Capítulo 2 - O passado

...Lana...

Meu nome é Lana Lynch. Nasci em Massachusetts, Ohio, mas morei no Oregon pela maior parte da minha infância, adolescência e vida adulta. Foi lá que conheci Luke, na faculdade. Ele fazia teatro, sonhava em apresentar musicais e, quem sabe um dia, atuar em Hollywood.

Ele tinha um jeito engraçado de ver a vida, de me provocar e me fazer acreditar que tudo era possível, que tudo era uma questão de tempo. Mas, infelizmente, esse "tudo" saiu dos trilhos quando ele decidiu ser hora de dar um passo adiante no nosso relacionamento. Que, ao invés de fazer um pedido comum, iria realizar um dos meus sonhos no processo.

Se ele tivesse feito diferente, me pergunto se ele ainda estaria vivo, ao meu lado, comemorando o sucesso de alguma peça aleatória que participou enquanto pensava em doar parte do dinheiro ganho com isso para um abrigo florestal.

Luke era assim. Ele amava a natureza, se aventurar nos palcos ou em trilhas perigosas. Esse último era um detalhe que tínhamos em comum, e foi lá que ele planejou com tanto esmero me pedir em casamento.

Como eu sei disso, você deve estar se perguntando? Samantha, é claro, não conseguiu segurar a língua e me contou todos os detalhes uma semana antes do pedido. Ela disse ser para me preparar, ao passo que também queria expressar sua preocupação em relação à decisão que Luke tomara.

Quem diria que no fim seus receios estavam corretos. Que meu amado Luke não voltaria para casa vivo — e inteiro — e que eu cairia em um abismo fundo demais para sequer poder tocar no nome dele sem me derramar em lágrimas por quase dois anos inteiros.

Naquela sexta-feira tranquila, um dia antes da minha viagem até Sitka, tudo parecia calmo demais, parado demais. Samantha me mostrava as fotos do par de aliança que Luke me daria — e que eu nunca teria a chance de ver pessoalmente, uma vez que elas nunca foram encontradas com ele após sua morte.

Ela era linda, embora simples. Era folheada a ouro e tinha nossas iniciais gravadas em seu interior. A minha, em especial, possuía umas pedrinhas pequeninas nas laterais. Mesmo que eu soubesse que aquilo não era diamante ou algo parecido, para mim era a coisa mais preciosa do mundo. Era algo que Luke ia me dar, e não precisava ser dito mais nada para justificar minhas palavras. Bastava ser algo dele, dado por ele, e era o suficiente.

Sorrio de forma triste, e encaro o teto acima da minha cabeça. Na tela do meu celular, vejo com o canto do olho que já são onze da noite e nada do meu sono vir. Desde que tudo aconteceu, não consigo mais dormir como antigamente. Preciso e tomo remédios para isso, algo que me deixa na maioria das vezes muito sonolenta.

Dessa vez, no entanto, me recuso a recorrer a essas drogas disfarçadas. Amanhã precisarei estar alerta, e beber esses remédios só me deixariam o oposto disso. E eu não quero, acima de tudo.

Solto um pequeno chiado pela boca, e me levanto para caminhar até a janela. Através do vidro, vejo uma paisagem linda lá fora, contrastando com o embrulho no estômago e o aberto crescente que sinto em meu peito.

Eu não quero me sentir assim, mas é inevitável. Estou a poucas horas de visitar o lugar onde meu noivo foi encontrado morto, em busca de respostas que eu nem sei se conseguirei achar.

Luke morreu de um jeito brutal. Na época, todos falaram que foi um ataque de urso, comum nesta região. Mas o jeito, até o cenário em volta relatado pela pessoa que o encontrou, não parecia sustentar essa teoria. Tirando a cena do crime, tudo estava limpo demais, intocado demais.

Não poderia um carnívoro de mais de duzentos quilos não ter deixado pelos pelo caminho, marcas e galhos quebrados nas árvores ou qualquer outra coisa que um animal desse porte poderia deixar. Os investigadores não encontraram nada disso, o que levou a teoria de que poderia ter sido um ou mais lobos. Mas, novamente, que animal que não deixa rastros?

Era impossível, isso não parecia se encaixar de jeito nenhum em minha cabeça, mesmo dois anos depois. E por isso estou aqui. Quero tentar compreender o que houve, descobrir se há algo que deixaram passar nisso tudo e, acima de tudo, entender que preciso seguir em frente.

Não é uma tarefa fácil ao ter seu coração apegado a memórias, a pequenos momentos e atitudes que fizeram toda a diferença. Eu ainda o amo. É inegável. Depois de sua morte, não fui capaz de me relacionar de forma emocional com ninguém, embora houvesse, sim, um ou outro com que transei.

Foram casos de uma noite tão fúteis que é perda de tempo relembrar.

Fecho os olhos, me permitindo sentir o vazio em meu peito. Busco no fundo das memórias os momentos com Luke e os sem ele, tentando entender se em algum momento aqueles dias de sexo casual que tive ajudou de alguma forma. A resposta que preenche a minha mente e me deixa um pouco grogue logo soa mais amarga do que pensei, acompanhada de um grande "não".

Não, aquilo só serviu para que eu tivesse certeza que era impossível amar novamente. Que era impossível acreditar que, no fim, poderei encontrar algo semelhante àquilo que tinha com Luke. A conexão, a felicidade.

Isso é algo do passado. Um passado que quero de volta — mesmo sendo impossível — e que me manterei apegada para sempre.

E está tudo bem assim.

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Comments

Stephany Ricarte

Stephany Ricarte

autora do céu que cap foi esse?

2023-04-15

2

Emilly Borges Menezes

Emilly Borges Menezes

Amei os capítulos e o mistério.
doida pra saber o que aconteceu

2023-04-13

3

Loves

Loves

Agora eu já quero saber o que aconteceu com o noivo dela

2023-04-12

3

Ver todos

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