Capítulo 2 – Filhote de Bicho-Preguiça
Bem, a minha falta de interação acaba aí. Tive que aprender na marra a cuidar de uma criança de 7 anos que falava muito e ficava grudada no meu pé. Esse foi o pedido da minha mãe, e eu ia cumprir minha promessa. Lura é a única pessoa que tem toda a minha atenção e consegue tirar de mim algum carinho do que eu ainda lembrava ter recebido da minha mãe Filipa. Mesmo sendo criada por um ogro, como ela me chama, é a pessoa mais doce e carinhosa que eu conheço, com uma linguagem de amor baseada em demonstrações de afeto que eu tento ao máximo evitar. Mesmo tendo 21 anos, ela ainda se gruda em mim como um filhote de bicho-preguiça agarrado à mãe.
Cheguei de uma missão que tive que fazer de última hora. Era para durar três dias, mas algo saiu errado. Eu e mais dois soldados sofremos uma emboscada e ficamos quatro dias até que Victor e Klaus conseguiram me encontrar. Estamos investigando, porque descobrimos que tem algum traidor no nosso meio. Por isso, demorei mais três dias para voltar.
Chego em casa. São três horas da manhã. Está tudo apagado. Subo para o meu quarto, só quero tomar banho e dormir um pouco. Tenho que ir para a empresa amanhã e descobrir quem é o rato que acha que pode alguma coisa.
— Lorenzo, onde estava? Por que ninguém me falava nada? Por que não entrou em contato comigo? O que aconteceu? Eu pensei que ia te perder e ficar sozinha! Não pode sair só me mandando uma mensagem falando que vai viajar e que voltava em três dias... e sumir! — minha irmã grita, chorando, enquanto estou no banho. — Lorenzo, fala alguma coisa!
— Lura, deixa só eu terminar o banho e conversamos, ok? Aff...
Tomo meu banho, me seco, saio do banheiro e vejo a Lura sentada, de braços cruzados e chorando, com cara de raiva. Entro no closet e visto uma calça de moletom e uma camiseta, porque sei que o filhote de bicho-preguiça vai grudar em mim hoje.
— Ei, não precisa fazer essa cara nem chorar, tá? Eu tô aqui agora, não tô? — Sento na ponta da cama, e minha irmã pula em mim, me abraçando.
— Não me deixa sem saber onde está nunca mais — ela diz chorando, agarrada no meu pescoço. Por mais que eu não goste que me toquem, eu abraço ela até parar de chorar.
— Eu ia voltar em três dias, mas aconteceram algumas coisas que me fizeram demorar e ficar sem contato.
— O que aconteceu? Por que ninguém me falava nada? — ela me solta e fala com a sobrancelha levantada, os braços cruzados, toda brava.
— Foi um problema com um sócio... — tento dizer, mas ela me interrompe.
— Eu não sou mais criança, Lorenzo! Me fala a verdade. Se fosse só isso, você me respondia! — fala com as mãos, numa mania que me deixa agoniado, andando de um lado para o outro.
— Primeiro: para de falar com as mãos. Por que você tem que falar usando o corpo todo...? — Tento continuar, mas ela me corta de novo.
— Ogro!
— Segundo: não me interrompe. Terceiro: já falei que não quero você envolvida em nada disso. E sim, não foi problema com um sócio. Mas eu estou bem. Agora, estou cansado, quero dormir. Sai e apaga a luz. — Levanto e vou puxar a coberta para deitar.
— Posso dormir com você? Eu estava preocupada... e com saudade. — Faz um biquinho. É assim desde criança.
— Vem, filhote de bicho-preguiça, antes que eu desista.
— Ogro.
— Pirralha.
— Shrek!
— Vou te expulsar.
— Já tô dormindo. — Ela vira de costas pra mim, e eu fecho os olhos, ainda de barriga pra cima.
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Atualizado até capítulo 62
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