Capítulo 4

O nome que apareceu no visor do celular era o de Leonel, ele era o melhor amigo de Igor no exterior, ele estava ligando através do WhatsApp, Igor esfregou suas têmporas e atendeu aquela ligação. Assim que aceitou a chamada, o barulho alto de música dançante, veio do outro lado.

— Você está em uma boate de novo? Está muito barulhento.

— Espere — respondeu falando bem alto.

Igor tirou o aparelho da orelha, ainda permaneceu barulhento por alguns segundos, até ele perceber que o barulho da música havia ficado cada vez mais baixo, então pôde ouvir novamente a voz de seu amigo.

— Eu te mandei várias mensagens, mas não me respondeu, está tudo bem meu amigo? — sabia que ele tinha voltado para casa e estava preocupado.

— O que poderia dar errado quando se trata da minha família? Eu vi meu avô e ele está bem de saúde, acho até que ainda pode viver mais uns setenta a oitenta anos — respondeu de forma irônica.

Igor contou para seu amigo o que aconteceu na mesa de jantar, falou como foi ultrajante a intimação de sua família para ele, após ouvir aquelas coisas, seu amigo também se pronunciou.

— Cara, que ridículo! Qual o problema com sua família? Como podem querer usar sua felicidade como moeda de troca, para conseguir benefícios? Quer saber, seria melhor ter seguido seu irmão de volta para a família De Luca, do que ficar à mercê desse bando de abutres.

Naquele momento, Igor não tinha como discordar de seu amigo, a verdade, era que ele tinha um irmão gêmeo, quando sua mãe faleceu eles tinham sete anos. A família De Luca e a família Rossi, que deveriam ser sogros, começaram várias disputas, incluindo a guarda das duas crianças.

Ao final daquela disputa, o irmão de Igor foi com seu avô materno, ele chegou até a mudar de nome e sobrenome, passando a se chamar Marcelo De Luca. Como era mais novo por alguns minutos que seu irmão, ele permaneceu na família Rossi, sendo assim o segundo filho da família, mas em seguida foi enviado para fora do país.

Igor e Leonel se conheciam a muitos anos, seu amigo sabia de todos os problemas de sua família, naquela situação não foi diferente, ele ficou do lado de seu amigo e quase saltou pela tela do celular, quando soube o que tinha acontecido, mas uma dúvida surgiu em seu coração.

— Qual o nome mesmo do seu irmão mais novo? Por que seu pai e seu avô não o deixam se casar no seu lugar?

— Jhone — respondeu, mas seu pensamento foi em seu pesadelo, que reapareceu em sua mente.

— A reputação do terceiro filho para ele é confortável, mas é você quem tem o sangue da família Rossi, como é irônico, seu irmão foi para outra família há muito tempo e agora eles te empurram para a família Moretti, seu avô ficou caduco? Todos esses anos valorizando uma pessoa que nem mesmo tem o sangue dele, será que ele também vai deixar tudo para esse Jhone? — estava indignado do outro lado da linha.

A última frase foi algo dito sem pensar por seu amigo, mesmo que não tenha sido intencional, Igor levou a sério o que ele disse, naquele momento, mais uma vez seu sonho e a realidade se fundiram. No sonho, Jhone havia mesmo ficado com a fortuna da família, seu avô o declarou oficialmente como membro da família e ele até mudou seu sobrenome para Rossi.

Francesco era uma pessoa muito rigorosa, como ele poderia entregar a empresa da família para alguém que não tinha seu sangue? Mais uma vez seu sonho veio em sua mente e ele teve um pensamento inquietante.

— Oi, Igor! Por que não está falando nada?

— Estou bem, estou aqui.

Igor reuniu seus pensamentos e olhou para a sua mala feita no canto do quarto.

— Reservei um voo para as três horas da tarde, te vejo quando voltar amigo.

Ele estava mais que decidido naquele momento, não era um fantoche para ser conduzido e manipulado por sua família, estava claro que não havia um lugar para ele naquele lugar, e ainda trataram seu casamento como uma transação comercial, era óbvio que ele ficaria o mais longe possível.

— Então te espero meu amigo, quando chegar vou alugar um bar que inaugurou, ele fica fora do centro da cidade, assim podemos espantar essa sua má sorte.

Igor sorriu e o respondeu — Leonel, vai logo para perto da sua garota e não me use como desculpa.

O sorriso se desfez assim que ele encerrou a ligação, era fato que ele não queria tanto a herança da família, naquele momento tinha algo que ele desejava mais, que era confirmar suas suspeitas. Dez minutos depois, quando ele desceu, já ouviu a repreensão de seu avô.

— Dormindo até essa hora? Está mesmo acostumado a ser preguiçoso no exterior.

Um novo dia, uma nova bronca, os cantos dos lábios de Igor se ergueram, mas antes que ele pudesse refutar, alguém interveio por ele.

— Vovô, o Igor acabou de voltar, ele ainda não se acostumou com o fuso horário, por isso não brigue com ele, afinal, ele está em sua própria casa.

A pessoa que o defendeu foi Jhone, ele serviu uma xícara de chá ao velho, antes de encontrar os olhos de Igor de forma amigável.

— Igor, venha e sente-se, eu saí ontem para fazer algumas coisas e acabei não estando aqui para te receber — falou com um leve sorriso.

Igor sorriu com indiferença para ele e se aproximou da mesa de jantar, ele e Jhone nunca tiveram uma relação ou foram próximos, ele começou a observar o outro, em todo aquele tempo, somente teve uma impressão superficial de seu meio-irmão.

O temperamento de Jhone seguia o de sua mãe, sua fala diária era doce e gentil, eles conseguiram persuadir o velho, não só para aceitá-lo, mas também o chamavam de terceiro filho e os empregados da casa o tratavam com respeito, mas no sonho que teve na noite anterior, seu doce irmão era mesmo uma pessoa implacável.

Como Igor não conseguia esquecer aquele sonho, apenas restava prestar atenção aos acontecimentos, para ver qual parte era um sonho e qual parte de encaixava na realidade.