Capítulo 4

Capítulo 4

Na manhã seguinte

Sol abriu os olhos com dificuldade. A cabeça latejava.

— Maldita ressaca... nunca mais bebo desse jeito — murmurou, com a voz arrastada.

Se arrastou até o banheiro, tomou um banho demorado e, já de toalha na cabeça, se olhou no espelho.

— Como foi mesmo que eu vim parar em casa? — perguntou a si mesma. Não lembrava de nada, só de um beijo completamente fora de contexto.

Vestiu-se, tomou um café bem forte e saiu. A claridade da manhã parecia uma vingança pessoal do universo.

— Argh, quem inventou o sol devia ser processado... — resmungou, colocando os óculos e montando na moto.

Minutos depois, chegou à escola.

— Grazy, eu vou te matar! — gritou assim que entrou na recepção.

A amiga levantou a cabeça do computador, rindo.

— Ué, por quê? Você não se divertiu? E aquele beijão que meu irmão te deu? Estou impressionada até agora!

— Para com isso! — Sol sussurrou, olhando para os lados. — Não foi beijão coisa nenhuma, foi só um selinho de emergência! E, pra constar, ele tá me devendo essa.

O rosto dela ficou vermelho na hora, o que só fez Grazy rir mais.

— Ah, sei… selinho. Tá bom, professora. — Ela piscou. — Mas me diz, chegou bem em casa?

Sol pensou um pouco.

— Na verdade, não lembro... mas, considerando que minha moto tá inteira e eu não tô cheia de curativos, acho que sim.

As duas caíram na risada.

— Agora fala você, dona apressadinha — Sol cruzou os braços. — Rolou alguma coisa entre você e o bonitão?

Grazy fez cara de culpada, mas logo sorriu com um brilho nos olhos.

— Rolou, sim. Ai, Sol… ele é um sonho! Nunca fiquei com um homem tão maravilhoso.

Sol gargalhou.

— Você não perde tempo mesmo, né, sua danada?

— Perder tempo é coisa de gente indecisa! — respondeu Grazy, dando uma piscadinha.

Sol balançou a cabeça, rindo, e logo lembrou:

— Mudando de assunto… minha mãe ligou ontem à noite. Com toda a confusão do beijo, esqueci de te contar.

— Eita! Como ela tá? — perguntou Grazy, curiosa.

— Bem, graças a Deus. Ligou pra me convidar pro casamento.

Grazy franziu a testa.

— Casamento? Que casamento?

Sol se debruçou sobre o balcão.

— Adivinha.

— Nem ideia!

— O da Laisa.

— Não acredito! Aquela pirralha? Ela deve ter o quê… dezesseis anos?!

Sol revirou os olhos.

— Dezoito, recém-feitos! E vai se casar! Eu tô em choque até agora.

Grazy arregalou os olhos.

— Menina, que pressa é essa? Ainda tava jogando Barbie outro dia!

Sol riu.

— Pois é. Mas se ela quer assim, paciência.

— E você? Vai ao casamento?

Sol respirou fundo e bufou.

— Ainda não sei. Desde que fui abandonada, minha família vive me comparando com os outros. É insuportável.

— Verdade — concordou Grazy. — Eles não superaram, né? Sempre relembrando o passado...

— Sim! — respondeu Sol, cruzando os braços. — Foi por causa daquele infeliz que eu vim pra cá, pra fugir dele e da família perfeita que tem.

— Já faz o quê? Uns cinco anos?

— Sete. — O tom dela ficou mais baixo. — Mas ainda dói. Principalmente quando o vejo com a esposa perfeita dele. É difícil esquecer.

Grazy saiu de trás do balcão e abraçou a amiga.

— Ei… você ainda vai encontrar alguém pra cuidar desse coração teimoso.

Sol sorriu, tocada pelo carinho.

— Espero que sim. Mas, enquanto isso, vou pra sala. — Apontou pro corredor. — Pelo barulho, acho que meus alunos já estão a trezentos e vinte.

Grazy riu.

— Vai lá, professora! Eu já escuto a bagunça daqui!

Sol pegou o material e seguiu pelo corredor, ainda rindo.

Ressaca, beijo inesperado, casamento da irmã... aquele dia prometia.

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