Capítulo 2
Sete anos depois
— Como assim, mãe? O casamento da Laisa? — Sol arregalou os olhos, achando ter ouvido errado.
— Isso mesmo que você escutou, Mirassol. Sua irmã caçula vai se casar daqui a exatamente três meses. E nada de inventar desculpas, ouviu bem? — Dona Carmelita respondeu com firmeza.
Ela conhecia a filha. Se não pressionasse, Sol arrumaria um motivo para não ir de jeito nenhum.
— Ok, vou tentar ir. Estou com muito trabalho na escola, mas prometo que vou tentar. — Sol respondeu, sabendo que, se não dissesse o que a mãe queria ouvir, ela seria capaz de aparecer na sua porta só pra puxar sua orelha.
— Por favor, filha, faça um esforço. Você está tão longe… Eu morro de saudade. Se não vier pela sua irmã, venha por mim — a mãe implorou com doçura. — E não se esqueça: eu te amo muito. Se eu pudesse voltar ao passado, nunca teria deixado aquilo acontecer com você.
O tom triste na voz de Dona Carmelita a fez suspirar. Sete anos se passaram desde o rompimento com Alberto, mas a ferida ainda existia.
— Eu sei, mãe… Mas o passado não dá pra mudar. Eu também te amo. Vou me esforçar pra ir ao casamento da Laisa, eu prometo. Tchau.
— Tchau, minha querida. E me liga de vez em quando! Quero saber se está bem.
— Pode deixar, mãe. Tchau.
Sol desligou o celular e se jogou na cama, cobrindo o rosto com o travesseiro.
— Não pode ser... Minha irmã mais nova vai se casar! — murmurou, meio rindo, meio incrédula. — Ela acabou de fazer dezoito anos!
Logo imaginou a tia Sônia dizendo com aquela voz irritante:
“Tá vendo, Mirassol? A Laisa já vai casar, e você aí, solteirona!”
Sol pegou o travesseiro e enfiou no rosto, soltando um grito abafado — um grito de raiva e alívio ao mesmo tempo.
Sete anos ouvindo piadinhas nas festas de família, sete anos sendo “a que ficou pra titia”. Enquanto os outros exibiam filhos, maridos e carreiras, ela levava uma vida tranquila — e solitária — na pequena cidade de Riacho Rosa.
O celular tocou de novo. Sol pegou o aparelho e viu o nome da amiga piscando na tela.
Greasy Hana.
— Oi, Grazy! Tá com algum problema? — perguntou rindo.
— Minha nossa! Até parece que eu só te procuro quando tô com problema! — reclamou a amiga, bufando do outro lado.
Sol gargalhou. Grazy era uma ótima pessoa, mas juízo não era exatamente o ponto forte dela.
— Tá bom, desculpa! O que houve?
— Nada, eu só quero te chamar pra sair hoje.
— Hoje? — Sol arqueou a sobrancelha. — Grazy, é quarta-feira! Amanhã eu tenho que levantar cedo pra dar aula.
— Ah, para, Sol! — insistiu a amiga. — O Breno tá aqui em casa e trouxe um amigo. Ele quer conhecer um pouco da vida noturna da cidade.
Sol lembrou de Breno, o irmão de Grazy. Lindo, simpático… e metido. Um verdadeiro mauricinho.
Se o amigo dele estava com eles, provavelmente era bonito também — Grazy nunca chamava Sol pra sair quando o convidado não valia a pena.
— Tá bom, eu vou — cedeu, rindo. — Mas fala pro seu irmão não me deixar segurando vela, igual da última vez.
Ela lembrou da cena: Grazy sumindo com o namorado, Breno desaparecendo, e ela… sentada num canto, bebendo sozinha até a madrugada.
— Ah, eu prometo! — disse Grazy, rindo. — O Breno não vai sumir dessa vez, juro!
Sol suspirou, já se arrependendo de ter aceitado.
— Assim espero. Vou me arrumar e te encontro lá no barzinho.
— Perfeito! Te adoro, amiga! Beijos! — E desligou antes que Sol respondesse.
Sol riu sozinha.
— O que eu não faço por você, sua doida…
Levantou-se e foi até o espelho.
Ajeitou os cachos, ainda um pouco rebeldes, e suspirou.
Grazy e Breno eram filhos de um brasileiro com uma sul-coreana — uma mistura que deu certo. Ambos tinham olhos verdes intensos herdados do pai, e Sol achava os dois simplesmente lindos.
Mal sabia ela que aquela noite mudaria mais do que apenas sua rotina pacata em Riacho Rosa.
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Atualizado até capítulo 42
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