O bailarino ao meu lado

Os primeiros raios de sol tímidos invadiam o quarto, o vento gélido abria a única janela que não fechava da pequena casa; juntos na única cama, Edu e Pedro permaneciam adormecidos, mas o sopro gelado obrigara Edu a despertar em busca de calor; em um estado automático, ele se aconchega e puxa ainda mais para perto, o corpo do bailarino ao seu lado, ressonando levemente, e logo Pedro se aconchega em seus braços.

O tempo passa, e Edu entreabre seus olhos lentamente, percebendo o garoto a dormir suavemente em seus braços; assustado, ele levanta abrupto, derrubando em um movimento proposital, o corpo do bailarino ao chão.

— Aí! Que merda! — Pedro reclama — Bom dia para você também!

— A culpa foi sua!

— O que eu fiz dessa vez? — Ele fala sonolento, já se levantando

Pedro esfrega sua nuca, e logo senta novamente na cama.

— Você costuma acordar todo mundo, gentil assim?

— Só os especiais — Edu sorri sarcástico.

— Engraçadinho! Pode dizer o que quiser, vai acabar gostando de mim, mais cedo do que pensa.

— Me avise quando esse dia chegar.

Edu se levanta e caminha até o banheiro, fazendo sua higiene e logo saí para começar o seu dia; em SleepVill, o trabalho não era obrigatório, mas quem optava por fazê-lo, trocava suas horas de trabalho, por regalias a mais, como chuveiro com água quente ou até mesmo uma TV; e por sorte só faltavam apenas cinco horas, para Edu poder trocar por uma. A mesma custava 1460 horas.

— Eu tenho que trabalhar! Você fica, e não arreda esse pé daqui de jeito nenhum. Só abre a porta se você tiver certeza que é a Jenny. Entendeu?

— Sim senhor! — Pedro suspira enraivecido — Mas o que você faz?

— Eu sou pedreiro! — Fora só o que ele disse

Edu logo virou as costas, prometendo voltar antes das duas, passou pela porta, e deixou Pedro sozinho na casa. O bailarino se dirigiu até a pequena geladeira que tinha do cômodo, vendo que não havia muito para se comer ali, então após terminar sua higiene, o mesmo retira sua blusa, expondo seu tronco magro levemente definido e agora desnudo; afasta os obstáculos que atrapalhavam seu caminho, deixando o chão completamente livre para si, e começa a se alongar por alguns longos minutos.

Sem que houvesse música nenhuma, Pedro mentaliza a canção que dançará em sua coreografia, só tinha cerca de três meses para entrar em forma, a tempo de participar da peça que estréia no final do ano, Pedro tentaria seu primeiro papel como protagonista, e desde que Romeo e Julita fora anunciado, ele não parou de treinar, até mesmo adiou sua entrada na SRU, para poder participar este ano.

Mas o que Pedro não sabia, era que para suas ações, haveriam consequências; consequências devastadoras.

O bailarino, dançou, dançou horas a fundo, sem parar, e apesar de não ter uma Julita para treinar consigo, mentalizou de olhos fechados cada detalhe da coreográfica, como um verdadeiro mestre, não, de fato, ele não precisava de olhos para isso; dançava com o coração, era o que amava fazer, não queria ser geneticista como o pai. Almejava o estrelato como bailarino.

Seu corpo ia e vinha suavemente, suas mãos contornavam o ar, como os mais precisos pincéis, nas mãos de um gênio da arte; seus pés deixavam o solo, flutuavam pelas nuvens da dança e logo repousavam elegantemente no chão frio daquela casa, a poeira o acompanhava, dando um toque estranhamente bonito ao ambiente, que agora resplandecia ao presenciar a perfeição que se movia sem parar.

As horas passaram sem que Pedro percebesse, o suor que escorria por sua pele, denunciando seus esforços para atingir a perfeição que ele próprio pregava em sua mente. E mesmo no pequeno cômodo que era a casa, Pedro não teve problemas para ensaiar ali, apenas evitava a cama.

Já eram duas e dez, quando a porta se abriu e Edu paralisou no lugar, vendo aquele corpo parcialmente desnudo se mover a sua frente; os olhos do moreno surfaram por cada detalhe, e Pedro parou abruptamente, quando percebeu sua plateia particular.

— Ah... me desculpa! — As bochechas do bailarino ganharam um tom avermelhado em instantâneo

A porta se fecha atrás de Edu.

— Não me disse que era uma bailarina — Edu sorri

— E você não me disse que era um idiota.

Edu não disse nada; apenas fixou seus olhos sobre o corpo magro do bailarino, e caminhou sem falar uma única palavra. Pedro se perdeu nas confusões de seus pensamentos, ele não entendia uma única ação do moreno que agora lhe dividia a cama; Edu era intenso de mais para ele; não importava qual sentimento se passa-se na mente distante de Edu, ele nunca esboçava uma única expressão em sua linda face; o que impedia Pedro de compreender o mesmo, era impossível saber o que Edu estava a pensar.

— Você vai continuar dançando ou vai tomar banho agora?

Mas Pedro não respondeu.

— Ei! — Edu grita chegando perto da orelha do bailarino

Pedro se assusta, mas paralisa ao se deparar com a face do mesmo tão perto de si.

— O que deu em você? — Edu fala novamente sem ser ouvido

A mente de Pedro apenas focava nos lábios de Edu, se moviam tão atraentes, mas as palavras não eram compreendidas; o moreno se manteve a espera de uma resposta que não viria tão cedo, eles se olhavam intensamente; Edu lentamente cessava a distância entre eles, enquanto Pedro caminhava para trás em busca de saída, mas é barrado pela parede, que se mostrou mais próximo dele do que o esperado.

Agora encurralado, Edu posiciona as mãos na parede; se aproxima levemente dos lábios do bailarino, mas sem encostá-los.

— Não me faça falar de novo! — Edu sussurra próximo a Pedro.

— F-fa-lar o q-que? — Pedro responde baixo.

Edu da um leve sorriso de lado, enquanto passa seus olhos por cada detalhe da face do bailarino. Sua respiração quente, sua testa suada e seus fios colados a pele molhada, seus lábios entreabertos; tão convidativos, como se implorassem para serem selados por ele; mas Edu não fez nada, apenas se virou, caminhou até a cama, se sentando nela e falou.

— Vá tomar banho!

E ele foi, sem dizer uma única palavra...

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