Capítulo 3 - Reunião

...Gabriel...

O primeiro som que escuto quando coloco meus pés no centro da clareira é o barulho de uma discussão. As vozes alteradas — acompanhado de rosnados ferozes — ecoam por meus ouvidos, o que me faz me sentir tonto, muito mais do que eu gostaria de admitir.

Suspiro, sacudindo a cabeça. Todas às vezes em que eles se reúnem é assim. Parte da matilha deseja a todo custo provar que sou o melhor que eles poderiam ter, enquanto a outra — a menor e mais encrenqueira — só conseguem apontar erros em minhas decisões.

E às vezes me pergunto se eles não têm um pouco de razão.

As vozes cessam assim que surgo da mata fechada, restando apenas um sussurro ou outro, que nunca é baixo o suficiente para meus ouvidos apurados e sensíveis não conseguirem captar.

Mantenho minha expressão dura enquanto me dirijo até Anabel, a ômega responsável por tratar os feridos da nossa última disputa por poder. A três luas atrás, um dos alfas insatisfeitos por minha decisão de não deixá-los ir atrás de pistas sobre os desaparecimentos dos nossos companheiros nas redondezas, acompanhado de dois betas, tentaram inutilmente roubar meu posto como alfa supremo e líder.

Eles não tiveram chances. E, talvez, seja exatamente por isso que este burburinho tenha se formado.

— É incrível como vocês sempre conseguem fazer esse tipo de reunião pelas minhas costas — falo, com uma expressão sombria e irônica brilhando em meu rosto.

— Como descobriu? — um dos alfas presentes me questiona, parecendo surpreso por minha visita inesperada. Arqueou uma sobrancelha, e volto meus olhos para Anabel.

O que será que ela fez dessa vez para conseguir estar aqui sem ser considerada uma suspeita?, me questiono mentalmente, franzindo o cenho. 

— Imagino que não devo respostas a você, ou estou errado? — rosno, entredente. O alfa automaticamente se encolhe, o que me causa uma certa satisfação que não consigo colocar em palavras. — Eu sou seu líder. Nada que façam estará livre dos meus ouvidos e olhos.

— Você é só um convencido e egocêntrico — outro alfa fala, e dessa vez me lembro o nome: Martim. O fito com ainda mais intensidade do que fiz com o primeiro, e até chego a vê-lo vacilar, mesmo que por pouco tempo.

— E que alfa que não é? — retruco, com frieza, e saboreio quando vejo as veias de seu pescoço saltarem e sua pele ganhar um tom avermelhado.

— Ei, ei, ei! Fica frio, cara. Você não quer acabar como o Arthur, quer? — o primeiro alfa fala, sendo apoiado por um beta que estava ao seu lado. Contenho um sorriso maldoso, desejando profundamente poder quebrar a cara de cada um deles.

— Mas ele…

— Só sumam logo, e fiquem avisados: se eu encontrar com vocês aqui de novo, se reunindo debaixo de meu nariz, podem apostar que não acabará com apenas uma pequena repreensão. Juro que farei vocês desejarem nunca ter nascido — rosno, e eles recuam um passo. Nem pensam em retrucar, apenas se transformam e correm de volta para a vila, para bem longe de mim.

— Desse jeito você só irá criar mais inimigos, Gabriel — Anabel fala, o que me faz virar para olhá-la nos olhos.

Nós dois forçamos um sorriso.

— E que líder que não tem? — retruco, sentindo um embrulho se formar no meu estômago. Tento conter uma careta de desagrado ao ouvir como minha voz sai desleixada, e aproveito o momento para mudar de assunto antes que Anabel perceba: — Aliás, o que você fez para conseguir se infiltrar no meio deles sem ser considerada suspeita?

— Oh, querido, não há nada que uma mulher e ômega capaz de manipular não consiga fazer — ela diz, me fazendo pensar em mil e uma coisas, muitas bem desagradáveis, que fez para conseguir esse feito.

— Você não precisa me dar detalhes — adianto, fazendo uma careta.

— E quem disse que eu pretendia contar? Eu só…

— Tá, tá. Já chega disso — a interrompo, voltando meus olhos para a direção em que os outros haviam saído. — O que eles disseram?

— O de sempre. — Dá de ombros, me deixando perplexo.

— Anabel…

— Eu sei, não é isso que você quer ouvir — murmura, e solta um longo suspiro que só me deixa mais tenso. — Há um traidor, El. Só ainda não descobri quem é.

— Um traidor?

— Sim. É ele que está atiçando os outros. E algo me diz que tem dedo dele nos desaparecimentos recentes também.

— Merda — xingo, e não consigo evitar passar a mão pela minha cabeça. — Eu preciso investigar isso.

— Você vai — afirma, o que me faz erguer uma sobrancelha. — Amanhã mesmo irá até Sitka. Eu já avisei aos anciãos.

— E é nesse momento que eu sinto que é você a verdadeira líder — resmungo, em parte irritado por ela já ter tomado a decisão por mim. A outra parte, que não gosta de falar com os anciãos e detesta ter que me justificar, agradece com fervor.

— Fazer o que, né? Você não vive sem mim — Anabel graceja, me fazendo revirar os olhos. — Mas, admito, tá aí algo que não é uma má ideia.

— Convencida.

— Você não imagina o quanto.

Nós dois sorrimos, e dessa vez posso afirmar que não é nada forçado.

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Loves

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Mais autoraaaaaa

2023-04-13

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