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O barulho repetitivo, insistente, me desperta de um pesadelo horrível. Tento me mover, sinto muitas dores pelo meu corpo, recupero a consciência, me lembro do que passei, foi real, não um sonho.

Minha cabeça lateja, a dor é insuportável, gemo, o que me consola é que ainda estou respirando, toda quebrada, mas, viva.

Sem forças para abrir meus olhos, tento identificar que som é esse. Parece um bip de monitor. Mexo um pouco o corpo, meu braço esquerdo está dormente, sei que o quebrei quando cai daquela marquise do prédio.

Respiro fundo, seguro as lágrimas, não entendo tudo o que aconteceu comigo. Não tenho inimigos que fariam algo assim.

De repente, um pensamento invade minha mente. E se a pessoa responsável por isso quizesse atingir minha amiga Eliza? Não é absurdo imaginar algo desse tipo, ela é famosa, bonita, rica, com certeza tem inimigos. Muitas mulheres devem ter inveja dela, ou pode ser um homem que ela dispensou, agora ele quer se vingar.

Obro os olhos, minha cabeça dá uma pontada, Senhor parece que fui atrapelada.

Me preocupo porque não sei onde Eliza está. Será que conseguiram pegar ela também? Não, não posso pensar isso.

Ela não aguentaria nem a metade do que passei naquela horrível floresta, tenho certeza. É toda delicada, frágil. Meu Deus, que esteja segura, que não tenha acontecido nada de ruim a ela. Começo a rezar. Lágrimas intenças turvam, embaçam minhas vistas, não vai adiantar chorar.

Levanto a mão para limpa-las, encontro um gesso em todo o cumprimento do meu braço. Faço isso com o outro, as dores aumentam pelo esforço. Seco meu rosto assim mesmo, observo ao redor.

Estou sozinha no ambiente, deitada numa cama de hospital, o quarto é todo branco, está iluminado com os primeiros raios de sol. Eles entram pelas frestas da cortina que cobre toda a parede de vidro a minha esquerda.

Ao meu lado está um aparelho, indetifico como medidor cardiaco, é de onde vem o som que me despertou. Não sei o que significam os riscos, devem atestar que meus batimentos estão bons, o som é continuo, rítmico.

Viro meu rosto para o lado oposto, tem uma porta, uma mesa de cabeceira clara com um pequeno vaso de rosas brancas. Elas exalam um aroma bem fresco, característico, gosto disso. Por alguns segundos me esqueço qual circunstância me trouxe até aqui.

Ao pé da cama, numa distância considerável tem outra porta, um pouco maior que a primeira. O branco impera nesse lugar, está no piso, na roupa de cama, na camisola que uso.

Suspiro, tento me ajeitar no colchão, minha perna direita queima, afasto com delicadeza o lencol encontro um rasgo suturado de dez centimetroa abaixo do meu joelho. Machuquei ao passar por aquele estreito buraco para fugir.

Porque tive que passar por isso? Minha mente fervilha querendo respostas.

O que vou fazer?

Sinceramente não sei!

Estou numa cidade enorme, não conheço nada aqui, nem ninguém, só tenho minha amiga que não sei por onde anda.

Estou sem dinheiro, documentos, cartões, celular, tudo ficou com aquela mulher desprezível.

Ângela Torres, nunca mais esqueço esse nome. Ela deve conhecer minha amiga, claro que sim, o Brasil inteiro sabe quem é a apresentadora de TV Elisa Mota.

Será que essa tal Ângela a odeia, resolveu desaparecer comigo para deixar Elisa desesperada? Parece muito fantasioso pensar assim, mas, não há outra explicação. O que devo pensar? Não entendo porque fizeram isso comigo.

A única lógica é que tudo pelo que passei tem ligação com Elisa. Ela é famosa, eu, apenas uma moçado interior que nunca tinha saído do estado da Bahia e que deveria ter continuado lá. Desse modo não estaria passando por tudo isso.

Minha cabeça não para de pensar, me arrependo de ter vindo para Sao Paulo, de ter feito essa viagem doida.

Queria conhecer uma grande emissora, nem isso consegui. Vim de longe para cair nas mãos de pessoas inescrupulosas, ordinárias, invejosas, cheias de caprichos. Não se importaram de prejudicar uma pessoa inocente, no caso eu, para conseguirem o que desejavam.

Olho para o teto, peço ajuda divina para voltar para casa.

Escuto som de vozes atrás da porta maior, com medo fecho meus olhos, tento controlar minha respiração, não é fácil, meu coração dispara, é acompanhado pelo som do monitor.

Fica calma. Fica calma. Fica calma. Repito na minha mente como um mantra.

Ouco o barulho dela se abrindo, não me atrevo a abrir meus olhos. Tenho receio do que possa ver, sinto bastante medo.

_ Ela parece mais corada hoje doutor _ escuto uma voz masculina dizer, tenho uma leve impressão de que a ouvi antes, não posso afirmar com certeza.

_ Sim, é verdade. Ela pode acordar a qualquer momento _ diz outro homem que entendo ser o médico. Graças a Deus, se conseguir pedir ajuda para ele, posso ir embora, fugir dessas pessoas psicopatas.

_ Estou torcendo para que desperte rápido, mostre que está bem. Me sinto culpado, ela só caiu porque gritei seu nome.

Me assusto com o que escuto. Sim, me recordo, essa é a voz do homem que estava atrás de mim, me chamou quando eu subia a passarela de pedestres. O cara bonito.

Para de pensar besteira Isabela! Ele está envolvido no pesadelo que passei, tenho certeza. Sabe meu nome, aquela tal de Ângela deve ter mandado que me encontrasse.

Será que vai me matar?

Claro que não sua burra! Se quisessem isso, bastaria ter me deixado lá no chão.

_ Não se sinta culpado, acidentes acontecem _ o médico fala de modo consolador.

_ Sou responsável por todos os machucados dela doutor _ afirma com convicção, esse desconhecido me trouxe para cá, parece preocupado comigo. Ao mesmo tempo admite que é sua culpa o estado que me encontro. Não entendo. Foi ele ou Ângela que me fez viver aquela experiência dolorosa? Talvez os dois? A dor na minha cabeça chega ao ápice, acho que vou enlouquecer.

_ O importante é que a salvou, ela ficará bem, vai acordar em algumas horas _ explica o médico.

_ Não sei o que faria se algo pior acontecesse _ como assim, pior? Será que não sabe o que aguentei naquela floresta maluca. Enfrentei robôs horripilantes, bichinhos pavorosos, me arrepio só de lembrar da mata tenebrosa.

_ Não pense mais nisso, vou administrar os remédios para a dor. São muitos ferimentos, vão incomodar quando ela despertar _ as palavras do médico me trazem grande alívio, as dores realmente são fortes demais.

Ouço batidas na porta. Sinto uma agulha entrar na pele fina do meu braço direito.

A porta se abre, noto a presença de outra pessoa. O doutor termina a aplicação, se afasta.

_ Então, como ela está? _ É Ângela Torres, meu corpo treme, um medo imenso toma conta de mim. Vão me fazer passar por tudo aquilo de novo?

_ Está bem _ fala o homem bonito, devem ser próximos.

_ Sim, a mediquei agora, vai acordar melhor com certeza _ endossa o médico.

_ Isso é ótimo _ a fingida fala. _ Estou muito preocupada _ nossa, como acredito em suas palavras, ironizo mentalmente. Tenho vontade de dizer na cara dela que está mentindo usando o tom mais sarcástico possível.

Ela me colocou num inferno, agora mente que se importa. Pode isso? Ceus, ela é louca.

O efeito da medicação intravenosa e rápido, uma leve sonolência invade meu corpo.

_ Bem, fiquem a vontade aqui com ela. Vou sair porque tenho outros pacientes me esperando. Não acho que ela vá acordar, tem um pouco de sedativo no remédio que lhe apliquei, mas se acontecer, chamem a enfermeira que venho imediatamente _ me esforço para ouvir tudo que ele diz, sinto as dores aliviaram, sei que vou dormir a qualquer instante.

Passa alguns segundos, os dois em silêncio, depois ouço a voz da jararaca.

_ O que vamos fazer? A Elisa Mota não para de ligar no celular de Isabela _ Minha querida amiga está me procurando, deve ter surtado com meu desaparecimento. Não posso fazer nada, essa bruxa está com meu telefone e todas as minhas coisas. _ As coisas estão se complicando, não pensamos nos detalhes. Mantenho o celular dela desligado, isso levanta mais suspeitas.

Ela ficou pegou minha bolsa, mesmo que consiga fugir daqui, para onde vou sem dinheiro, documentos ou celular? Não conheço nada nessa cidade gigante.

_ Calma, vai dar tudo certo. Assim que ela acordar, vamos resolver isso de uma vez por todas. Não deixarei essas duas destruir tudo o que construí na vida _ a sonolência mal me deixa ouvir direito.

_ O que você vai fazer se elas não colaborarem? _ Ângela indaga, parece temer a resposta.

_ Eu acabo com........ _ A escuridão me envolve, não escuto mais nada.

_________//_________//_________

Acordo sozinha no quarto, é noite, observo pela escuridão a minha volta.

A conversa que ouvi daqueles dois não sai da minha cabeça. Ele disse que se eu e Elisa não colaboramos vai acabar com a gente. Estava quase dormindo, mas, tenho certeza de que foi isso que ouvi.

Quem são eles? Que ajuda podem querer da gente? Porque envolver eu e Elisa? Nunca fiz mal para essa gente, nem os conheço. Sou pobre, não tenho dinheiro, estou desempregada.

Será que minha amiga aprontou algo para esse homem? Rezo para que não. Ela não pode estar envolvida com alguma coisa ilícita, pode? Duvido, minha amiga é uma pessoa integra, de bom coração, Não faria nada que fosse prejudicar alguém.

Quero que esteja bem, encontrá-la, voltar para minha cidade, para minha família, esquecer que um dia pus meus pés aqui.

Não sei que dia é hoje, quanto tempo estou nesse hospital. Minha mãe deve estar preocupada sem conseguir falar comigo. Normalmente me liga o dia todo para saber como estou. Coloca chamadas de vídeo, chama meu pai para falarmos um pouquinho também.

Quando morava de aluguel era assim que acontecia. Trabalhava muito, não podia visitá-los quando queria. Perdi meu emprego, voltei a morar com eles, ficaram felizes, meus irmãos idem. Eles são tudo de mais importante que tenho na vida.

Vão pensar que não quero atender suas ligações, isso sim. Que cheguei na cidade grande, esqueci deles, devem estar tristes sem contato comigo. Meu irmão me pediu para tirar e enviar para ele, fotos de tudo que conseguisse. Ele gosta demais da PLM, insistiu que eu não poderia me esquecer.

Uma lagrima desce solitária pelo meu rosto. Amo minha família, saber que posso nunca mais vê-los me deprime.

Passo horas com a cabeça a mil, cheia de pensamentos sobre o que devo fazer. Não chego a conclusão alguma. Estou só nessa situação, completamente desesperada.

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Comments

Edna César

Edna César

eu não estou entendendo nada

2025-01-05

1

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