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Olho ao redor, parece que estou numa floresta escura. Dou um passo para frente, escorrego, deslizo por uma grama sintética baixa, meu corpo vai rolando, paro no final de uma pequena montanha toda verde.

Fico deitada no chão. Não estou entendendo nada. Olho para trás, não identifico a porta por onde entrei, vejo grades grandes. A claridade é pouca.

Porque me prenderam aqui? Não sei responder.

Me levanto sem saber o que fazer, olho para frente, uma mulher está vindo em minha direção cheia de fúria nos olhos. Ela me empurra, caio sentada, o baque causa dor na minha bunda.

Tento me aprumar, ela levanta um bastão na mão para me atingir, inclino desesperada, a empurro. Recua um pouco, volta para tentar me atacar de novo, reuno força, chuto sua perna a mesma se solta do corpo.

_ Ah _ grito, isso não é uma pessoa e sim um robô, por sinal, muito bem feito. Sem um dos membros, solta faíscas, apita, fecha os olhos, cai na grama.

Apavorada, olhos para as pessoas andando do lado de fora da grade.

_ Socorro! _ Berro. _ Alguém me ajuda por favor.

Elas me olham sem expressão, algumas abanam a cabeça, meu desespero aumenta.

Porque estou nesse lugar? O que está acontecendo? O que eles querem de mim? São perguntas sem respostas.

Mal consigo respirar direito de tanto medo, preciso sair daqui.

Deveria ter ouvido a voz interior que me avisou, ainda em Itacaré, que algo de errado ia acontecer.

Nervosa corro agitando as mãos para o alto tentando chamar a atenção de alguém que possa me ajudar. Não adianta.

Onde estão os rádios comunicadores que a cobra da Ângela me entregou? Procuro, não acho. Devem ter caído das minhas mãos quando escorreguei na grama ou no momento em que aquela mulher robô me empurrou.

Antes que possa ter alguma ideia, outra mulher se aproxima, está com uma espada na mão. Meu coração salta no peito, prendo a respiração.

O que faço agora meu Deus?

Ela ataca, tento me defender como posso, desvio rápido dos seus golpes.

Por milagre consigo tomar o objeto dela, fecho os olhos, dou vários golpes nela sem saber nem se estão acertando.

Tomo coragem para ver, cortei sua cabeça, os dois braços, ela cai, comprovo ser mais um robô.

Onde eu fui me meter meu senhor? Estou horrorizada, não sei onde Eliza está, nem como vou sair daqui para me encontrar com ela.

Olho para o lado, a floresta é toda coberta por uma espécie de lona, alta demais. Analiso minuciosamente, encontro câmeras em vários pontos.

_ Porque estou nesse lugar? Porque me deixaram aqui, sozinha, sendo atacada por esses robôs?

Tenho que sair daqui. Sigo em frente, passo por arbustos, árvores imensas. Adentro na floresta, meu medo aumenta. Preciso achar uma saída, urgente.

Ouço um barulho a minha direta, viro, encontro um homem de mais de dois metros de altura, sem camisa, usa uma calça jeans rasgada, suja, parece um.gigante. Horrorizada noto que vem em minha direção, sua expressão raivosa é nítida.

Isso só pode ser um pesadelo Deus! Bem nitido, mas apenas um delírio noturno.

_ Ah _ grito em pânico. Corro para longe, ele me segue, sinto que vai me alcançar em alguns segundos.

Lágrimas de desespero descem pelo meu rosto. Sigo com todas as minhas forças, minhas pernas doem, o suor acumula na minha testa.

Quem me odeia a tal ponto para fazer uma coisa dessas comigo? Não sei! Sinceramente não entendo nada!

Não tenho vigor para apressar mais meus passos, o vestido me atrapalha bastante, ele me alcança, segura meus braços. Tento me soltar, ele é mais forte, prende meus.pulsos como algemas, contra isso, não tenho chance.

Ele vai me matar!

Quase desmaiando, não penso em mais nada, chuto sua canela. Ele tenta manter o equilíbrio depois do meu golpe, me aproveito, puxo meus braços.

Fujo com a máxima velocidade que consigo, subo uma colina de grama ao meu lado esquerdo. Não sei para onde estou indo, olho para trás, ele não desiste, me persegue. Chorando, aumento os meus passos, depois, verifico que continua em meu encalço.

Com grande esforço coloco o máximo de distância entre nós, respiro aliviada. Inexplicavelmente aparecem na minha frente vários bichos coloridos, parecem do tamanho de uma bola de futebol.

Paro de correr, encaro esses seres de olhos enormes, sem boca, balanço minha cabeça seguidas vezes para confirmar que estou vendo isso mesmo.

Não dá para acreditar! Parece um sonho, o que estou vendo são fatos ilusórios.

Isabela, é um pesadelo! Apenas um pesadelo, tento me convencer, mas o cansaço, dores pelo meu corpo, a exautao que sinto, minha respiração descompassada, a falta de fôlego, me diz que é tudo real, provam que não estou dormindo.

Se aproximam de um jeito nada agradável, constato. Vão me atacar!

Quase perdendo os sentidos de pavor, rasgo a saia do vestido, saio em disparada para o lado direito. Passo da parte em que as paredes centrais são azuis, chego nas vermelhas.

Estranho, essas cores me lembram um tipo de jogo. Não tenho tempo para analisar com calma, raciocinar o significado disso tudo, estou sendo perseguida.

Só quero sair daqui! Sinto dores por todo corpo, as lágrimas estão grudadas no meu rosto, minha garganta arde seca, nao desisto, continuo em frente.

Saio da área vermelha, chego na verde. Não paro! Persisto, chego na amarela. Enquanto passo por essas coisas, concluo que estou num jogo de muito mal gosto. Querem me matar nesse lugar!

Cálculo que estou andando em círculos, ajo por impulso, vou para o centro de tudo vejo um túnel. Fico indecisa se entro ou não. Olho para trás, o gigante se aproxima, os bichinhos o acompanham, não penso mais.

Dentro do túnel minha cabeça fica zonza, tenho vontade de vomitar, meu único alívio é que a criatura enorme não cabe aqui dentro.

Sem alternativa, sigo em frente, não corro mais, minhas pernas estão fracas, cansadas. Quase chegando na saída me deparo com criaturas redondas, pequenas, parecidas com os bichinhos coloridos de antes. Esses são gosmentos, tem bocas que fazem barulhos agudos horriveis. Enlouquecida de angustia, quase desistindo, dou meia volta. O gigante está na outra ponta esperando o menor deslize meu para me pegar.

Vencida, sem esperança, me apoio na parede do túnel, ela é elástica, cede ao meu peso. Tento e consigo abrir, com as mãos, um buraco nela, me preparo para fugir pelo pequeno vão. Me aproveito dessa oportunidade, saio deixando os bichos para trás.

Suspiro me apoio nos meus joelhos muito cansada, mas, consegui.

Meu alívio dura pouco, mal me situo onde estou, aparecem muitos robôs de forma humana vindo atrás de mim.

Meu pranto volta com força, nao aguento mais correr, começo a rezar, imploro a Deus que tudo isso não passe de um pesadelo.

As dores que sinto mostram que é tudo verdade. Estou acabada! Não tenho como escapar!

Desisto! Respiro fundo, entrego os pontos, não vou conseguir me livrar, os robôs são muitos, estão armados.

Desanimada e sem esperanças, olho para o alto, encontro um buraco, parece uma saída para fora desse lugar. Rápido procuro por alguma espécie de escada ou algo que eu possa subir até lá. Não acho nada.

Cálculo mais ou menos a distância, se correr e pular, pode dar certo. Se eu fosse mais alta, seria fácil.

Não penso duas vezes, disparo rumo a parede amarela, miro num gancho que tem nela. A única chance que tenho é conseguir me agarrar nesse objeto. Apelando para as últimas forças que tenho, salto.

Impressionantemente seguro nele, meu corpo balança para frente e para trás. Inclino, pego novo impulso, me jogo pela abertura que quando estava lá embaixo, achei ser um buraco.

Fecho os olhos, sinto meus corpo se rasgando ao passar por ele. É pequeno demais! Agradeço pelo meu físico e estatura, se fossem maior, não caberiam nele.

Caio do lado de fora, fico no chão, preciso recuperer minha completa consciência. Não sei dizer quanto tempo passa.

Tomo coragem de abrir meus olhos, estou encima de uma marquise de laje que ladeia um imenso prédio, verdadeiro arranha céu.

Olho para baixo, a altura é considerável. Penso, não há outro jeito, tenho que descer daqui.

Com muita delicadeza, me dependuro na estrutura de concreto, sinto dores nos braços, não consigo me segurar, sem poder fazer nada me vejo esborrachando no chao.

_ Ah, ahhhhhh _ grito de dor, parece que quebrei meu braço, esfolei minha perna inteira.

Olho para minhas mãos, estão cheias de sangue, volto a chorar.

Quem nesse mundo, foi capaz de armar algo assim para mim? O que estou passando é desumano!

Desajeitada, me levanto usando somente um braço, o outro está muito machucado.

Estou fraca, enjoada, com a cabeça girando. Com dificuldade cálculo que para chegar a entrada da emissora tenho que dar a volta no quarteirão.

Sentido dor pelo corpo todo, principalmente no braço, tento manter ele parado, começo a caminhar para encontrar Elisa. A dificuldade é grande por isso, peço ajuda a algumas pessoas, elas desviam como se eu tivesse uma doenca contagiosa.

Olho para mim, estou completamente suja de sangue, minha roupa está rasgada, as pernas arranhadas, perdi as sandálias nem me lembro onde, ando visivelmente mancando.

Esse povo deve estar pensando que sou uma moradora de rua, uma drogada qualquer que se envolveu em alguma briga.

Me arrasto pelas ruas, o tempo passa, nao encontro os portões da PLM.

Estou perdida, admito.

Não sei que horas são, estou sem bolsa, documentos, celular, tudo ficou com Ângela, aquela maldita mulher. Que ódio! Como fui ingênua! Acredito que me prenderam num teste humano para assistirem minha morte.

_ Boa tarde senhor _ falo para um homem que passa por mim. _ Por favor, poderia me ajudar? _ Ele nem mesmo me olha.

Vai ser difícil conseguir socorro, noto que meu braco começa a inchar.

Meu estômago ronca, me mostra que as coisas sempre podem piorar. Não tenho dinheiro para comprar algo para comer, na verdade tenho, ficou na bolsa que não está comigo.

Continuo a andar sem ser percebida pela sociedade, tento entrar num restaurante, um funcionário me espanta. Me xinga de tudo quanto é nome. Senhor, estou com sangue seco por todo corpo, ninguém liga.

Sem alternativa, continuo andando lentamente, talvez encontre um hospital para que possa receber os primeiros socorros. Meu braço inchado incomoda, a dor é grande mesmo eu tentando não movimenta-lo.

Me arrependo por ter vindo para São Paulo, se estivesse na minha velha e pacata cidade, nada disso aconteceria.

Suspiro alto. Sinto outra tontura, o clima abafado aumenta o suor que escorre pelos meus machucados, eles ardem com o sal. Não sei se aguento mais tempo perambulando sem destino. Meus pés, descalços, doem como nunca imaginei ser possível.

Minha fome aumenta consideravelmente ,entendo porque quem vive nas ruas procuram comida nas lixeiras. É instinto de sobrevivência .

Meu desgaste físico é grande, não sei o que pensar, é como se estivesse delirando.

Passo horas com sede e fome, ninguém me ajuda, não encontro um hospital. Persistente, sigo na direção de uma passarela de pedestres, começo a subir.

_ Isabela Magalhães? _ Ouço o grito de uma voz masculina me chamando. Paro de andar, devo estar imaginando coisas. Continuo subindo a rampa. _ Isabela Magalhães? _ Repete a mesma voz.

Giro meu corpo devagar, meu coração bate forte, sinto medo de ter que voltar para o inferno daquela floresta, com aqueles robôs horríveis.

Encontro um homem alto, bonito, vem apressado na minha direção.

_ Graças a Deus te encontrei _ fala entusiasmado.

Tento me lembrar de onde o conheço, não consigo. Não me esqueceria de um cara com uma aparência dessa nunca, ele é um pecado de gostoso. Isso prova que realmente é um desconhecido.

De repente, um pânico toma conta de mim quando entendo que ele pode está por trás de tudo que me aconteceu.

Dou as costas para ele, começo a correr do jeito que dá, minhas pernas estão muito danificadas, observo que não me obedecem.

Perco o equilíbrio, meu corpo avança sobre a grade de proteção com toda força, o impulso me faz passar por cima dela. Tento segurar, meu braço quebrado não funciona, observo o chão se aproximar, é meu fim, tenho certeza. Vou morrer!

A última coisa que escuto é o estranho gritar meu nome.

_ Isabelaaaaaaaa.

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Comments

Edna César

Edna César

interessante 🤔🙄

2025-01-05

1

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