Michela Grasso
Tem duas semanas que estou presa dentro desse quarto. Não vi Paolo Falzone mais, agradeço a Deus por isso.
O homem alto que me sequestrou para cá, disse se chamar Ferrara, traz minhas refeições, não tive uma única oportunidade de fugir. Estou enlouquecendo pensando no que vou ter que passar, as vezes, tenho vontade de avançar nesse capanga, bater nele para que me mate de uma vez. Só assim, terei paz!
Estou distraída olhando pela janela as casas do bairro, não sei que horas são nem como está meu irmão.
Uso um vestido simples, chega abaixo dos meus joelhos. O tal do Ferrara me trouxe muitas coisas, roupas, sapatos, produtos de higiene. Comentou que estava seguindo as ordens do chefe Paolo Falzone.
Esse homem asqueroso, não gosto de lembrar do seu rosto, tive pesadelos horríveis com ele me tocando. Que nojo!
Meus pensamentos atraem ele, que entra no quarto e se aproxima de mim.
_ Sentiu minha falta bebê? _ Me apavoro com sua voz de monstro próxima ao meu ouvido. Dou um passo para trás, ele me pega pela cintura com força, me encara cheio de cobiça. Está mais feio do que antes, se é isso for possível.
Percebo que tem mais dois homens desconhecidos no quarto, me desespero pelo que podem fazer comigo.
_ Quero você para mim _ ele segura meu rosto apertando com força, me machuca _ O que me diz Michela? Quer ser minha mulher?
Cheia de ódio cuspo na sua cara, ouço sons de espanto dos outros que estão ao nosso lado.
Paolo Falzone me dá um murro no rosto, caio no chão, sou chutada várias vezes, meu nariz sangra. Todo meu corpo dói, mas prefiro isso a me entregar a alguém como ele.
_ Você vai se arrepender por isso bebê _ fala, limpo o rosto com as costas da mão _ Levem ela para o cativeiro.
Os dois dinossauros asquerosos agarram os meus braços, me arrastam para fora.
_ Não! Me soltem. Vocês não podem fazer isso _ não escutam nada do que falo. Entro em surto, grito por socorro, eles gargalham na minha cara.
_ Não resolve gritar menina, você é do bairro, conhece as regras e quem manda aqui. Foi enfezar o chefe agora aquenta! _Começo a chorar sem controle.
Sou jogada no chão de um porão úmido, escuro. Meu nariz parou de sangrar, limpo o resto do líquido vermelho no vestido. Permaneço imóvel, apenas sentindo pena de mim mesma.
Tinha uma vida que considerava perfeita com meus pais, eles me amavam, protegiam. Não vou aguentar o que me aguarda, soluço.
Maldita máfia Famiglia Pappalardo, faz o que quer, manda e desmanda sem punição alguma.
Nesse lugar não existe justiça, as autoridades são omissas, escondem o que realmente acontece.
Catania é a segunda cidade mais populosa da Sicília, perde apenas para Palermo. Está sempre cheia de turistas que não fazem a menor ideia do alto índice da criminalidade desse lugar.
Eles gostam de visitar muitas cidades da ilha porque é uma regiao linda. É comum ver nas varandas das casas vasos em formato de cabeça.
Tem uma lenda que diz que durante o domínio mouro na Sicília, havia uma moça que vivia no bairro de Kalsa, em Palermo, ela cuidava todo dia das plantas em sua varanda. Um jovem mouro passou, a viu cuidando das flores, se apaixonou por ela.
Alguns dias depois, se declarou e eles começaram a viver um romance. Depois de alguns meses, ela descobriu que ele era casado, tinha filhos.
Como vingança, ela esperou anoitecer, o decapitou. Sem saber o que fazer com a cabeça, ela transformou em vaso. No vaso ela plantou temperos que cresceram vigorosamente.
A população gostou dessa lenda, começou a fazer vasos de argila e cerâmica em formato de cabeça de mouro.
Acho essa história bem triste, penso em como é fácil para um homem enganar uma mulher. Como a paixão cega as pessoas.
Nunca me apaixonei, pessoalmente só vi os homens da máfia, eles não servem de base.
Não entendo muito de relacionamento amoroso, porém, fui testemunha do amor dos meus pais. Se amavam completamente, dedicavam ao outro confiança e respeito.
Choro pelo final horrível que tiveram.
Agora, meu destino está selado, nasci como peça de um jogo cruel e macabro.
Tenho 15 anos, estou órfã, com meu irmão desaparecido e um marginal da pior espécie me mantém presa. Quer me obrigar a aceitar um casamento absurdo.
Não tenho a quem recorrer, faço a única coisa que posso, rezar.
Passo dois dias presa, estou fraca por que me recuso a comer ou beber qualquer coisa. Decidi que é preferível morrer do que viver na vida a que fui condenada.
Não me assusta ficar no porão, sempre vivi como uma prisioneira muito antes do Paolo Falzone me sequestrar.
Dificil é a noite, quando escuto muitos gritos de outras meninas sendo brutalmente espancadas e violentadas sexualmente.
Esse bairro é de grande violência, Paolo Falzone é quem comanda tudo por aqui, ouvi escondido meus pais falando dele muitas vezes. Sua fama é a pior possivel, não vale nada, faz da vida dos moradores de Librino um inferno.
Meus pais me mantinham presa dentro de casa justamente para não despertar a atenção dele. As garotas novas do bairro são sequestradas desde cedo para servir ao chefe e seus homens, estupradas, mortas, vendidas.
Estudei apenas dentro de casa, meus pais falavam com todos que eu tinha morrido ainda criança, me proporcionaram tudo desde que eu não saísse nas ruas. Nunca me revoltei porque sabia bem dos perigos que enfrentaria ao me rebelar.
Eu e meu irmãozinho vivíamos bem, não sei o que aconteceu com ele, penso se ainda está vivo.
Já fazem dezoito dias que estou nas mãos deles, nas duas primeiras semanas me trataram como uma rainha, a mando de Paolo Falzone que me queria como sua esposa. Não aceitei, ele me trancou nesse cativeiro, um cômodo grande, com apenas um colchão no chão e um minúsculo banheiro.
Ferrara me trouxe algumas roupas, mesmo sem vontade tomo banho todos os dias, troco minhas vestimentas. Lamento que continuo viva. Vi no pequeno espelho do banheiro que estou com hematomas escuros no meu corpo todo e no rosto, prova da selvageria do Paolo Falzone.
A porta se abre, ele entra com três capangas. Os dois que me jogaram aqui e o mais baixo que me buscou na minha casa.
Estou sentada no colchão, não choro, isso nem resolve nada, minhas lágrimas estão secas de tanto que as derramei nesses dois dias.
Paolo Falzone olha para os pratos de comidas, frutas, sucos e água no chão, estão intactos. Não é fácil resistir quando meu estômago dói de fome, mas, fico firme no meu propósito de morrer, mesmo que lentamente.
_ Não quer comer bebê? _ Não respondo, o ódio dele aparece _ Não importa, para onde você vai terá pouco tempo para comer mesmo _ lanço para ele um olhar mortal. Queria ter força para lutar contra ele, pelo que diz, calculo que me vendeu.
Um silêncio tenso cai sobre nós.
_ Não quer saber para onde você vai? _ Me pergunta, permaneço calada _ Te vendi para um sheik governante da máfia árabe, Khan Al-Abadi _ solta uma cruel gargalhada.
Como esse monstro pode vender pessoas como se fosse dono delas? Penso nos meus pais, meus olhos se enchem d'água.
_ Isso mesmo, chora bebê _ diz com rancor. _ Eu queria você para minha mulher, teve a audácia de me rejeitar. Agora consegui 1 milhão de euro por você. Viajei só para encontrá-lo. Ele está pagando bem por que eu disse que é virgem. O velhote faltou babar quando soube.
Não acredito que esse será o meu fim. Morro, mas não vou me entregar a um homem que compra mulheres. Ainda mais um idoso.
_ Você poderia ter tudo comigo Michela. Simplesmente tudo _ se aproxima, me levanto rápido, ele toca meu rosto, me obrigando a olha-lo, sua cara além de feia, é horrivel _ Você é tão linda, porque não me quis? Porque, sua vadiazinha de merda?
Me preparo para cuspir nele, como se adivinhasse, aperta meu pescoço. Sinto falta de ar, penso que vou desmaiar, ele me joga de costas no colchão, boa parte das minhas pernas ficam a mostra.
_ É uma pena que não vou poder transar com você antes de te entregar _ comenta, sinto nojo dele e de mim mesma por me ver obrigada a viver uma vida que nunca quis. _ Mas, não tem problema, o sheik Khan Al-Abadi vai se vingar de você por mim.
Todos gargalham alto, indiferentes a minha dor, ao contrário, se alegram por ela.
Apenas Deus pode me salvar agora!
Fecho meus olhos, foco minha mente em todos os momentos bons que vivi.
Nesse instante, acontece tudo muito rápido.
_ Chefe, temos um problema. _ outro homem desconhecido entra, fala com desespero. _ Precisamos sair daqui depressa.
_ Mas, o que está acontecendo? _ Paolo Falzone pergunta, os capangas tomam posição para protegê-lo.
Me aproveitando da distração deles tento correr e sair desse lugar, ele agarra meu braço.
_ Onde pensa que vai? Você me renderá uma fortuna, não te deixarei fugir _ rosna, me aperta brutalmente, dói pra caramba.
Às lágrimas que tentei segurar descem abundantes pela minha face.
_ Rápido chefe, temos que sair agora _ eles saem, sou arrastada junto.
Ao chegar do lado de fora, no beco, um carro nos espera. Agindo sem pensar, chuto a canela de Paolo Falzone, com um solavanco me solto e saio correndo. Escuto um tiro.
_ Não atira seu idiota, ela vale uma fortuna. Tragam ela viva _ ainda o escuto dizer, não olho para trás, corro sem rumo ouvindo eles no meu rastro. As ruas estão uma confusão, não sei o que está acontecendo, pessoas correm desesperadas.
Parece cena de filme, crianças choram, mulheres gritam, tem alguns corpos pelas vielas.
Tento continuar, dois dias sem comer me deixaram fraca, quando vou virar uma esquina, sou capturada.
_ Você não vai a lugar algum _ um dos capangas fala ameaçadoramente, esta acompanhado de outro, começa a me arrastar de volta.
_ Solta ela ou atiro _ ouvimos alguém dizer as nossas costas, viramos. Tem um policial na frente com arma em punho e muitos outros ao seu lado.
_ Droga _ O homem que me segura xinga, sem alternativa me solta.
Eu corro para atrás dos policiais, eles prendem os dois homens que me perseguiram.
Ainda existe lei nessa cidade, uma raridade, mas que me salvou.
Um carro passa correndo por nós.
_ São eles, vamos lá _ um policial grita, entra numa viatura com mais três deles, seguem na perseguição.
Dois guiam os capangas para dentro de outra viatura.
_ Você está bem? _ O policial em que me escondi atrás dele pergunta.
_ Sim _ Minha voz sai trêmula, choro aliviada.
_ Precisa me acompanhar até a delegacia, vai ser interrogada.
_ Tudo bem _ assinto, reúno forças para segui-lo.
Entro numa viatura com dois policiais, um outro carro leva os bandidos. O automóvel segue pelas ruas desviando de pessoas que correm assustadas, sem rumo. Passamos por muitos outros carros de polícia, tudo semelhante a um cenário de guerra.
_ O que está acontecendo? _ Pergunto a eles.
_ O chefão da Europol, Dario Basile, quer fazer uma limpa nas gangues da cidade. Deu ordem para pegar pesado _ me sinto feliz com essa noticia. Graças a Deus apareceu alguém importante o suficiente para bater de frente com a máfia.
Uso os próximos minutos durante o trajeto, para descansar, estou faminta, exausta.
Na delegacia conto minha triste história para o delegado e os dois policiais que me acompanharam. Eles me dão um farto lanche com, pães, frutas e café, agradeço emocionada. Achei que morreria de fome.
Fico revoltada quando o delegado me avisa de que vai me enviar a um orfanato para menores órfãos.
Tento de tudo para convencê-lo de que não ficarei segura num lugar assim. Paolo Falzone irá me achar facilmente num ambiente como esse. Não adianta, ele insiste que tive muita sorte pelo Dario Basile começar uma caçada contra aquela gangue. Do contrário, não escaparia, seria vendida sem dó nem piedade, estremeço de medo ao me lembrar do tal sheik Khan Al-Abadi.
Parece que esse Dario Basile tem um problema pessoal contra a máfia, declarou briga com todos os integrantes da Sicília e os que estão em outros países.
Não quero ir para o orfanato, lá Paolo Falzone vai me capturar de novo e entregar ao velho sheik.
Nesse momento, mais de dez pessoas invadem a delegacia, querem denunciar crimes que a gangue do meu bairro cometeu. Uma confusão se instala na sala, me aproveito disso para sair escondida.
Percorro as ruas sem saber para onde ir, queria poder encontrar meu irmão, mas, é perigoso, nem sei onde ele está.
Vou para o centro, aqui estou mais protegida porque é área comercial, tem muitos turistas, câmeras. Difícil me pegarem nesse lugar sem que alguém filme tudo pelo celular e coloque na internet. Isso não pegaria bem para a imagem da cidade, uma repercussão de um sequestro vai atrair a atenção para a máfia Famiglia Pappalardo. Podem iniciar muitas investigações, atrair mais inimigos.
Em pouco tempo olhando as lojas percebo que tem homens me seguindo. Aproveito o grande movimento das pessoas para correr, preciso escapar deles.
Ao atravessar a rua de maneira descuidada, sou atropelada, não vejo mais nada.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Denise
Parece o pior pesadelo da história.
Muita dor. Além de saber que seus pais foram assassinados por PAOLO,
MICHAELA escapou dos mafioso, mas continua na jornada dificílima em busca do seu irmãozinho GIACOMO e da salvação de ambos.
2024-07-17
1
Vilza de Souza
Saiu da mão do Satanás caiu na mão do capeta.
2024-01-21
1
Maria Joana Cunha Costa
misericórdia 😳
2023-12-09
1