonha. Vive bem lá, juntamente com sua esposa e filha, minha prima, Valentina Pappalardo Coppola, hoje com apenas 12 anos.

_ Você é um ingrato, queria te ver _ sei que está me enrolando sem falar o que realmente quer.

_ Não posso adiar meu encontro com Luca nona, temos assuntos importantes para resolver. _ explico calmo.

Moro aqui na Catania, mas, não vou muito na minha casa, permaneço dentro do condomínio da organização por meses. Tenho inúmeros deveres a cumprir.

_ Tudo bem, te conheço, sei que quando puder virá para casa _ suas palavras me aquecem, sinto o amor por ela invadir meu peito. Me entende melhor que ninguém. _ Domenico quero contratar uma moça para trabalhar aqui na mansão _ conta o motivo da ligação.

_ Não precisa me ligar por isso nona. A senhora sabe que só precisa falar com o Angelo Montalbano _ ele é meu braço direito no que se refere a segurança e contratação de funcionários. _ Liga e peça que leve algumas mulheres para você escolher _ digo, nossa organização é cheia de moças procurando um trabalho que não seja nas casas de shows ou nos bordéis que pertencem a nossa máfia Famiglia Pappalardo.

_ Já encontrei a moça, o problema é que ela não é da familia _ ela está conseguindo me estressar.

_ A senhora sabe que é expressamente proibido trazer pessoas comuns para servirem a gente nona, ainda mais na minha casa _ retruco bravo.

_ Sim, eu sei meu neto. Mas, ontem quando voltávamos das compras, o Gianni Pipitone atropelou a moça _ explica, esse senhor é o motorista particular dela.

_ O quê? Ele enlouqueceu? A polícia apareceu? Como foi isso? Vou mandar cortar a cabeça dele _ falo rapidamente, mas no tom controlado. Aquele idiota está velho demais, não sabe nem dirigir mais. Merda!

_ Calma meu neto. A polícia não entrou nisso. Levamos a menina para o hospital, ela não se machucou muito. Pobrezinha, me disse que perdeu os pais, foi sequestrada, tem um irmão de dez anos desaparecido, fugiu e não tem para onde ir _ continua, que história mais sem pé nem cabeça. Vou mandar Angelo Montalbano investigar. Deve ser alguma prostituta barata querendo armar para cima de mim. Não acredito nessas historinhas para boi dormir. Essa mulher aí pode enganar a nona, porém, a mim, não. Deve ser uma armadilha de algum inimigo nosso querendo obter informações.

_ Já sei, a senhora ficou com dó. Sinto muito nona, as regras foram feitas para serem cumpridas. Nada de contratar alguém de fora da família _ sou categórico.

_ Mas, ela tem 15 anos, ainda é uma criança _ bem, agora as coisas mudam.

_ E o que ela vai fazer aí na minha casa, é nova demais, não sabe nada _ protesto.

_ Não se preocupe meu neto, vou ensina-la a trabalhar da forma correta. Muito obrigado por mudar de idéia, coma direito, durma bem para descansar o corpo e me liga para dizer como está porque fico preocupada. Até mais _ desliga antes que eu possa dizer mais uma palavra.

Ela me levou na lábia, aquela ladina, me irrito muito. Respiro fundo. Tudo bem, tenho coisas mais relevantes para solucionar aqui. Angelo Montalbano que resolva isso, envio uma mensagem rápida para que investigue a moça.

Não vou correr o risco de alguma puta estar usando a bondade da minha nona para ter acesso ao conforto da minha casa.

Coloco meu telefone no bolso da calça, volto para a reunião.

Entro na sala, todos fazem silêncio, me acomodo na minha cadeira na cabeceira da avantajada mesa.

_ Giuzeppe Falzone, você tem apenas uma chance para colocar seu filho no lugar dele. Se falhar não vou deixar passar, eu mesmo mato ele. Ficou claro? _ Desconto meu estresse no senhor franzino, os outros me olham com respeito, sabem que minha paciência é curta.

_ Sim meu capo, vou dar uma lição naquele abusado _ responde, concordo.

_ O outro assunto é sobre o Pasquale Bonaccorso _ não elevo meu tom, mas todos sabem o quanto aquele nome me enche de raiva.

Pasquale Bonaccorso seria nosso parceiro de negócios mais recente, se tivesse aceitado as cláusulas do nosso acordo. Recusou, manteve sua negativa, o declarei um inimigo, depois disso, está vivo por puro acaso. Saiu da adolescência há pouco tempo, não sabe o que está fazendo á frente de uma máfia. Do contrário veria o quanto é importante firmar aliança com a gente. Sua organização é de porte menor, de família antiga da Itália. Não se envolvem nos nossos negócios, o foco deles é drogas, remédios para ser mais exato. Traficam medicamentos para tratamentos de várias doenças terminais ou raras. Fazem lavagem de dinheiro também.

Seria perfeito se tivesse aceitado nossa oferta, recusou. Claramente, queria usar nossos funcionários por uma quantia irrisória sem se comprometer de facilitar a chegada de nossas armas nos portos que gerenciam.

Decretei que seu pessoal deveria receber nossos navios cheios de mercadorias, sua resposta foi só uma. Não! Por mais raiva que tenha sentido desse otário, admirei sua coragem, depois, deixei claro que faria de tudo para vê-lo morto, preferencialmente pelas minhas próprias mãos.

Tem um ano que batemos de frente, ele assumiu assim como eu, o lugar do pai quando o mesmo morreu junto com sua mãe, numa emboscada do Fabrizio Randazzo. Um rato de esgoto que não tem escrúpulos nenhum, trabalha na Itália com venda de mulheres, órgãos e crianças. Não é segredo que envenenou seus pais para ocupar o lugar de Capo na família dele. Mas, não é idiota o suficiente para se intrometer com nossa Famiglia Pappalardo. Do contrário, teria enorme prazer em lhe torturar lentamente e por longos dias.

Nossa organização não trabalha com as mesmas coisas que eles, nem matamos inocentes.

_ Ele continua na dele _ responde Pietro Bellomo, um dos conselheiros.

_ Precisamos pega-lo, quero Pasquale Bonaccorso morto o mais rápido possível _ sentencio baixo, frio.

_ Vamos continuar com os homens no seu rastro. Mais cedo ou mais tarde ele vai cair nas nossas mãos _ Bellomo continua.

_ É o que espero _ deixo minha opinião clara. _ Mais alguma novidade?

_ Sim meu Capo _ Giuzeppe Falzone é quem fala. _ Nossos contatos disseram que Fabrizio Randazzo está tentando parcerias com o sheik Khan Al-Abadi.

_ Não me surpreendo _ comento. Esse sheik, não passa de um velho pervertido, sádico, escroto, que compra crianças para fazer todo tipo de atrocidades sexuais, depois simplesmente as queima vivas. _ Procure saber mais sobre isso, esse Fabrizio Randazzo não vale nossas preocupações, mas seria interessante matar ele. Acabar com o mal pela raiz, o mundo não precisa de alguém que matou os próprios pais _ termino.

_ Sim Capo, vou pedir para meus homens se inteirar mais desse assunto _ Giuzeppe Falzone assente.

Continuamos conversando sobre minha viagem para Palermo, meu primo está tendo dificuldade de entregar armas para o nordeste do país, tem uma nova delegada pegando no pé dele. Vou até lá resolver.

Quero conversar pessoalmente para que me conte em que pé andam as coisas. Nos damos bem na medida do possível, ele completou 20 anos, não gosto de me intrometer no comando dele, mas sim, estar por dentro de tudo o que acontece.

Não achei que ele demoraria tanto para resolver esses atritos, temos meios para fazer essa delegada desaparecer sem deixar vestígios. Algo me diz que ele está recuando. O conheço bem, ele gosta de sempre levar as pessoas ao extremo fazendo pressão psicológica.

Poderia deixar ele brincar a vontade, porém, meus contatos na segurança nacional me informaram que Dario Basile está atento a tudo o que essa delegada está investigando.

Ele pode me trazer sérios problemas, não sou de deixar assuntos mal resolvidos. Sendo assim, irei pessoalmente confrontar Luca Pappalardo Coppola sobre o que pensa que está fazendo. Ou não, já que essa mulher continua em nosso encalço.

Por mim, ela já estaria comendo grama pela raiz, o tempo está correndo, Luca tem que agir rapidamente se não quiser que eu interfira.

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Comments

Denise

Denise

DOMENICO PAPPALARDO COPPOLA é um homem bom. É mafioso, sim, mas é terminantemente contra venda de mulheres e crianças e não admite tráfico de crianças de forma alguma, invlusive para fins sexuais. Também é contra matar inocentes. Acredito que MICHELA estará segura com ele. Cadê GIACOMO?

2024-07-17

1

Katia Sousa

Katia Sousa

ele é mt novo, espero que proteja ela

2024-01-18

1

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