4

O dia amanhece comigo de olhos abertos tentando de toda maneira encontrar uma saída. O que é difícil, não sei qual o motivo do que aconteceu. Não conheço essas pessoas nem porque me obrigaram a passar por todo aquele tormento. Tento fervorosamente encontrar uma explicação, não consigo.

Distraída olhando para o teto, não vejo a porta abrir de supetão.

_ Olha só quem acordou _ abaixo a cabeça, olho na direção da voz feminina desconhecida, solto minha respiração com alívio quando reconheço que é uma enfermeira.Otimo, posso pedir sua ajuda.

_ Vou chamar o médico _ dá meia volta, fecha a porta antes que eu consiga pronunciar qualquer coisa. Preciso contar para alguém o que houve comigo para poder me encontrar com Elisa, voltar para casa. Decido me abrir com o medico, explicar que queriam me matar.

Mas, o que vou dizer? Vou parecer uma doida se contar a história do que passei na floresta. Vai acreditar em mim?

Certamente que não. Robôs armados, bichinhos coloridos, gosmentos, parece coisa de filme. Quem vai levar isso a sério?

A porta se abre novamente, entra um homem alto, magro, vestido de branco, é o médico, claro. Atrás dele vem a enfermeira, empurrando o carrinho com aparatos hospitalares, me sorri, seguindo ela o homem mais lindo que já vi, mas que preferia nunca ter conhecido.

Esbugalho meus olhos quando se aproxima de mim, me olha sério, me arrepio de medo. Meu coração dispara ter o foco de suas íris negras encima de mim.

Ele vai me matar! Ele vai me matar! Esse pensamento fica martelando na minha cabeça.

_ Bom dia _ o médico me cumprimenta alegre. _ Você está bem Isabela?

O que respondo numa situação dessa? O responsável por tudo que me aconteceu está me encarando com cara de poucos amigos, diria que parece me ameaçar. Me Sinto coagida, não consigo desviar minha atenção dele, é um belo homem, alto, forte, Moreno, cabelos da cor dos olhos, pretos. Tem um aparado cavanhaque que enloqueceria uma freira, com cerreza. Me deixo levar por esses devaneios.

_ Como está se sentindo Isabela? _ O médico insiste.

_ Não sei _ Minha voz sai fraca devido a garganta está seca, com esforço tiro meus olhos do homem perfeito e mau.

_ Como não sabe? _ Indaga o maldito, seu tom é firme, frio, duro. Parece me culpar por algum motivo que desconheço. Isso me faz voltar a realidade do perigo que corro.

_ Só me diga o que sente _ interfere de maneira delicada o doutor. _ Você se lembra do que te aconteceu? _ Como poderia esquecer? Nem nascendo de novo as imagens de tudo o que sofri, naquele projeto de floresta, vão sair da minha mente. Como contar isso ao médico na frente desse homem?

Ele chega mais perto, fica ao meu lado, meu corpo grita que quer me matar. O silêncio se prolonga, encaro várias vezes, cada um deles tentando encontrar uma resposta que salve minha vida.

_ Se recorda do que te aconteceu Isabela? _ O médico repete a pergunta, fico muda, começo a tremer.

Nesse instante, tenho uma ideia inusitada, absurda, mas que pode se transformar na solução de todos os meus problemas.

Vou fingir que perdi a memória, ganhar tempo, assim, consigo ajuda para fugir do homem que me encara sombrio. Tomo essa decisão, me apego a ela para sair desse pesadelo, voltar para minha vida.

_ Não sei _ falo mais alto, mostro um desespero que não é de todo mentira, me apavora se esse plano der errado.

Os três aproximam mais da cama onde estou.

_ Do que você se lembra? _ O doutor muda a pergunta, agora, é minha chance.

_ Nada _ digo rouca, o moreno me analisa desconfiado. Pelo jeito vou ter que me empenhar mais para fazer ele acreditar nessa farsa _ Não me lembro de nada! _ Afirmo, demonstro nervosismo, eles não me conhecem o suficiente para sabe se falo a verdade ou não.

_ Fica calma, vamos conversar direito _ o médico usa seu tom profissional.

Munida de toda coragem que consigo, me sento rápido na cama, começo a chorar desesperada.

O choro é verdadeiro porque a maneira com que movo causa dores agudas pelo meu corpo todo. Minha cabeça lateja com vontade, quero gemer de tanta dor.

_ Porque não consigo me lembrar? O que está acontecendo comigo? _ O barulho da máquina dispara, denuncia meus batimentos acelerados, comprova que estou verdadeiramente em pânico. Agradeço silenciosamente.

_ Calma Isabela, vamos fazer alguns exames, você vai ver que isso é passageiro _ o médico tenta me consolar, choro ainda mais, balanço meu corpo de um lado para o outro, resistindo ao incômodo enorme que isso me causa. Ajo como uma pessoa descontrolada.

A enfermeira segura meu braço direito, tenta me manter quieta, doi pra caramba. O moreno nervoso começa a andar, feito um bicho preso numa gaiola, por todo quarto. Parece que dificultei os planos dele, ponto para mim.

_ O que aconteceu comigo? Porque estou assim? _ Grito mostrando meu braço esquerdo engessado. Não sabia que era tão boa atriz.

_ Bom, você sofreu um pequeno acidente, nada muito grave _ explica o médico. _ Vou te fazer mais algumas perguntas. Ok? Pára de chorar, tudo vai ficar bem, precisa manter a calma _ sinto pena por enganar ele, mas, é uma questão de sobrevivência.

Respiro fundo, mostro para eles que estou tremendo, lágrimas descem abundantes pelo meu rosto, começo a fungar feito criança. A enfermeira me entrega um lenco, aproveito para limpar minha face e nariz.

_ Você sabe onde está? _ A primeira pergunta é fácil, o moreno pára de andar aos pés da minha cama, não o encaro. E difícil manter o foco diante a sua beleza.

_ Num hospital? _ Respondo, mostro dúvida.

_ Exatamente _ ele aprova. A enfermeira diminui o aperto, fico aliviada porque meu braço está ardendo de dor. _ Você está aqui porque caiu, se machucou bastante. Voce sabe em qual cidade está?

_ Não _ afirmo.

_ Sabe quando faz aniversário?

_ Não _ sou categórica, a enfermeira e o moreno trocam um olhar preocupado.

_ Você sabe em que cidade nasceu?

_ Não _ começo a fingir que estou entrando em pânico novamente.

_ Sabe qual é o seu nome?

_ Isabela? _ devolvo, busco confirmação. _ Você me chamou assim _ justifico.

_ Sim. E o seu sobrenome, qual é?

Fico em silêncio por algum tempo, quero que achem que estou tentando me lembrar. Enceno bem. Se não estivesse temerosa do plano dar errado, começaria a rir, histérica, da cara de cada um deles.

_ Não sei _ respondo baixinho, mostro uma fingida frustração.

Após todas as perguntas que ele fez, desabo a chorar de novo. Faço isso pela minha família, por Elisa, por mim que não sei se estou fazendo a coisa certa ou piorando ainda mais a situação.

_ O que está acontecendo comigo doutor? Porque não me lembro de nada? Sinto dores pelo meu corpo todo sem saber o que me aconteceu _ meus soluços são verdadeiros por recordar tudo que passei quando entrei na emissora PLM.

_ Calma Isabela, Você vai ficar bem _ Diz a enfermeira pegando firme na minha mão, olho para ela, identifico em meio às minhas lágrimas, sua compaixão. Com certeza estou ajeitando meu lugar no inferno. Deus me perdoe por mentir para essas pessoas inocentes.

Estremeço quando olho para frente, encontro dois olhos negros extremamente irritados. Tenho certeza de que estraguei os seus planos. A ideia de inventar essa amnésia foi sensacional.

Meus pensamentos estão confusos, assim, como minhas ações, uma hora me arrependo da mentira que criei, depois me parabenizo por ela.

_ O que vou fazer? _ Pergunto, minha voz sai aguda simulando uma crise de ansiedade.

_ Calma, nós vamos cuidar de você _ afirma o doutor. _ Você precisa descansar agora. Ainda sente dor?

_ Sim, sinto muita dor na minha cabeça _ conto a verdade. _ Preciso tomar um pouco de água, minha garganta está seca.

_ Claro _ ele responde, a enfermeira enche um copo de água, me entrega, bebo com vontade, ela é saborizada de maracujá, uma delícia _ Vou aplicar outro analgésico para que fique melhor. Ok.

_ Sim, doutor _ rapidamente a enfermeira injeta a substância na minha veia. Me sorri vez ou outra tentando passar que vou ficar bem, me reconfortando.

_ Vamos sair para que descanse mais um pouco _ ela fala indo para a porta seguida pelo médico, o moreno permanece no mesmo lugar, me analisa com insistência. Não o quero aqui!

_ Doutor, espere! Quando terei alta? _ Ao indagar isso, sinto os olhos do moreno encima de mim.

O médico se vira para sanar minha dúvida.

_ Vou pedir mais alguns exames para você fazer, se tudo estiver correto, em três ou quatro dias poderá ir para casa _ olho para ele, balanço a cabeça concordando que entendi, me preparo para a mais importante pergunta.

_ Quem vem me buscar? Minha familia? _ Rezo que meu plano tenha dado certo. Quem sabe meus parentes não aparecem aqui? Ou a Elisa? Assim acaba com meu tormento.

O médico me olha sem jeito, vira para o moreno que não tira sua atenção de mim. Me encara com persistência. O que há de errado? Está desconfiando que não estou falando a verdade? Pensar isso me deixa apavorada.

O que vai fazer comigo se descobrir que estou mentindo? Lembro das palavras que ele disse para Ângela. Afirmou que vai acabar comigo e com a Elisa.

Passa-se um silêncio constrangedor que é quebrado por ele.

_ Isabela, eu sou sua família, vou te levar para casa comigo _ fala, vem para o lado da cama, fica bem próximo de mim sem quebrar o contato visual.

Meu cérebro não entendo imediatamente o que ele diz, tenho certeza de que não escutei o que acho que ouvi.

_ Como é? _ deixo uma expressão confusa, tensa, transparecer genuinamente.

_ Isabela, esse é Caio Venturini, o seu marido _ o doutor me explica calmamente.

_ Meu o quê? Meu .....Mari....do? _ Grito essas palavras. O que está acontecendo aqui? Eu não sou casada coisa nenhuma. Ainda mais com esse homem. Só pode ser brincadeira. Que plano mirabolante é esse que os dois bandidos amaram para mim?

Não vou voltar para o pesadelo que passei. Não mesmo! Preciso fugir daqui com urgência!

Meu coração dispara, o monitor avisa, o médico e a enfermeira vem até mim, estão resignados,me seguram.

Meu desespero é tanto que não escuto sequer uma palavra dita por eles, só quero sair logo daqui. Preciso conseguir escapar.

_ Calma Isabela, entendo seu desespero por não se lembrar de nada, mas esse homem é o seu marido, só quer que esteja bem. Fica tranquila que com o passar dos dias sua memória vai voltar, sua vida entrará na normalidade _ o médico continua alheio ao meu real pavor.

Ah, se ele ao menos soubesse.

_ Me solta _ berro. _Quero sair daqui _ sei que vou começar a chorar a qualquer momento, me debato, as dores pelo meu corpo aumentam.

_ Menina, vai ficar tudo bem, tenta se acalmar _a enfeimeira pede, ela e o médico estão tendo dificuldades para me manter na cama. Me esqueço das dores que sinto, desço minhas pernas. Devido ao remédio me sinto um pouco zonza, a frustração de saber que posso adormecer me deixa histérica. Se isso acontecer, vou ficar a mercê desse moreno.

Num rompante louco arranco todos os fios que estavam presos a mim, empurro todos que está próximos com chutes fortes, acerto o doutor entre suas pernas, ele cai no chão. Não ligo, me agito sem parar, acabo batendo com o braço engessado em algo resistente, sinto grande dor por isso.

_ Ah _ grito, o choro vem com tudo!

Mal identifico que acertei o moreno quando sou, totalmente colocada de costas na cama por suas duas mãos fortes que me prendem pela cintura.

_ Pára com isso agora! _ Ordena gritando a centímetros do meu rosto. Para conseguir me deitar, ele se inclina totalmente encima de mim, sinto sua respiração rápida, seu hálito quente.

Me calo. Uma leve tontura perpassa meu corpo. O silêncio toma conta do quarto, fecho meus olhos por um segundo, quando abro ,ele está mais perto.

Seus olhos não desviam dos meus, ficamos parecendo hipnotizados, envolvidos numa atmosfera diferente. Seu olhar é intenso, cheio de mistérios, identifico o brilho do desejo.

Meu coração falha uma batida, meu corpo esquenta reagindo a sua aproximação. Isso não é hora Isabela. Foca no que realmente importa, me repreendo. Recuso a aceitar que me sinto atraída por esse homem, apesar que ele é lindo demais.

_ Eu vou cuidar de você _ sussurra, me beija. Sou pega de surpresa, quando me dou conta estou correspondendo ansiosa.

Os lábios dele são firmes, mas, demonstram carinho, buscam pelos meus de uma forma afoita, instigando uma resposta a altura. Suas mãos em minha cintura diminui a pressão, não me incomodam mais. Ficamos ofegantes, perco por um tempo a noção da realidade.

Envolvida nesse momento, nas sensações inesperadas, solto um gemido de dor, surpresa, sinto a picada de uma agulha no meu braço direito.

Me afasto imediatamente do moreno, noto que a enfermeira acaba de aplicar algo em mim. Estão me dopando.

Um sentimento de impotência invade meu ser, me afundo nos lençóis, escondo o rosto para não ver ninguém. Estou física e emocionalmente exausta, deixo mais lágrimas escorrerem como sinal da minha derrota.

Nunca mais vou acordar desse pesadelo.

_ Isabela? _ O moreno me chama, sua voz é calma.

_ Me deixa em paz _ respondo no mesmo tom.

_ Vai ficar tudo bem _ diz essa frase, a última coisa que escuto antes de adormecer.

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Comments

Edna César

Edna César

o que será que ele quer com elas?

2025-01-05

1

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