Michela Grasso
Estou passando os piores dias da minha vida, tem exatamente uma semana que perdi meus pais num acidente de carro.
Não consigo comer direito, nem dormir, ontem foi meu aniversário de 15 anos, nunca mais vou comemorar essa data porque sempre me lembrarei do falecimento deles.
Hoje é domingo, são 9 horas da manhã, estou no meu quarto, deitada na cama desde ontem.
Há sete dias atrás, os dois saíram para ir à missa, como faziam todas as noites do sábado. Porém, dessa última vez não voltaram.
Sofreram um acidente antes de chegar na igreja, morreram na hora. Meu irmão, Giacomo, me contou como tudo aconteceu.
Ele foi o único a ir no enterro, não pude comparecer. É estranho isso, eu sei, mas não saio de casa desde que nasci.
Minha história inteira não é comum. Moro no bairro Librino em Catania, na Sicília. Esse lugar é perigosíssimo e controlado pela maior máfia que já existiu aqui, a Famiglia Pappalardo. São incontáveis membros, comandam a Sicília inteira, tanto nos comércios, quanto na polícia e no governo.
A origem dessa Famiglia Pappalardo é na Italia, tendo suas raízes na região da Sicília, precisamente aqui na cidade de Catania que atualmente faz parte da Itália. Pesquisei sobre eles, descobri que sua historia vem do século XV, o homem mais antigo dela começou a fazer fortuna usando meios ilegais. Escolheu essa cidade para montar sua organização.
Ao longo dos anos, a Famiglia Pappalardo se consolidou como uma mafia influente na região, comandando diversos políticos, empresas e a polícia. Muitos dos membros da sua família imigraram para outros países, ajudando assim, para que a organização crescesse mais.
Eles mantém ligação direta especialmente com os Estados Unidos e o Brasil.
Hoje em dia, a Famiglia Pappalardo está espalhada por diversos lugares do mundo, criando uma trilha de sangue e covardia por onde passam. Ninguém nesse mundo ousa ir contra eles porque sabem do que são capazes.
Eles fazem as próprias leis, mandam e desmandam aqui na Catania, cidade onde tudo começou.
Ela está localizada na costa oriental da Sicília, no sopé do Monte Etna, o maior vulcão da Europa.
É a segunda maior cidade da ilha, com a área metropolitana atingindo um milhão de habitantes, tem um importante centro de transporte, é uma cidade universitária.
Seu centro é movimentado possui uma vida noturna agitada. Só sei disso porque vivo de pesquisas para aprender o máximo de conhecimento que posso dentro das paredes da minha casa. O local mais seguro que conheço.
Meu nome é Michela Grasso, meus pais me criaram presa justamente pelo alto índice de criminalidade da maior mafia que existe nessa cidade, Famiglia Pappalardo. Odeio esse nome!
Essa mafia comanda minha regiao, um lugar inóspito, não aceitam que os moradores saiam para outro lugar. Os que tentaram, estão mortos. A maioria das mulheres do meu bairro são violentadas, vendidas ou obrigadas a virar garotas de programa. Ninguém liga para proteger essas garotas, muitas são levadas de suas familias ainda crianças. Por esse motivo, quando nasci meus pais me esconderam, para todos os efeitos, eu não existo, tenho documentos, mas nunca fui a uma escola.
Minha mãe conseguiu me matricular online, me formei no ensino fundamental dessa maneira, estudando a distância com professores voluntários.
Moro no bairro Librino, que é altamente perigoso e sem lei. Mulher aqui é tratada como lixo se não estiverem casadas.
O maior medo dos meus pais era que as pessoas da máfia colocassem as mãos em mim. Eles estavam fazendo planos para mudarmos daqui, mas não é uma tarefa fácil, porque a máfia controla tudo, iriam investigar o motivo e poderiam descobrir a minha existência. Acabariam com a gente num piscar de olhos.
Que saudades dos meus pais!
Choro por saber que nunca mais os verei novamente, pego minha garrafinha de água no criado ao lado. Bebo quase toda, ultimamente é só o que tenho feito.
Meu irmão me falou que os homens do Paolo Falzone, integrante da Famiglia Pappalardo, fizeram o enterro deles, arcaram com tudo. Já ouvi os meus pais falarem sobre ele.
Tenho pavor desse homem porque ele não tem misericórdia de ninguém, faz atrocidades desumanas com todos a seu bel prazer. Ele é chefe da gangue do nosso bairro.
Coloca terror nos moradores, nossa casa é dele ou da máfia, sei lá. Meus pais pagavam o aluguel, agora sem eles não sei como vão ficar as coisas.
E tem o Giocomo, meu irmão de dez anos, ele está pior do que eu. Desconsolado, com medo.
Sua vida, desde o início, foi oposta à minha. Estuda em escola normal, saía com os meus pais para alguns lugares, como mercados, padarias, lojas.
Tenho medo por ele, com toda certeza Paolo Falzone vai levá-lo para fazer parte do seu grupo, mesmo que ainda seja uma criança.
Meu rosto está inchado de tanto chorar, preciso decidir que caminho vou seguir. Fugir com meu irmão o mais rápido possível, antes que essas pessoas me encontrem.
Mas, não vai ser fácil, nossa casa fica nos fundos de um prostíbulo, difícil sairmos sem que nos vejam.
O terreno é grande, são cinco imóveis ao todo, o nosso é o terceiro. Sei disso porque já olhei em volta as escondidas dos meus pais.
Escuto vozes alteradas dentro de casa, parece que meu irmão está gritando.
Sem pensar em mais nada corro para ver, quando chego na sala, tem dois homens, que não conheço, batendo nele.
_ Parem com isso! _ Grito, puxo Giacomo pelo braço, ficando na sua frente, quero protege-lo. Os dois me encaram rindo, são cheios de tatuagens, cada uma mais feia que a outra.
_ Que bom ver você _ o mais alto fala, agarra meu braço. _ Vem com a gente _ Me arrasta descalça, para fora de casa.
_ Solta minha irmã _ Giacomo brada feroz, o outro homem lhe da um murro, ele cai desmaiado. Quero ir até ele, ver se está bem, eles não deixam, começo a chorar descontrolada.
Eles riem de mim, sinto muito medo, o que eu mais temia está acontecendo.
_ Me soltem _ grito alto para os dois capangas musculosos que agora, agarram um em cada braço meu. Não me escutam, choro desesperada.
_ Me larga! _ Peço, apavorada, o homem mais alto nem mesmo me olha, continua me levando sei lá para onde. _ Me soltem! Socorro! _ Berro, ele vira, me encara com raiva.
_ Cala a boca vadia! _ Rosna, estremeço, sem escolha abaixo a cabeça. _ Assim é melhor.
Vou andando junto com eles, estou irremediavelmente perdida. Como sabiam que existo?
Claro, é a maior máfia, sabem de tudo. Até que demorou para virem atrás de mim.
Me arrastam pelos becos, não faço ideia para onde vão me levar.
Me colocam dentro de um carro estacionado na rua enfrente o puteiro que está fechado, é cedo, ele abre a noite.
Olho pelos arredores, esse bairro é deprimente, bem pior do que as fotos que vi na internet.
Ele trava a porta, os dois sentam na frente, o mais baixo está na direção, liga o carro, acelera e sai rápido cantando os pneus.
São da gangue, isso é óbvio, mas desde quando sabiam sobre mim? Não faço a mínima ideia. É muita coincidência me buscarem depois de poucos dias da morte dos meus pais.
Meu irmão, está sozinho nesse momento, me entristeço por não poder fazer nada para ajudá-lo. Não posso livrar nem a mim mesma.
Rodamos por cerca de 20 minutos, o motorista encosta o carro na calçada de uma casa grande de dois andares. A construção tem a tinta verde desgastada pelo tempo, muitas ervas daninhas e sujeira no chão a sua frente.
O mais alto abre a porta para mim, desço sentindo vontade de chorar. O que vão fazer comigo? Pergunta retórica.
Não sou ingênua, sei que para eles, não passo de um pedaço de carne nova. Olho envolta, percebo que continuamos no meu bairro. Nunca andei nessa região ou em qualquer outra região, por isso mesmo, fiz questão de pesquisar bairros e ruas aqui de Catania para quando fosse necessário sair por aí. Decorei todas as ruas de Librino. Nesse momento me preparo para correr, não tenho escolha, sei o que me aguarda se ficar parada, prefiro a morte.
Saio em disparada pela rua de pouco movimento, os dois vem no meu encalço, sinto meu coração acelerado. Não olho para trás, uso todas as forças que tenho para tentar escapar, não funciona. Eles são mais ágeis, estão acostumados com perseguição, devem fazer isso todos os dias.
O mais baixo me empurra sem dó alguma para o lado, vou com tudo no chão. Minha testa bate forte no piso duro, não vejo mais nada.
Abro os olhos, minha cabeça dói muito, analiso ao redor, estou deitada na cama de um quarto desconhecido, tem duas portas fechadas. Tento me levantar, meus braços e pés estão amarrados.
Procuro um jeito para me soltar, caio da cama.
_ Aí _ gemo de dor, escuto a porta se abrir.
_ Então, você acordou bebê? _ Ouço uma voz desconhecida dizer, fico calada, não consigo ver quem é porque estou de costas para a entrada.
Ele me carrega facilmente, me põe de volta na cama, nos encaramos, estremeço.
Tenho a visão do inferno, o homem não é muito alto, mas, musculoso ao extremo, cheio de tatuagens, tem uma cicatriz horrível no lado direito do rosto. Sinto náuseas de medo, ele é horroroso. Seus olhos são verdes, vazios, fundos, parecem deformados. Pela sua aparência, não consigo identificar se é velho ou jovem.
_ Você é realmente linda bebê _ diz, sorri de lado, meu estômago embrulha pelos seus dentes podres. Não desvio meus olhos, ele me cobiça para aumentar meu estado de pânico.
_ Que...quem é......você? _ Minha voz sai indecisa, arrastada, fraca.
_ Sou Paolo Falzone bebê _ apruma o corpo, estufa o peito, seu tom denota orgulho.
Fecho os olhos, lágrimas descem pelo meu rosto. Eles me pegaram, penso. Assim, como fez com tantas outras, algumas mais novas do que eu. _ Eu trouxe você aqui porque vai ser minha esposa a partir de agora _ escutar isso é mais do que posso suportar, tombo meu corpo para o lado, o vômito vem forte, pura água, pois não comi nada hoje.
_ Escuta aqui bebê _ seu tom é gelado, me pega pelo pescoço, fico de pé, aperta, segura ao ponto de eu achar que vai me matar, não tira seus olhos raivosos dos meus. _ Não me interessa sua opinião sobre esse assunto. Vai ser minha de um jeito ou de outro, não tem escolha. Então, é melhor se comportar bem bebê ou vai dormir com o cadáver do seu querido irmão ao seu lado _ ameaça, procuro ar. _ Está entendendo bebê _ concordo com a cabeça, ele me joga para trás, bato minha nuca no encosto da cama, engulo um gemido de dor.
Passa uns segundos de silêncio, ele não tira os olhos de mim, deixa claro que vai abusar do meu corpo apenas pelo jeito de me fitar. Estou de calça, blusa comprida larga, descalça, diante do comportamento dele, me sinto nua, me encolho como posso.
_ Como você sabia de mim? _ Junto coragem para perguntar, ele solta uma gargalhada medonha.
_ Bebê esse bairro inteiro é meu. Acha mesmo que os seus pais me enganariam por muito mais tempo? Aqueles otários tiveram o que mereceram _ cospe essas palavras na minha cara.
Entendo que matou meus pais, choro silenciosamente. Como pôde fazer uma coisa dessas? Ele é um monstro!
_ Você os matou? _ Preciso ouvir da sua boca nojenta a confirmação.
_ Sim. Ninguém mente para mim e sai vivo. Fiz questão de atirar na cabeça dos dois. Você só não vai ter o mesmo fim porque é bonita demais para acabar numa vala qualquer _ se aproxima, passa seus dedos ásperos no meu rosto, me arrepio de pavor.
Não vou deixar que me toque, afasto minha cabeça, o maldito não gosta.
Ele matou as pessoas que eu mais amava, tirou vidas de inocentes por puro capricho.
_ Não vou me casar com o assassino dos meus pais _ decreto sem me importar com o que vai me acontecer.
_ Isso não depende de você bebê _ fala alto, fecha a cara para mim.
_ Eu prefiro a morte! _ Sentencio audaciosa.
_ Veremos! _ Me corta, se aproxima mais, me preparo para gritar, não vai adiantar, mas é só o que posso fazer. Estou amarrada.
Ele se abaixa, solta meus pés, arregalo meus olhos pensando que vai abusar do meu corpo.
_ Sai de perto de mim! _ Grito chorando, ele me olha sorrindo, pega nos meus braços, desfaz os nós. Fico livre, pulo da cama para correr para fora dali, não chego nem na porta. Ele enlaça minha cintura, me pega no colo, joga na cama novamente.
_ Não abusa da sorte bebê _ ameaça bravo._ Vai permanecer aqui enquanto eu quiser.
_ Não pode fazer isso _ reclamo assustada porque ele está com o rosto muito próximo do meu.
_ Posso fazer tudo o que eu quiser bebê _ sua voz é mansa, parece um leão rodando a presa.
Me deito de costas, viro meu rosto para o lado, estou desorientada. O que vou fazer?
Cometer um suicídio?
Talvez.
Ele sai, escuto girar a chave, me levanto, testo a fechadura, está trancada. Vou a outra porta, é um espaçoso banheiro, volto chego a frente da janela, afasto as cortinas. Posso me jogar daqui, acabar com tudo de uma vez.
Não! Tem grades super reforçadas.
Me sento na cama, começo a rezar.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Denise
Estou com dó da MICHELA. Saiu do seu mindinho perfeito e caiu no inferno. Tô com um nojo deste PAOLO. Eita! Só de pensar, fico com o estômago embrulhado. 🤢🤮 Na linguagem de PAOLO, ela vai se casar com ele, ou seja ele vai estuprá-la, senão, GIACOMO morre. Quando será que isso vai melhorar?
2024-07-17
1
Vilza de Souza
espero que ele não consiga usar ela
2024-01-21
1
Fabi Ribeiro
top
2023-06-18
3